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CUMBERLAND, MARYLAND. 07H:25 AM.

DYLAN SMITH


     O BIP irritante do despertador toca pela quinta vez, mesmo que eu já tenha o desligado á dois minutos atrás. Colocando-me sentado na lateral da minha cama de casal com os pés no chão, eu cubro meu rosto com as mãos e o esfrego. Sinto a barba por fazer arranhar meus dedos ao coçar o queixo, mas não tenho a menor vontade de me barbear hoje. A sensação de que um longo dia está por vir pesa em meus ombros enquanto me espreguiço.

     Três horas de sono e um cansaço que já tem se acumulado por anos. É duro ter um sono conturbado, com tantas imagens horripilantes me aterrorizando. O meu mal humor matinal é mais intenso hoje, então quando o despertador faz barulho pela sexta vez, eu o pego com força do criado mudo e o jogo na porta do quarto, rosnando como um cão.

     — Porra — Eu gemo dois segundos depois, me arrependendo de tê-lo estraçalhado contra a porta do quarto.

     Levanto-me da cama e caminho até a janela do quarto. Não abro as cortinas, porque não seria exatamente agradável para a garota plantada na janela da casa vizinha me ver nu sem termos nos apresentado antes.

     Afasto com dois dedos o pano pesado da cortina para o lado, o suficiente para que um dos meus olhos pudessem observar lá fora. Eu tenho uma visão perfeita da lateral da casa vizinha, do seu quintal, e da rua lá embaixo. Observo a garota da casa ao lado se movendo pelo seu quarto. Ela parece obcecada em encontrar alguma coisa, e pela quantidade de coisas que sei á seu respeito, tenho certeza de que está atrasada para seu emprego na livraria perto do centro comercial, já que seu horária começa ás seis e meia.

     — Philip, você pegou as suas coisas? — Eu a escuto gritar, provavelmente descendo as escadas.

    — Tudo pronto! — O garoto grita, sentado nos degraus da entrada da casa olhando para as próprias mãos. Ele tem uma mochila pequena pendurada nas costas e uma lancheira ao seu lado.

    Observo a garota arrumar o garoto de oito anos no banco traseiro de seu velho Volkswagen Golf 1995 vermelho e enferrujado, e então tomar seu lugar no banco do motorista e ir embora. Volto a fechar as cortinas, para ir até o banheiro e tomar banho.

     Quando a água fria do chuveiro bate em minha cabeça, os flashes da noite passada me fazem novamente ficar intrigado. Fui escolhido para proteger a garota da casa ao lado, e levá-la para um esconderijo numa pequena cidade na Rússia. John, meu chefe, não esclareceu o porquê da garota ou o garoto serem valiosos e precisarem de tanta proteção, e a mensagem criptografada que recebi ontem á noite me dizia que Claire e Philip precisavam serem levados para longe de Cumberland dentro de setenta e duas horas, no máximo.

     Em todos os meus anos trabalhando como agente de campo da CIA, que devo dizer, foram alguns longos anos, eu nunca tinha sido rebaixado para ser um "guardião" das pessoas, o que me fez ficar confortável trabalhando sozinho. Sempre cumpri os trabalhos pesados, como, por exemplo, neutralizar uma massa de bandidos perigosos do cartel mexicano, e fiquei realmente puto com John Maxwell, diretor que comanda nossas missões na CIA, quando me deu o trabalho mês passado. Porra, anos e anos trabalhando no duro e sem mais nem menos sou obrigado a aceitar esse tipo de trabalho, como uma babá de dois fedelhos irritantes. É tão ridículo como escroto.

     Desligo o chuveiro e saio do box, não me importando realmente se estou molhando o chão do banheiro. Enrolo uma toalha em volta da minha cintura e procuro na minha mala jogada no chão do quarto uma calça jeans, camisa e meias. Visto a roupa e calço as minhas botas de combate escuras.

Damaged Soul {t.h} [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora