DEZ

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FELÍCIA


Não sabia o que dona Magda tinha feito, mas deu certo. Desembarquei no aeroporto de Minas Gerais fazia meia hora e até o momento estava tudo normal.

Neste exato momento estava amamentando Hércules, enquanto meus olhos vagam por entre as pessoas e tudo o que estava a minha volta. Encarei um homem forte e musculoso que estava devidamente acompanhado próximo a uma lanchonete. Meus pensamentos traidores logo se lembraram dele.

Apollo estava fixo em meus pensamentos. Seus olhos escuros, sua cicatriz marcante, mas que o deixava extremamente atraente. O seu jeito em dirigir-se a mim, ou até mesmo suas palavras autoritárias e ríspidas. Ele era tudo o que nunca pensei que seria. Ele mostrava que se importava e que queria cuidar de mim. No entanto, o que realmente me incomodava era a forma que tudo estava acontecendo, como se eu não tivesse escolhas. Mas eu não tinha, realmente.

Eu podia ver que ele era bom. Apollo sabia como ser decidido e implacável, pois desta arte ele manejava muito bem. Ele poderia ter feito qualquer coisa comigo enquanto estávamos a sós, ele fez, mas não foi nada que me machucasse.

Desvio meus olhos e vi que Hércules estava satisfeito.

Havia uma outra situação que ainda não estava se encaixando em minha cabeça.

Desde o início dos tempos a nossa crença estava baseada em muitos deuses e deus. Zeus, Poseidon, Hades, Afrodite, Hera, Hermes, Athena, Artêmis, Dionysus e Apollo. Apollo. Foram eles que criaram e deram vida ao mundo. Era a nossa fé. No entanto, todas as outras criaturas não eram reais. Contos de fadas existia, mas em livros, museus... não eram reais. Caso eu não tivesse visto, certamente, nunca iria ter acreditado. Eu vi um lobo, um não, dois. Era enigmático a forma em que tudo estava acontecendo.

O síndico do prédio, o motorista da Uber e, também, algumas pessoas que passavam por ali, nem uma delas demostrou alguma reação ao ver dona Magda em sua forma animal. Somente vinha em minha cabeça três opções: eu estava ficando louca, somente eu conseguia ver o que estava acontecendo, ou todos ali sabiam que tudo era real. Eu apostava na segunda opção, pois algumas pessoas da vizinhança acusavam dona Magda e seu marido de serem bruxos. E, na verdade, ela era igual o Apollo. Respirei fundo e tentei não aprofundar meus pensamentos.

Assim que entrei no táxi, dei o endereço que sabia de cor para o motorista. Enquanto íamos, meus olhos sorriam para o caminho bonito que conhecia tão bem. Meus avós moravam em uma cidade pequena, mas que havia grandes riquezas. As ruas de paralelepípedo, as grandes montanhas não muito longe, as mensagens gravadas nas rochas, as árvores, o cheiro que aquele lugar tinha. Era simplesmente incrível. O sentimento era satisfatório por estar no meu lugar. Não podia negar que gostava da cidade grande, mas meu coração batia forte por esse ambiente verde, harmonioso, com casas de telhados de barro, acordar cedo e dar de cara com o céu lindo e na mesa farta que podíamos de longe sentir o cheiro de café com pão de queijo.

Respirei o ar fresco, contemplando o aroma das árvores e da terra. Como eu amava esse lugar.

Depois de algumas horas o motorista parou exatamente no endereço que tinha dado. Mas a minha surpresa foi ver que aquela casa que cresci não era mais a mesma. A tintura estava velha, o telhado estava caindo e a árvore alta e verde não estava mais ali. Desci do carro e estendi o dinheiro para o motorista, vendo-o partir após me ajudar com a mala.

Por ser de tarde, algumas pessoas estavam sentadas em suas portas enquanto conversavam. Senti o peso de seus olhares curiosos. Apertei Hércules em meu peito e bati na porta. O pedaço de madeira quase se desfez com o impacto dos meus punhos.

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