FERA

QUATORZE

FELÍCIA

Apollo, ainda segurando Hércules, travou o carro e me puxou pela cintura, abrindo a porta. Assim que entrei, olhei para tudo não conseguindo manter a postura, era tudo novidade para mim, não tinha como não ficar admirada. Voltei minha atenção novamente e vi que meus avós também tinham entrado, e Apollo fechou a porta.

— Fiquem à vontade, vou levar Felícia para resolver alguns assuntos, mas logo irei apresentar onde será a casa de vocês. — Apollo se dirigiu aos meus avós.

— Vamos ter uma casa? — Minha avó sussurrou, enchendo seus olhos de lágrimas.

Confesso que não fiquei diferente.

Apollo somente acenou com um sorriso de lado. Ele pensou realmente em tudo. No entanto, ele não tinha ideia do bem que estava fazendo para os meus velhinhos e para mim.

Apollo me puxou para um corredor abaixo da escada rústica de madeira, me fazendo entrar por uma porta alta e larga.

— Sente. — Ele não foi grosseiro, mas dava para perceber a pressa em suas atitudes.

Após me sentar, olhei para ele esperando que me contasse o que estava acontecendo. Estava curiosa, espantada e eufórica. Literalmente muitos segredos estavam sendo expostos. Ele, com a mão livre, passou por entre seus cabelos escuros, descendo pela sua cicatriz. Ele estava nervoso.

Ver Apollo daquela forma com Hércules em seu colo era um exemplo de pai sexy. Alto, voraz e protetor. Nunca parei para pensar desta forma, mas não poderia negar que imaginar Apollo sendo pai era demais para um único homem. Até que enfim um homem que passou do nível do Rodrigo Hilbert.

Pisquei algumas vezes tentando com que meu consciente voltasse com foco, para a situação embaraçosa que estava acontecendo.

— O mundo é dividido por uma hierarquia sobrenatural construída pelos deuses. Os humanos são privados da nossa existência, somente humanos que nutrem algum laço afetivo com o nosso mundo pode nos ver em nossa forma real — rapidamente liguei os pontos ao lembrar da dona Magda quando estava transformada. Somente eu poderia a ver. — O mundo contém cinco animais. Cinco raças. Assim como bruxos. A minha raça já esteve próxima à extinção, porém em nosso mundo há muitas lendas e profecias. Algumas você não precisa saber no momento, mas diz a lenda que a linhagem de Poseidon traria uma criança formada no ventre de uma bruxa, com o sangue de uma humana com um lobo. Hércules é essa criança. Sua amiga morta é uma bruxa centenária em forma humana destinada à está profecia.

— Não é possível... — sussurrei, estática.

— Sinto muito, carinho, pelas coisas estar acontecendo desta forma.

Me levantei do sofá de couro escuro e olhei para Apollo que ainda encarava abismado a criança em seus braços. Ele não era o único que estava sendo surpreendido.

— Ela foi diagnosticada com câncer! Eu estava lá... eu vi os bebês... quando ela foi fazer os procedimentos... — disse, pausadamente, tentando me convencer que nada daquilo era real.

— Há situações que não devemos entender, pois elas simplesmente tem que acontecer. Não sei como nossos genes foram parar dentro de uma bruxa, mas a missão dela foi cumprida após colocar Hércules no mundo, então ela teria que ir embora.

— Então, Hércules é meu filho?

— Nosso filho. — Ele sorriu, incrédulo.

— Então... Carla ainda está viva? — Meu coração deu um salto esperançoso.

— O corpo humano que você conheceu não, mas o espírito dela sim.

— Como você sabia que era ela? — questionei.

— Antes de te conhecer já sabia quem era você, aquela luta em São Paulo foi proposital, mas não sabia que iria ser melhor do que em um sonho. Um sonho me mostrou a sua imagem e eu fiquei louco. Foi então que eu falei com o meu pai, ele me deixou a par da profecia. O cheiro de uma bruxa é diferente, depois que senti o seu cheiro naquela arquibancada, eu senti o dela, bem ao seu lado. Então tive certeza do que meu pai havia dito.

— Que loucura!

— Uma vida é feita de segredos, histórias, fases, momentos e lembranças, tudo no seu tempo. A nossa foi presenteada com uma profecia. Hércules é a última geração de lobos puros. Na época dos meus tataravôs, que eram da Itália, houve uma profecia que quebrou toda hierarquia, hoje ela se reergueu, mas de um modo diferente. Os deuses reestruturaram a ideia das prometidas, pois o amor no mundo estava se esfriando, então para que ele fosse compartilhado no mundo novamente, viramos Lordes, cuidadores do futuro.

— Por Zeus! — Minha cabeça não estava conseguindo raciocinar. Era muito para mim. — Posso descansar? Tudo isso é muito para mim, é muita informação...

Rapidamente os olhos de Apollo se tornaram preocupados.

— Antes que lhe mostre o nosso quarto, quero que saiba de mais uma coisa. — Sua voz se manteve seria.

— Claro.

— Nossos costumes não são iguais aos dos humanos, nossa forma de viver e lidar com algumas situações são totalmente distintas...

Por algum motivo desconhecido, meu coração começou a batucar fortemente em meu peito. Minhas mãos começaram a tremer levemente e meus pensamentos começaram a levar informações para todos os cantos de minha cabeça, deixando-me nervosa.

— Eu sou seu prometido, seu homem, um Alpha e Lorde, um lutador e um homem totalmente obcecado de amor por você. — Ele chegou mais perto, colocou Hércules em nosso meio e infiltrou sua mão livre em meu rosto, fazendo com que meus olhos colidissem com os seus. — Para você, humana, é casamento. Mas, você me aceita como seu único e eterno companheiro, para que eu lhe ame e lhe proteja até que os deuses deem um final a linha da minha vida?

Minha respiração se tornou ofegante.

— Sim! — Não teria outra resposta para ele.

Seus lábios se encontraram com os meus, enrolando sua língua com a minha, selando este algo viciante que eu estava querendo por toda a minha vida.

— Minha Bela, você dançara para mim todas as noites, desfrutara das maiores riquezas deste mundo e, por fim, continuará sendo em todas as manhãs a luz mais radiante que somente eu pude ter.

A Fera era mais doce do que eu pude imaginar.

— Amo você — falei algo que era mais que óbvio.

Ele sorriu, fazendo com que seus olhos extremamente vermelhos se voltassem para mim.