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FELÍCIA


Rio Grande do Sul, Gramado.

Fazia exatamente trinta minutos que estava aqui, e não conseguia parar de olhar para todos os cantos possíveis. Era simplesmente lindo. Até mesmo o asfalto era divino. Hércules em meu colo olhava para todas as cores a nossa volta, assim como meus avós, que somente admiravam o ambiente diferente.

— Gostou? — Ouvi sua voz rouca em meu ouvido, fazendo um sorriso instantâneo se formar em meus lábios.

— É maravilhoso — fui sincera.

— É tudo seu. — Olhei para ele rapidamente, com um ponto gigantesco de interrogação em minha testa.

— O estado é seu? — questionei, espantada, sendo totalmente irônica.

— Sim. Cada estado do mundo pertence a um Alpha. O meu é o Rio Grande do Sul. Mas sou conhecido mundialmente, pelo meu excesso de raiva. — Um sorriso malicioso se fez no canto de sua boca. — Você é a minha primeira-dama, pode-se dizer assim.

Sinceramente, eu quis rir. Eu? Uma simples dançarina, que morava no interior de Minas, que foi para São Paulo para dividir um AP com uma amiga, seria a primeira-dama de um lobo? Isso não era real.

— Isso é tudo muito estranho para mim — falei baixo, para que meus avós não ouvissem.

— Com o tempo você vai se adaptar. Serei um bom professor. — A malicia sarcástica era nítida.

— Eu vou voltar para São Paulo? — perguntei, deixando que a curiosidade me vencesse.

Em minha vida nada foi fácil. Eu tive que lutar para que conquistasse tudo o que eu pudesse desejar. Quando pequena, minha avó fazia pães e geladinhos e eu vendia na rua para que tivéssemos um trocado a mais no final do mês. Foi vendendo geladinho que conheci uma oficina cultural gratuita. Conheci a dança e me apaixonei por cada movimento. Com alguns trocados fui para São Paulo junto de Carla e, ali, começamos a ganhar espaço, independência e o sucesso profissional, mas tudo com dificuldade. Muitas portas na cara, porém com a esperança de que um dia iria chegar a minha vez. E, chegou. Mas, então, em uma simples noite tudo mudou. Ele apareceu.

Quando Apollo chegou em minha vida tudo pareceu fácil, até mesmo em um jatinho eu tinha entrado. O emprego que tanto lutei foi perdido em segundos, para que uma nova fase se iniciasse. Eu não sabia como tudo funcionava, mas estava disposta a viver uma vida que nunca passou pela minha cabeça em ter. Mas precisava saber que assim como começou, não terminasse.

— Você somente voltará lá comigo. — O jogo de palavras honestas dançou pela minha cabeça.

— Estou arriscando tudo por você, não tenho emprego e estou longe de casa...

— Sua casa sou eu, onde eu estiver será o seu lugar. — Ele chegou perto, colocando sua mão em meu rosto. — É para sempre, meu amor. O nosso amor não é como dos humanos. É eterno.

Meu coração falhou por um momento. "Nosso amor".

— A prova de que é real são os sentimentos e sua entrega rápida a ele. Há uma linha imaginaria que nos liga e nos traz sensações e sentimentos novos. Sei por que também é diferente para mim, mesmo assim estou viciado, e não posso estar a mais de dez passos longe de você.

— Eu não estou sozinha, tenho Hércules e meus avós...

— Felícia, está tudo bem. Nós vamos criar está criança. E não se preocupe com os seus avós, já providenciei algo para eles.

Respirei fundo e tentei acalmar meu coração.

— Não é todos os dias que isso acontece, Apollo. Você consegue me entender? Até a alguns dias atrás para mim tudo não passava de fantasia, ou conquistado através do trabalho.

— Me perdoe, minha Bela. Sei que tudo é novo para você, mas não vou te deixar. Está é a certeza que eu posso lhe dar.

— Nunca? — questionei, parecendo uma criança desconfiada.

— Nunca.

Alguns minutos mais tarde e já estávamos em uma vila. As casas eram rústicas, com muitas árvores, flores e tudo de mais bonito. O interessante era ver que por Apollo ser um homem conhecido mundialmente não existia qualquer segurança que o acompanhasse. Vi alguns até o aeroporto, mas nenhum nos acompanhou. Olhei para aquele homem que estava dirigindo com sua mão territorialmente em minha coxa... quem seria o louco a se meter com ele?

— Bem-vinda, minha Bela. — Sai dos meus devaneios com sua voz, dirigindo meus olhos para fora, vendo uma grande casa rústica, assim como a de São Paulo.

— Que lugar mais lindo, olhe essas flores, Lala! — Meu avô se empolgou, ao sair do carro.

Rosas vermelhas e brancas, muitas rosas, estavam rodeadas por toda a casa, bem cuidadas e brilhantes.

— Gosta de rosas? — perguntei o óbvio para Apollo.

— Essas rosas têm mais história do que você possa imaginar... tenho rosas em todas as minha casas... cada uma é uma vida, no caso, uma prometida... — Enquanto ele falava, seus olhos brilhavam em direção ao jardim vermelho e branco. — Sou um Lorde, minha linhagem foi escolhida para proteger essa história. As brancas são as que ainda não encontrou o seu par.

— Incrível!

— Eu tenho a sua...

— A minha? — sorri surpresa.

— Quando vi você pela primeira vez fiquei louco. Corri o mais rápido que pude até chegar em minha casa. Havia uma rosa solitária em meu quarto, não foi uma surpresa quando cheguei e vi que ela tinha se tornado vermelha.

Meus olhos se arregalaram. Ele riu.

De repente, Hércules começou a chorar, chamando a minha atenção. Olhei pela janela e vi minha avó com ele, junto ao meu avô próximo as rosas. Seu choro era diferente. Corri rapidamente ao seu encontro, pegando-o nos braços, balançando-o.

— Se acalme, meu amor. Está tudo bem — tentei acalmá-lo.

Fui até minha bolsa que ainda estava no carro. Apollo estava ao meu lado, olhando-me preocupado, vendo a minha aflição.

— Segure ele, não consigo achar a chupeta com uma única mão. — Entreguei o meu menino a ele, mas o impressionante aconteceu.

Hércules se calou, Apollo ficou imóvel. Seus olhinhos se tornaram vermelhos assim como daquele grande homem.

— Ele é um lobo. — Apollo murmurou, antes que pudesse dizer qualquer coisa.

Apollo nunca pegou Hércules ou tido qualquer contado físico, talvez algo sobrenatural tenha feito o seu animal interior ativar com a aproximação de Apollo.

— Não pode ser possível, Felícia. Somente a minha linhagem tem olhos vermelhos — Apollo continuou olhando para Hércules confuso. — Como essa criança parou com você?

— Eu... eu... por Zeus! Minha amiga era sua fã, ela... ela tinha um sonho de ser mãe, então ela fez alguns procedimentos médicos para engravidar. Eram três, mas somente Hércules sobreviveu... — tentei ser firme com as palavras, mas no momento não conseguia ser coerente.

— Qual era o nome da sua amiga? — Apollo me questionou sério.

— Carla.

— Carla Sondres?

— Si...sim.

— O nome dela não era Carla...

— Como não?! Nós éramos melhores amigas, morávamos juntas!

— Felícia, vamos para dentro. Temos que conversar. — Meus avós olhavam-me confusos ao fundo, algumas pessoas passavam pela rua olhando para Apollo e eu soube que ele queria privacidade.

— Tudo bem.

FERAOnde histórias criam vida. Descubra agora