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BOROVSK, RÚSSIA.
07H:27 MINS AM.

CLAIRE ADAMS

SOU ATIRADA para fora do meu sono quando a sensação de que estou caindo me preenche o corpo. Me faz permanecer por um instante parada, confusa.

Olhando para baixo, mesmo no breu do quarto, consigo ver a silhueta de Philip logo ao meu lado. Ele tem um braço sobre minha barriga, e seu corpo pequeno está encolhido junto do meu, apesar do cobertor grosso sobre nós barrar o frio. Beijo sua testa no escuro, sentindo amor por ele.

Levanto da cama com todo o cuidado para não acordá-lo. Sem um telefone com lanterna, ou uma lanterna, sou obrigada a tatear as paredes à procura do interruptor para ligar a luz. Ficar sem celular era complicado, em alguns momentos. Não sabia nada do que poderia estar acontecendo no mundo.

Esbarrando pela cama e quase tropeçando numa estante na parede em que fica a porta, desconhecendo totalmente o ambiente, encontro o bendito interruptor quase atrás da estante. A claridade me pega desprevenida, e preciso fechar os olhos por um segundo para me recuperar.

Conseguindo enxergar o quarto com clareza, percebo que, na realidade, as janelas estão cobertas por grossas cortinas escuras. Até o momento não havia percebido, tampouco, que já era dia.

Caminho até a janela com passos suaves e puxo a cortina o suficiente para que eu possa olhar para o lado de fora. A luz da manhã é fraca, talvez porque seja cedo demais, mas diferente de ontem, consigo observar o local.

A diferença entre essa região e a região da casa anterior, é que esta possuía casas próximas, postes de iluminação, mesmo que distantes, e uma cerca de madeira que fora posta, à princípio, do outro lado da estrada estreita de terra para separar a floresta que se estendia à diante. Apesar de impedir os prováveis animais grandes que viviam naquele matagal todo de passar para a estrada e ameaçar a pequena vizinhança, a cerca havia cedido numa parte devido à terra e caído.

Parecia um lugar extremamente agradável de se morar, com a tranquilidade pairando sobre o local. Eu estava tão acostumada vivendo na cidade que tanto verde ao redor parecia ser como o paraíso.

Sentindo frio congelar meus dedos, me afasto da janela para caminhar até a única mala que continha minhas roupas e as do meu irmão. Procuro qualquer coisa quente na minha mala, e encontro o moletom que Dylan havia me dado dois dias atrás. Cato na mala o pequeno kit de higiene bucal também e me preparo para ir ao banheiro.

Antes de sair pelo corredor, checo se Philip está bem coberto. Ele parece profundamente cansado, então prefiro deixá-lo dormir o máximo possível.

∽※∽

Depois de fazer minhas necessidades básicas no vaso sanitário, escovar os dentes e lavar o rosto com a água que parecia ter saído direto da geladeira, desço para o andar de baixo em silêncio, enterrando minhas mãos nos bolsos da frente no moletom, tentando aquecer meus dedos congelados.

A sala está cheia de malas amontoadas perto da escada, o que só podia significar que Billy e Jake já estavam aqui também. Bem no fundo, o fato de haver mais pessoas para nos proteger me fazia ficar mais tranquila. Era um grande progresso confiar nos três, e lembrar que pensava em constantemente fugir de Dylan parecia ser uma ideia de tempos atrás, embora tenha sido a poucas semanas.

Fico um pouco surpresa por encontrar Dylan deitado no sofá, de lado. Seu corpo grande mal cabe no espaço pequeno, de modo que foi preciso ele encolher-se para conseguir manter os pés descalços sobre o estofado.

Seu notebook está aberto sobre a mesinha de centro, e parece processar alguma coisa. As botas pretas estão jogadas pelo chão, e pelo menos três garrafas de cerveja estão espalhadas ao lado do sofá. De onde exatamente elas haviam vindo? Me pergunto, por um instante. Talvez os outros tenham a trazido.

Me assusto quando Dylan se mexe no sofá para ficar com as costas para baixo. Nessa nova posição, consigo ver seu rosto melhor. Ele tem o semblante sereno, inofensivo. Muito diferente de quando está acordado.

Quase sem perceber meus próprios movimentos, me curvando para a frente sobre o encosto do sofá, toco seu rosto com a ponta dos meus dedos. Sua barba já grande espeta minha pele, me fazendo sentir um pouco de cócegas. Escorregando os dedos suavemente para o lado, paro quando meu polegar está sobre sua boca, que é levemente avermelhada, talvez pelo frio.

Não sei por quanto tempo fico olhando para seu rosto adormecido, mas quando, abruptamente Dylan segura meu pulso com firmeza, meu coração gela dentro do peito e me faz pular para trás. Eu estou com os olhos esbugalhados quando ele abre os seus para me encarar.

Ainda presa à seu aperto forte, sinto meu rosto quente sob seu olhor. Ele não tem nenhuma expressão no rosto, mas seus olhos... Seus olhos, e a dúvida que transborda deles me faz mergulhar numa espécie de hipnotismo. É algo que nunca havia experimentado antes.

- O que está fazendo? - Sua voz, rouca pelo sono, toca meus ouvidos como um som extremamente agradável, e instantaneamente os pelos do meu braço, coberto pelas mangas da minha blusa e do moletom, ficam eriçados. Engulo em seco diante do efeito que sua voz tem sobre mim, e tento pensar numa resposta descente para uma situação tão irracional.

- Eu... - Engulo em seco, tão desconcertada que mal posso pensar direito.

Onde diabos eu estava com a cabeça para avançar em sua direção e lhe tocar sem sua permissão? Ou, pior: Por que eu estava o tocando, para início de conversa?! Não sabia responder estas perguntas, e isso me afligia.

- Sinto muito. Você parecia... angelical demais, e fui impulsiva. - Me sinto estúpida por usar essa desculpa.

Olho para longe dele, sentindo que não conseguia lhe retribuir o olhar. Deus do céu, o que estava acontecendo comigo? Eu não sabia nada sobre este homem. Tudo que sabia era que tinha um trabalho descomunal, e que este mesmo trabalho havia nos feito cruzar o caminho um do outro. Ainda assim, aqui estava eu, passando vergonha por sentir necessidade de tocar-lhe o rosto.

- Você me confunde, Claire, e isso fode o meu cérebro. - Seu tom de voz é de quem está confessando algo, uma profundidade no timbre que me fez estremecer por um instante.

Eu não sabia o que dizer, nem descrever o que se passava dentro de meu coração. O sentimento que o fazia bater mais rapidamente era algo que nunca havia experimentando antes.

Eu já havia me atraído por outras pessoas, mas não de forma intensa. Já havia feito sexo, mas não o suficiente para achar prazeroso. Muitas coisas em minha vida já haviam acontecido, mas nada de forma intensa, que me fizesse perder as estribeiras.

Me odiava, neste instante, por sentir atração por Dylan. Preferia mil vezes enxergá-lo como alguém estranho e feio, do que me sentir da forma como começava a sentir. Não sabia como tinha começado, mas agora tinha certeza que, se ele me tocasse um pouco mais, me faria derreter aqui mesmo.

Desesperada com todos os pensamentos, e querendo fugir do olhar intenso de Dylan, puxo meu braço para cima. Ele cede sob a força, talvez por estar distraído analisando meu rosto.

Sem nada dizer, me limito a lhe dar as costas e fazer o mesmo caminho que havia feito ao descer. Meu coração parece querer explodir quando estou fechando a porta do quarto atrás de mim.

- Meu Deus, o que está acontecendo comigo?! - Sussurro para o nada, sentindo um pouco de desespero e frustração comigo mesma.

Damaged Soul {t.h} [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora