Como tudo começou

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             Larissa narrando:

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             Larissa narrando:

  Já estava bem tarde, dou mais uma olhada no despertador e as horas não passam. Nessa última semana dormir havia se tornado uma tortura, pois todas às vezes que eu fechava os olhos o mesmo pesadelo passava como filme na minha cabeça e por mais que eu tentasse acordar, somente quando acabava, eu tinha controle do meu corpo.

  Tento ficar acordada, mas o silêncio da casa me transmite uma tranquilidade... permitindo que o sono me ganhe. Tento memorizar uma nota mental e me asseguro por um tempo de que isso seria o suficiente. "É só um sonho ruim, não deixe algo que não aconteceu te assustar assim tão fácil". Mas o fato é que o meu medo se baseava na possibilidade disso vir a acontecer.

  "Saio de casa escondida e meu corpo automaticamente percorre o caminho até a árvore que demarcava a entrada da reserva, é como se eu não tivesse o completo controle sobre minha ações, e só restava a minha mente tentar assimilar o que aconteceria em seguida, mas tudo parecia ser mais instintivo e menos racional. Sinto meu sangue esquentar, meus ossos já não são mais os mesmos... agora só o azul dos meus olhos era o mesmo, mas em outra forma. Já rodeada de árvores frondosas, caminho em direção ao rio, a floresta iluminada pela Lua Cheia estava mais convidativa, parecia discretamente abrir o caminho que eu deveria seguir. Meus olhos fitam a água por alguns segundos até que eu perca pouco a pouco o poder de discernir o real do imaginário.
Escuto ao longe uma voz abafada como se algo tentasse calá-la, me esforço em vão tentando ouvi-la, minha mente tenta lutar para assumir novamente o controle do corpo, mas algo semelhante a chute no estômago impede que eu continue resistindo, não consigo respirar mesmo com toda a minha atenção voltada para os pulmões. Sinto meu corpo tremer, a dor é fina e começa internamente sem lugar exato, mas ela sabe se fazer presente a medida que aumenta se tornando aguda e quase insuportável. Não ouço mais nada, nem a voz, nem as batidas rápidas e descompassadas do meu coração e estranhamente no meio do silêncio completo eu não sinto mais medo. Até que tudo volta ao normal como se não tivesse sido mais que um lapso. O zumbido do vento, o som das folhas mexendo e se despreendo dos galhos o canto e os ruídos mais peculiares de criaturas desde a mais singela até a mais robusta me trazem de volta. O ar preenche meus pulmões, as batidas ficam mais regulares, volto a sentir o peso sobre as minhas patas, meus olhos revelam o mesmo rio e as mesmas árvores. Toda a paz que aquele ambiente familiar me trasmite parece se exaurir e dar espaço para uma atmosfera pesada e sufocante. Eu não estava sozinha. Uma respiração mais lenta e mais pesada que a minha parece ressoar nos meus ouvidos, e agora substitui o que antes eu ouvia. As batidas do seu coração eram descompassadas e se juntavam as minhas formando uma sintonia quase perfeita, mesmo não sabendo quem estava ali eu não me sentia ameaçada, não tinha medo da sua presença, do seu cheiro e da distância que diminuía entre nós.

  Ouço o barulho das suas patas contra a grama úmida estalando um ou outro graveto pelo caminho, ele não tinha a pretensão de se esconder e por isso não calculava onde seria seu próximo passo, ele queria se fazer ouvido, queria que eu soubesse que ele estava ali. Isso me deixava ainda mais ansiosa, como eu nunca havia ficado antes, fechei os olhos ao invés de buscar os seus, deixando me confundir naquela atmosfera estranha, eu queria ver mais, mas você mesmo sem ter olhado nos meus olhos já começava a me ensinar que havíamos uma conexão que não sabíamos explicar, desejávamos o outro, precisávamos do outro e isso era doloroso e bom ao mesmo tempo, tudo em torno disso se tornava confuso, mas não era difícil de aceitar, porque era natural, instintivo e não racional ou algo que pudéssemos escolher e era ai que morava a dor.

Meu companheiro é o AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora