HADES
Sorrisos poderiam ser ameaçadores, porém Hades tinha certeza que seu sorriso não era tão ameaçador quanto o carro todo preto cheio de homens desconhecidos levando ela para um lugar desconhecido. Repensar sua escolha feita em um momento de adrenalina não iria fazer o tempo voltar, o que criou a aceitação de que sim, ela iria morrer da pior forma possível. Tudo isso graças a sua gigantesca estupidez.
Ela apenas poderia se parabenizar por fazer o que a mãe havia tentado, e falhado, fazer por anos.
O carro, cercado por árvores, adentrava cada vez mais a floresta que apenas se tornava mais e mais densa. A estrada se transforma em algum ponto em uma estrada de lama.
A palavra 'desconfortável' era pouco para descrever o clima dentro do carro. Hades já havia renunciado a qualquer apego à vida. Apego que antes era forte, desde pequena a vontade de se manter viva atropelou o maltrato da mãe. O sobreviver, que nas mãos da mãe nunca pareceu nada além do natural, repentinamente se tornou cansativo como ela nunca havia notado. Aqueles momentos felizes que as pessoas sempre pareciam colocar como motivo de vida, eram tão poucos que foi como levar um chute nas bolas. Querer viver foi o problema desde o começo, era muito mais como ganância que um verdadeiro apreço pela vida.
Alguém poderia ser ganancioso sobre viver? A pergunta se formou em seu coração como se um peso sumisse de todo seu corpo. Não havia uma resposta para aquele sentimento, há muito tempo ela não sentia nada além de raiva e medo, entretanto, foi como respirar profundamente depois de muito tempo sem ar. O gosto da verdade poderia ser muito mais libertador do que ela achava.
Lentamente o carro foi parando, tirando a de toda uma imersão que ela sabia, não havia terminado.
A mansão de tijolos escurecidos parecia apagar as cores existentes, empalidecendo até o verde das árvores. O mais curioso de tudo, eram as poucas árvores envolta da mansão que pareciam murchas, definhando. Perfeito, o clima estava tão macabro quanto um filme de terror. O vibrar do pequeno aparelho — Celular que ela poderia ou não ter roubado — em seu bolso esquerdo interrompeu qualquer outra análise que Hades pudesse fazer da casa antes mesmo de sair do carro. A música, para a ironia da situação, trilha sonora um filme de terror, mais especificamente a de SAW, era uma personalizada para um contato que ela conhecia muito bem. Alice, que também correspondia ao posto de mãe desde que havia expelido Hades boceta afora.
— Ligação direta para o inferno, como posso lhe ser útil em mais um dia glorioso de dor e sofrimento? — Saltando do carro, Hades não se preocupou muito em dar a devida atenção a mãe, encantada com o fato de que sim, uma das criaturas que ela amavelmente chamou de 'criado para matar aquele que deveria ter uma cicatriz enorme no rosto, porém, havia se curado assustando a merda para fora dela' ou simplesmente 'criado para matar que deveria ser cicatriz assustadora'
O olhar estranho que o homem lhe lançou não foi nem de longe tão marcante quanto o que recebeu ao abrir a porta para ela. Educação de qualquer tipo realmente parecia um passo para outro mundo. Ela se perguntou se ele havia esquecido de que ela atravessara uma faca em seu rosto a poucas horas.
— PESTE! FILHA DO DIABO! — As pálpebras pálidas se semicerraram conforme afastava levemente o celular do rosto. A respiração alta misturada aos gritos descontrolados era apenas mais um raio de sol ao dia. — NUNCA VOLTE! DEMÔNIO ENCARN- — Desligando a ligação, o silêncio reinou. Hades apenas aceitou, ignorando qualquer pergunta racional que surgisse. Alice era assim desde sempre, aquela necessidade de espalhar o ódio ainda era a mesma que havia criado feridas incicatrizáveis em Hades. Há muito tempo não existiam lágrimas ou qualquer tipo de injustiça, não, de todas as coisas Hades entendia muito bem de que não tinha culpa alguma de ter nascido. O lado de fora do carro era tão silencioso quanto dentro, a única diferença era que eles tinham a opção de encarar Hades enquanto escutavam os gritos pelo pequeno aparelho.
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Hades: Princesa demônio
FantasíaPRIMEIROS CAPÍTULOS EDITADOS E RESTANTE ESTA COM A ESCRITA DE MEUS 14 ANOS Garota indesejada. Filha do demônio, essa era a resposta que Hades havia recebido ao perguntar pelo amor da mãe aos seis anos. Diferente da garotinha de seis anos com o corpo...