QUINZE

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FELÍCIA

DIAS DEPOIS...


Um dia acordei e achei que estava em um mundo normal, com pessoas normais. Achei que o presidente continuava sendo um homem ruim, que as dificuldades eram as mesmas, que mesmo com tantas lutas e superações, o mundo ainda continuava tendo padrões. Nada era diferente, era só o mundo, pessoas, exercendo o seu trabalho de todos os dias. Como fui inocente.

O nosso monótono não era o mesmo para todos. Nossas vidas, os momentos, os gêneros, sentimentos, raças e cores. Nada era igual. Ser feliz era uma palavra em extinção, assim como o amor. Olhar para o próximo não era uma obrigação, era ser humano.

Não era preciso entender o que se passava com o outro, para que começasse a vê-la de uma outra forma. Não a julgue pelo que ela escolheu ser, ou o que ela não teve escolha de ser. Padrões não faz pessoas felizes, não traz amor, mas incentiva a ser o que uma pessoa não é.

Encarei meu corpo através do espelho e reflito as marcas que foram distribuídas pela minha alma. Eu não podia vê-la, mas olhando para os meus olhos refletidos naquele objeto, conseguia ver meu passado e o meu presente. Aquele espelho mostrava as minhas lutas, minhas fraquezas, meus erros... mas, também, me mostrava o quanto fui desmerecida, frustrada e humilhada. No entanto, era incrível saber sobre as reviravoltas que o mundo dá. Somos todos destinados para um momento, uma pessoa, a ajudar alguém... conheci uma pessoa que ela queria casar, ter filhos, uma família... mas, tem pessoas que nascem para ser autossuficientes, para ser um alguém na vida de muitos, ser a família de quem nunca pensou em ter uma. Tem pessoas que nascem para serem livres, para conquistar o mundo, para ter asas. Outros para serem mães e pais, para crescer junto de alguém. Este foi o meu caso.

Aliso o vestido amarelo de seda que desce liso até meus pés.

Desde pequena fui apelidada, ignorada e separada. Na escola nunca fui escolhida por ninguém, até mesmo para trabalhos em grupo era excluída. Quando cresci as coisas não mudaram tanto, minha tia era a primeira a me mostrar o meu lugar durante esse tempo, mas soube que um dia chegaria a minha vez. E este dia chegou.

Acordei achando que era só mais um dia, inocente fui ao entender que naquele dia tudo mudaria. Meu corpo não me impediu de achar o amor, a felicidade. Gostar do mesmo sexo não impede o amor de chegar até o coração. Assim como o amor não escolhe cores para se amar. Vivi de padrões, até que achei ele.

A cor do seu cabelo, a pele, seu jeito ou o tamanho do seu corpo não define o que você é. Me apaixonei por almas, não por físicos. Quem se importa com a casca nunca saberá as riquezas de um fruto.

Acordei e reparei que tudo era ainda maior do que pensei. Existia ainda mais. Existia Apollo.

Nesses dias ele me ensinou pacientemente muitas coisas sobre o seu mundo, demonstrou cada parte. Me fez sorrir, fez com que meu corpo tremesse igual ao de uma adolescente em seu primeiro encontro, me fez amá-lo um pouco mais.

— Felícia — tirei meus olhos do espelho e encarei Magda escorada na morta —, ele está ficando louco com a sua demora.

Sorri.

— Estou descendo. Obrigada — agradeci, com meus olhos quase transbordando.

Observei quando dona Magda se aproximou de mim.

— Estamos todos felizes pelos deuses terem escolhido uma pessoa como você. — Ela fez uma reverencia, me deixando constrangida.

— Não mereço isso, dona Magda. Não precisa se curvar.

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