Capítulo 3 - A tenente-coronel revelada

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-- Arítes.

-- Sim, comandante!

Arítes passava pelo corredor quando minha mãe a abordou.

-- Acompanhe-me.

Arítes prontamente acompanhou minha mãe, porém, ao entender que a comandante-general Êlia entraria em seu aposento particular, retesou-se apreensiva. Ela sabia se tratar de algo com relação a mim e meu treinamento. Obedeceu e entrou no quarto, logo após minha mãe.

A comandante Êlia foi até a mesa, pegou uma jarra de vinho e depositou o líquido escuro em duas taças. Virou-se e entregou uma delas nas mãos da Tenente-Coronel.

-- Como foi hoje?

Nos quinze dias após começar meu treinamento, esta era a primeira vez que minha mãe interpelava Arítes sobre as minhas condições.

-- Ela está melhorando sua técnica a cada dia. No arco ela me surpreendeu, pois de longe é melhor que eu. Na espada ela ainda está aquém, mas sua técnica e habilidade são muito boas. Já na luta corporal... bem, devo dizer que o mestre não primou muito em seu treinamento neste quesito, mas Tália é resoluta e aprende rápido.

-- O que acha dela fazer o exame para o exército daqui a uma semana? Iria sugerir ao conselho do exército, antecipar as inscrições e os testes. Tenho a desculpa da tensão que estamos passando e da necessidade de novos oficiais, além de novos recrutas.

-- Mas os testes oficiais seriam daqui a dois meses. Seria um período muito grande para adiantar, além do que, gostaria de um pouco mais de tempo, comandante. O principal exame é na luta corporal e parece que Tália...

-- Esquiva-se?

Minha mãe perguntou, fazendo Arítes suspirar.

-- Ela parece contrafeita a este tipo de combate.

-- Humm... entendo e não me espanta.

-- Não?

-- Não. Quando se está com o arco ou a espada, pode parecer mais letal, mas não há contato corporal. Acredito que a ideia de agredir alguém com as próprias mãos, mexa intimamente com a sua índole. Ela pode parecer decidida, mas é uma menina terna e incapaz de magoar alguém deliberadamente. Sempre teve este jeito imperativo, mas é delicada em seu íntimo. Por isso confio em você, Arítes, para cuidar sempre dela. Mas por agora, ela precisa treinar e superar isto. Ela deve entrar no exército, no mínimo, com uma patente de suboficial para que consiga galgar postos condizentes com a sua idade. Vou falar com ela sobre esta dificuldade.

-- Dará mais tempo para que possa avançar no treinamento?

-- Dez ou quinze dias no máximo. Treine-a de dia e à noite após o jantar, se for preciso, mas as coisas estão caminhando muito rápido e preciso que Tália perca essa imagem de mulher frágil.

-- Tália? Mulher frágil?! Desculpe-me, comandante, e, me perdoe a franqueza, mas a imagem que tenho dela é de uma mulher arredia, teimosa e selvagem.

Minha mãe gargalhou ao ouvir a descrição que Arítes fez de mim.

-- Isso é porque você a acompanha de perto há anos e sabe que, definitivamente, não é uma mulher frágil, mas aos olhos dos que nos cercam, sim. Ela passa a imagem de "princesinha" e possivelmente por culpa minha e de Astor. Vocês se conhecem desde bebês e, tem a clara noção de como ela é, verdadeiramente. Ainda há o detalhe de que você a ama.

Os olhos de Arítes arregalaram e de sua garganta surgiram sons incompreensíveis. Estava atônita com a afirmativa de minha mãe.

-- Hum?!

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