A garota de cabelo verde

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HADES

O metal rasgando a pele pálida e inundando tudo de vermelho fez Hades fechar os olhos antes que suas lágrimas tivessem a oportunidade de descer. Mostrar fraqueza não era uma opção, nunca foi. Ardia respirar, cada tentativa só tornava tudo mais doloroso, a garganta apertada de Hades tornava os gritos apenas uma lufada de ar quente misturada ao som de suas tentativas desesperadas de sugar o ar.

Olhos verdes se abriram em meio a escuridão. Tão alerta e assustados quanto os olhos da garotinha em seus pesadelos. O rosto, entretanto, não era nada além do puro frio, pálido, banhado de suor, fazendo fios de cabelo verdes grudarem por todo o rosto. Era apenas outro pesadelo, outra lembrança de sua mãe em toda sua glória e excêntricidade de machucar emocional e fisicamente.

A infância não era bela, não passava de terror e dor. Para Hades crescer foi bom em diversos sentidos e horrível em outros mil, crescer não significava que a dor iria parar. Crescer não significava criar asas e voar, não ainda.

A mãe, religiosa devota ao extremo, tinha a certeza de que ela era filha do demônio. O fato era que, Hades não tinha objeções quanto a ser filha de um demônio.

Para as pessoas imaginárias de sua cabeça, ela gostava de explicar e explicar, uma tentativa de entender toda a informação jogada na garotinha de seis anos.

Seis anos, essa foi a idade que seu primeiro rompante de coragem aconteceu, não tão violento quanto Hades gostaria de imaginar. Uma pergunta, uma simples pergunta que obteve respostas. Queria que essa fosse mais uma das perguntas deixadas ao vento para voarem esquecidas pelo tempo, mas não, ela obteve a resposta que queria e não obteve a resposta que queria.

Em suas lembranças, Hades não poderia dizer que se reconhecia, uma criança de cabelo escuro, longo e embolado pior que qualquer nó - pentear o cabelo de sua filha certamente era a última das preocupações de sua mãe - pequena, magra e colorida com verde e roxo. Com toda coragem que ela havia passado semanas para reunir, perguntou se a mãe a amava.

Amor, palavra engraçada.

O fato era que, a pergunta obteve a resposta que mereceu, tão lunática que, anos depois, Hades ainda lembrava da carranca da mãe, do frio que percorreu seu corpo com o arrependimento e dos meses procurando significado de palavras não conseguia entender

Eram tempos, em que, sim, sua mãe não era tão poderosa quanto parecia - um verdadeiro choque para seu eu de seis anos - um tempo em que ela pertencia ao pai, assim como a mãe, a casa e um par de brincos de esmeralda que era herança. Era simples, ele apostou e perdeu o patrimônio. Uma mulher, a filha adolescente e um par de brincos com uma casa velha

Hades ainda lembrava das palavras que na época não entendeu.

Ele, seu avô, voltou com três homens em uma noite de lua vermelha, para sua mãe aquele foi o momento em que descobriu a maldade do mundo, para Hades, foi o momento que percebeu que o mundo inteiro era cruel. A mãe foi entregue ao homem, nada de conto de fadas, nada de o príncipe ajudar a princesa, nada de amor.

O Demônio usou ela até que ela já não fosse tão interessante. Naquela noite sua mãe disse muitas coisas, mas uma das coisas mais difíceis de entender foi que aquele homem - que Hades supunha que deveria chamar de pai - se transformou em algo de quatro patas e olhos vermelhos com um par de chifres longo e escamoso.

A mãe provavelmente fantasiou muitas coisas para explicar a crueldade, porém, essa parte, a parte cruel estava marcada nas cicatrizes por todo corpo de Alice, delirante ou não. Hades se lembra da coisa que foi mais marcante para uma menina de seis anos que não entendia a maioria das palavras ditas, a mãe fugiu.

Hades: Princesa demônioOnde histórias criam vida. Descubra agora