FELÍCIA
Tudo estava caindo novamente ao meu redor. Mais uma vez. E eu não podia fazer nada. Nada estava ao meu alcance. Eu só sabia chorar. Meus ouvidos doíam, meu nariz entupia. Dona Magda me abraçava fortemente de encontro ao seu peito enquanto eu somente chorava.
— Eu sinto muito senhora, mas Carla não suportou. Seus pulmões tiveram uma parada e seu coração foi o próximo enquanto estava na sala de cirurgia. — O médico saiu, me deixando ali angustiada.
Após alguns minutos, talvez horas, eu me levantei. Eu precisava procurar forças, ter uma atitude, pois agora não estaria sozinha. Agora teria três bebês para cuidar. Me levantei, abracei fortemente dona Magda e seu marido, em seguida sussurrei um "obrigada". Limpei minhas lágrimas, respirei fundo e fui atrás do médico que tinha me dado a notícia.
Meus passos eram vacilantes, meu corpo todo tremia, meus olhos estavam prontos para derramarem-se em lágrimas novamente. Mas teria que ir falar com o médico. Fui até a recepção e perguntei por ele. Recebendo a informação que precisava, fui até ao seu encontro.
— Posso vê-la? — pedi, após achá-lo em um dos corredores.
— Me acompanhe. De qualquer forma, a senhora teria que reconhecer o corpo.
Segui-o até chegarmos a uma sala. Em uma maca reconheci um corpo, escondido por um pano branco. Meu coração se quebrou em muitos pedaços.
— Sinto muito, mas não conseguimos os salvar, eles não tiveram uma boa formação. Nasceram mortos. Sinto muito — repetiu, dando passos para a saída.
— Como assim não conseguiram os salvar? — questionei, mesmo sabendo que não havia jeito.
— Os bebês... lamento. Fizemos o possível, mas eles nasceram mortos. — Após acabar com o que tinha sobrado de mim, ele se foi.
Carla lutou tanto por esse sonho e como assim ele acabou?!
Meus joelhos não resistiram e eu fui ao chão, mais uma vez naquela noite. Meus soluços eram fortes, meus ouvidos doíam ainda mais em conjunto com a minha cabeça. Meu coração estava se quebrando em milhares de pedacinhos, e não existia nada que pudesse os colar.
Não me recordava de quanto tempo estava na mesma posição. Aquele cômodo branco estava me sufocando, me deixando ainda mais apreensiva e nervosa. Lágrimas não saíam mais, até porque, eu não tinha mais lágrimas. Foi então, no meio daquele silêncio, ouvi um choro. O choro era fraco, mas audível.
Me levantei apressadamente. Minhas mãos varriam o preto da maquiagem em meu rosto. O fraco som vinha debaixo do pano que cobria a maca.
Não pode ser, o médico acabou de dizer que todos tinham morrido!
Buscando forças, puxei o ar fortemente para os meus pulmões e tirei o pano. Carla estava lá, branca, cheia de marcas roxas, que mais pareciam hematomas. Sua pele estava fria. Ao seu lado estava os três bebês, dois deles estavam do mesmo modo que a mãe, mas havia um que estava diferente. O bebê do meio estava corado, com cabelos negros brilhantes e chorando.
Em meio as lágrimas, sorri.
Peguei-o em meu colo e o abracei. A vida estava dando uma nova chance para a Carla e para mim também. Sorri, olhando para aquele pequeno ser em meus braços.
Puxando a manta descobri que era o menino. Ele era lindo.
— Seu nome será Hércules, o deus da força.
O hospital ficou em alvoroço naquele dia, os médicos que estavam na sala ficaram surpresos e chocados, pois eles viram todos mortos. Para eles não havia chance alguma de ter sobrevivido um bebê, mas o Hércules era a prova viva de que tinha vencido a morte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FERA
WerewolfFera, faz uma releitura sobre um antigo conto de fadas Francês, criado originalmente por Gabrielle-Suzanne Barbot. A história relata um romance envolvente e possessivo, onde se encontra a Bela, uma dama doce e determinada. E a Fera, um homem tentad...