Capítulo - 11 - A Natureza fala

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Era madrugada e conversávamos animados. Havíamos bebido um pouco além da conta, quando um tumulto começou. Um comerciante discutia com alguém de forma alterada. Nos aproximamos para tentar conter a pendenga, mas a confusão já havia se alastrado e muitas pessoas alcoolizadas começaram a brigar. Arítes e Tétis agruparam alguns soldados para tentar segurar os animadinhos. Juntei-me a elas, mas parecia que o grupo queria briga mesmo. Esquivei-me de um punho, que veio do nada, em minha direção. Segurei o braço do agressor, puxei-o para baixo e o atirei de bruços no chão, imobilizando-o. Quando ele me olhou e viu minha farda, desculpou-se. Seus olhos transmitiam receio e pela primeira vez, senti o peso de meu atual status, como general.

Auxiliei o cidadão a ficar de pé.

-- Levante-se.

-- Mil desculpas, senhora.

Ele estava bêbado e tropeçava na fala, porém me empurrou para o lado agressivamente. Um homem que estava atrás mim, tinha uma madeira na mão, que resvalou no chão, assim que fui deslocada pelo senhor que acabava de me empurrar. Reagi pisando na madeira, o desarmei e gritei.

-- Pare agora!

Ele parou, mas não porque gritei, e sim, porque desacordou assim que caiu sobre o bastão. Estava mais bêbado do que o outro. Olhei em volta e os focos de briga estavam serenando, sob os olhares dos soldados e dos oficiais que cercaram, em formação, a área. Era bonito de ver. Formaram tão rápido, intimidando o grupo de arruaceiros, que nem mesmo eu percebi. Arítes se adiantou chegando a mim.

-- Quer dar a palavra de ordem, general?

Perguntou sorrindo para mim.

-- Dessa eu passo, general. Siga em frente.

Sorri de volta.

Ela se voltou para as pessoas que estavam cercadas.

-- Que esse tumulto não volte a acontecer. Voltem a se divertir, mas se acaso outra briga ocorrer, todos irão para casa mais cedo, hoje. Esquadrão, dispensados!

O grupamento se dispersou e as pessoas voltaram a conversar.

-- É disso que o comando tem medo.

-- Do que está falando?

-- Arítes, eu sabia, em teoria, que quando tumultos acontecem, a primeira coisa que fazemos é a formação. Estudei isso com a minha mãe, mas não vivi. Minha primeira reação foi apartar a briga, como uma pessoa comum aparta brigas na rua. Em nenhum momento, passou pela minha cabeça entrar em formação para conter e acuar os agitadores. Eu não tenho a experiência e a vivência que vocês têm. Isso é fato.

Tétis e Mardox já estavam conosco, ouvindo meu discurso.

-- Tenho certeza que aprenderá rápido, princesa. É uma mulher inteligente e habilidosa.

Arítes apontou para Mardox e olhou de soslaio para mim, arrematando o pensamento do tenente.

-- Viu. Não fui eu quem falou e concordo com ele. Terá tempo para isso. Um exército não funciona só por formação e tática. É preciso inteligência para decisões. As regras e táticas se aprendem com facilidade.

-- E pode ter certeza, você tem uma pessoa, e muito boa, ao seu lado para te auxiliar nisso. – Concluiu Tétis, olhando para mim e para Arítes sorrindo.

Suspirei. As indiretas estavam começando a me irritar.

-- Fala logo o que passa pela sua mente, Tétis. Pare com insinuações e eu te respondo. Não sou de meias palavras.

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