Capítulo 11

63 19 4
                                    

O chacoalhar da carruagem fazia Dixon Blakwand sentir seu enorme estômago embrulhar. Um corpo gordo era tudo que eu precisava agora, pensou amargurado.

Braken estava sentado à sua frente, lendo um pergaminho e franzindo o cenho de vez em quando. O pupilo não precisaria mais viajar até a longínqua Academia, já que o enorme alquimista havia levado seu corpo até Gareen. Para onde estamos indo então? Ele começou a desconfiar que o Mestre tivesse algum plano secreto, algo que contaria apenas em cima da hora.

— Estamos indo para o leste? — Dixon perguntou.

— Sim. — disse o Mestre. Em seguida sorriu. — Relaxe, homem. Tenho uma surpresa para você. Uma surpresa que você jamais imaginaria.

Uma surpresa? Existiam surpresas boas e ruins, e Dixon duvidava que algo gentil pudesse ser oferecido pelas mãos de seu mestre. Não, se repreendeu, estou sendo estúpido. O Mestre é leal.

Braken estendeu o pergaminho para seu pupilo.

— Leia.

Dixon Blakwand pegou o pedaço de papel e se pôs a ler. A caligrafia era delicada e perfeitamente desenhada, como um dos livros que Dixon lera quando ainda era Stephen Loren, na biblioteca do velho Frank Holoman. Era uma época boa aquela, onde a inocência ainda fazia parte de sua vida e sua preocupação era apenas em manter-se limpo e arrumado.

Porém, e mensagem estampada no papel fez essas lembranças desvanecerem em segundos.

— Uma inquisição? — Lewrence sussurrou.

— Era de se esperar. — disse o Mestre. — O Hean Dariell Waldman é um homem severo e devoto. Faz parte de uma dinastia assombrosa de reis, príncipes, chanceleres, ministros... e agora, hean. Muitos kravanis usam o poder de modo leviano, usando suas artimanhas para completarem objetivos de valores supérfluos. É claro que uma hora isso irritaria os Deuses, ou o Clero, nesse caso.

Mesmo quando era Stephen Loren, ele ouvira as histórias sobre os homens que surgiram do Oriente em seus navios gigantescos. Rapidamente essas histórias deixaram o jovem Stephen interessado nos conhecimentos dos Orientais...

Os livros diziam que há milhares de anos uma frota enorme surgiu no Mar das Sombras, dezenas de navios com seus estandartes vermelhos balançando com o vento. Durante dezenas de anos os Orientais viveram nas terras de Mystral, compartilhando suas frutas estranhas, seus costumes esquisitos e idolatrando um deus sombrio chamado Shabal.

Até que Kravan, o imperador dos Orientais, apresentou algo que ninguém estava preparado: a necromancia. Naquela época não havia hean. Apenas reis que viviam em seus reinos independentes, guerreando ou aliando-se entre si. Mas aquilo era algo novo, algo estranho... algo maligno.

Uma guerra sangrenta aconteceu, trazendo Mystral ao fundo do poço. Os Orientais eram a maioria, e tinham a morte ao seu lado. Logo que descobriram que não podiam matar aqueles homens de pele escura, os reis do Ocidente embainharam suas espadas e se renderam a Kravan.

Porém, algo que os Orientais não esperavam aconteceu.

Vengar, o Santo, que era rei de Asarantyr, trouxe todo seu exército, unindo sua força com o povo do reino gélido de Mürth, e cercou o reino de Sardoria, deixando os Orientais sem ter o que fazer. Vengar sabia que não poderia matar aqueles homens. O ritual conhecido por Shabalis protegia o kravani da morte, transferindo-a a seu causador.

Então ele usou de sua astúcia para prender os Orientais em uma enorme prisão que construíra na Ilha do Grito, a prisão de Balsemar. Juntos, os povos do Mundo Conhecido enviaram os Orientais para onde vieram, mantendo os mais fortes e poderosos sob o solo da maior prisão já construída.

Foi assim que Vengar, o Santo foi nomeado como o primeiro hean, que no Idioma Antigo quer dizer soberano. O reino de Sardoria foi reerguido, sendo batizado como o Reino Santo, a superpotência mundial, lar dos Deuses e reino soberano aos demais.

Além de expulsar os Orientais do Ocidente, Vengar vetou a cor vermelha, considerando-a demoníaca. Para ele, toda prova de devoção a deuses desconhecidos deveria ser retribuída com fogo e caça.

E parecia que agora, centenas de anos depois, seu sucessor, Dariell Waldman pensava da mesma forma.

— Nós precisamos tomar alguma atitude. — disse Dixon Blakwand.

— E nós vamos. — o Mestresuspirou. — É por isso que estamos indo até a capital do Reino Santo.

— Para quê? — quis saber o pupilo.

— Eu lhe disse que há três nomes na lista. — Braken sorriu. — Dois já foram. — ele se curvou, deixando seu rosto frente a frente ao de seu pupilo, e sussurrou: — O último da lista é o Hean Dariell Waldman.

O Bardo na TavernaOnde histórias criam vida. Descubra agora