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MANCHESTER, LONDRES.
6H:50 MINS AM.

DYLAN SMITH

     EU ME sinto correndo sobre a relva macia, e, além da sensação dos meus pés estranhamente descalços num chão que já não é tão desconhecido, há uma sensação dolorosa em meu peito. Desespero. É, é isso que sinto rasgar meu peito.

     — Dylan, não me abandone. — A voz sussurrada de Camille, fraca e praticamente sem vida, me faz parar de repente.

     É como se eu estivesse perdido em uma floresta, escura e cheia de ruídos. Mas o único que se sobressai são os sussurros quase sem vida de Cam, que, merda, me fazem querer enlouquecer por nunca conseguir encontrá-la.

     — CAMILLE! — Eu grito pelo seu nome, minha voz aguda pelas malditas lágrimas molhando meu rosto, ecoando por todo o espaço.

     — Eu te amo, Dylan. — Ela sussurra em algum lugar que não consigo chegar, e então o grito horripilante que faz a minha espinha gelar ecoa por todo o local onde estou, e tudo fica, literalmente, muito claro.

     De repente, á alguns metros de onde estou, consigo ver o corpo de Cam jazido no chão. Seus olhos verdes, agora sem qualquer brilho, estão abertos, quase arregalados, e parecem olhar diretamente para os meus. Sua boca está entreaberta e deixa vazar sangue fresco. Corro até ela, jogando-me no chão, grito em seu rosto numa inútil tentativa de acordá-la. É óbvio que estou fora de mim, tão fora que não enxergo o algoz de Cam caminhando sem qualquer tipo de pressa até nós, e muito menos quando ele cutuca meu ombro para em seguir me derrubar com uma pancada na cabeça.

     — Você planta o que colhe, Dylan Smith. — Eu escuto, muito distante, a voz do homem, uma estranha alegria dançando em seu tom.

     A minha visão turva capta a imagem do homem jogando o corpo morto de Cam em seu ombro, como se ela fosse um saco de batatas. Isso me deixa doente, e mesmo que eu tente lutar para recobrar minha consciência completamente, não consigo.

     — Você vai morrer com a culpa de não ter chegado á tempo. E você nunca irá enterrá-la num lugar descente. Sua amada, meu caro, será jogada em uma vala qualquer... Depois, é claro, que eu apreciar a sua carne. — O homem diz, parado. Ele não parece se importar de verdade que esteja carregando o corpo morto bem em seus ombros. É doentio o seu sorriso largo, como se tudo isso fosse uma grande piada.

     Ele se distancia muito lentamente, uma sombra turva na minha visão, levando a única pessoa que me fez realmente sentir vivo, agora morta. A sensação em meu peito é tão dolorosa, mesmo que eu esteja á um passo de ficar inconsciente, que me faz querer desaparecer.

     — CAMILLE! — Eu grito, abrindo os olhos de supetão.

     Olhando ao redor com os olhos esbugalhados feito um idiota, eu reconheço com certa dificuldade os poucos móveis do quarto. Sento-me na cama com as costas na cabeceira e tento normalizar minha respiração acelerada, que faz meu peito nu subir e descer com força e rapidez. Uma dor se alastra por toda a minha cabeça.

     — Inferno. — Eu resmungo baixo, colocando as mãos em minha cabeça latejante.

     Levantando-me da cama, caminho até o banheiro e ligo o chuveiro no quente. Apesar de ter aquecedor dentro de casa, ainda consigo sentir um pouco de frio por estar sem roupa, mas isso não é exatamente um problema.

Damaged Soul {t.h} [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora