UM

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FELÍCIA


— Por favor, Felícia, nunca te pedi nada. — Ela sempre tinha que terminar a fala com a mesma frase.

— Sempre diz a mesma coisa, Carla. Eu não vou. Você sabe o quanto eu odeio aquelas coisas agressivas que você assiste — disse, enquanto pegava um pijama de bolinhas amarelas na gaveta do meu guarda-roupa, para que assim eu pudesse dormir.

— Ah não, Felícia! Não pode me deixar ir sozinha. — Ela tirou o pijama de minhas mãos e jogou novamente na gaveta.

Ela insistia, pois sabia que em algum momento iria ceder.

— Estou cansada, Carla. E... — o mau da Carla era sempre me interromper quando estava protestando.

— Cansada de que? Você não está fazendo nada. Levanta a bunda daí e vamos. — O pior, que no momento, ela estava certa, começarei a trabalhar somente semana que vem.

— Mas, Carla... — tentei mais uma vez, tendo ainda um pouco de esperança.

— Não tem mais, e se você insistir em dizer não, vou te levar assim mesmo, do jeito que está agora. — Ela me ameaçou?

Não me surpreendia com as suas habilidades egoístas.

— Olha, eu vou — ela se empolgou —, mas...

— Mas? — seus olhos aparentavam saltar para fora.

— Mas, quando eu disser vamos embora, nós vamos. Ouviu?

— SIM! — Tenho certeza de que ela não ouviu.

Alguns minutos mais tarde, quando enfim me dei por vencida, caminhei até meu armário onde procurei por algo bonito e que me deixasse confortável.

— Amiga, para!

— O que foi? — perguntei para ela, com um ponto gigante de interrogação em minha cabeça.

O que foi? — Ela pousou as mãos na cintura, repetindo o que eu tinha acabado de dizer. — Nunca, em toda a minha vida, eu iria deixar você entrar em uma luta vestida assim.

— Vestida como? — Olhei para minha roupa no espelho.

Como à noite estava quente, pensei, por que não usar um vestido? E ele era lindo. De alças, acima dos joelhos e com a estampa de mini girassóis. Uma peça confortável e que deixaria me movimentar tranquilamente. Era o que eu realmente procurava.

— Girassol, Felícia? Por favor. Não está indo para um passeio em um dia ensolarado no Butantan¹ — ela dizia, enquanto fuçava em meu guarda-roupa.

— Então o que me sugere? — perguntei, observando-a.

Não tinha certeza se era o seu lado esnobe ou a futura estilista que estava corrigindo-me. Uma peça de roupa mal colocada podia ser uma ofensa para ela. Carla era uma amiga maravilhosa, mas, ainda assim, uma mulher extremamente insistente e que não disfarçava o nariz empinado. Mesmo não querendo, ela faria qualquer pessoa realizar os seus desejos.

— Sugiro uma calça preta, bem colada, para valorizar a sua bunda — ela disse, jogando-me uma calça de couro que nunca tinha usado.

Quem nunca passou por uma situação dessas: comprar, não gostar e depois deixar jogado no guarda-roupa? Sempre fazia isso. Teria que me convencer a parar com essa mania, meu bolso agradecia.

— Uma blusa bem decotada para causar — Carla continuou, até que parei para observar o tecido que ela tinha colocado em minhas mãos.

— Está blusa não é minha! — exclamei, olhando para aquela coisa que ela chamava de blusa.

FERAOnde histórias criam vida. Descubra agora