Capítulo 21 - O sangue escorre

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Capítulo 21 – O sangue escorre

-- Não sou princesa, general. Estamos em guerra e tenho a patente condizente com a sua. Há algum recado que queira nos dar? Pois se não há, não sei o que o senhor poderia querer aqui no santuário.

-- Não... Só as vi passando pela ala oeste e...

O general Hian se afastou de súbito, dando uma cotovelada no rosto de Tuli, desacordando-a. Sacou sua espada, empunhando em nossa direção.

-- Vocês não sabem o que estão fazendo. Dê-me a Espada Macha, Arítes!

-- Você?

Soltei um murmúrio, espantada. Ele sempre fora solícito comigo. Um general querido e compreensivo com todos

-- Eu, o que? Eu, o homem a enxergar o que estava acontecendo no nosso reino? Sim. Sou eu, o general que viu a desgraça que Eras estava passando e Astor não fazia nada para melhorar. Os tempos mudaram, as "Senhoras" não quiseram saber mais de nós e ninguém enxerga isso!

-- Ele não é Serbes... – Arítes sussurrou.

Empurrei Arítes e tirei meu arco que estava preso na transversal em meu tronco, engatilhando uma flecha na sua direção.

-- General, não me faça atirar. Afaste-se!

Ele partiu para cima de Arítes, com ira, sem se importar com a minha ameaça. Ela brandiu a Espada Macha, segurando seu golpe. A lâmina do general se partiu, no contato com a espada, e ele caiu desacordado. Eu entendi o conceito de "indulgência" que deram ao meu cargo de "Guardiã". Não consegui atirar nele, apesar de todo o meu esbravejar. Eu havia crescido com o general Hian acariciando meus cabelos. Era a imagem que vinha a mim. Estava tremendo ao menor pensamento de mata-lo.

-- Você está bem, Tália?

Arítes me tirou do transe.

-- Estou.

Falei abafado, engolindo em seco até que, escutamos a luta que se desenrolava lá fora. O barulho das espadas se tocando, aço com aço, era agonizante. Os gritos da guerra estavam dentro do castelo, no jardim do santuário da floresta, para ser mais preciso. Tuli se levantou atordoada e eu a amparei.

-- Arítes, coloque a espada na cripta, agora! – Gritei.

Ela correu para o fundo do santuário, mas a massa de gente que entrava pela porta, me espantou. Eram os nossos soldados. Soldados com as cores e o uniforme de Eras, lutavam entre si. Compreendi que Natust não tinha invadido o castelo. A guerra era entre nós mesmos. Serbes conseguiu dividir Eras e nossos irmãos de sangue e coroa, lutavam uns contra os outros. Meu arco não resolveria ali. Em quem atiraria? Não sabia quem estava por nós ou contra. Desembainhei minha espada, tentando ver quem estava a nosso favor. Fui atacada e quando olhei, Arítes estava apenas se defendendo de agressores, pois cada vez que ela se lançava contra os que a atacava, eles caiam ao solo como vespas pegas pelas águas de uma tempestade. O simples toque da "Espada Macha", fazia com que desacordassem.

Tuli e eu, lutávamos lado a lado contra aqueles que investiam contra nós. Vi minha mãe, meu pai, o general Gwinter, e quem diria, o conselheiro Tórus, lutando lado a lado contra um grupo de oficiais. Tive uma boa surpresa com Gwinter. Ele estava ao nosso lado. Minha mãe tinha sangue na veste, na lateral do tronco, no entanto, não consegui me preocupar muito, pois também lutava pela minha vida e para que a turba não chegasse a Arítes, tarefa que não conseguimos desempenhar. Ela estava cercada por soldados, mas incrivelmente precisava apenas se defender.

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