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CUMBERLAND, MARYLAND. 9H:12MINS AM.

CLAIRE ADAMS

     A VIAGEM de carro até a escola de Philip me fez refletir sobre os acontecimentos em casa. O que exatamente eu estava pensando ao acreditar nesse cara que eu nunca vi na vida? Deus, ele pode muito bem ser um daqueles caras mortos no meu quarto! E poderia facilmente matar á mim e meu irmão, e tudo por minha culpa.

     Quando ele estaciona na esquina do colégio do meu irmão, quase entro em pânico. Como ele poderia saber onde Philip estuda? Eu nem se quer disse para ele em que rua virar, mas o desconhecido já sabia. O que só significa que ele esteve me seguindo.

     — Vá buscar o seu irmão. Tem dez minutos, caso passe dos dez, eu vou atrás de vocês. — Ele diz rudemente, me encarando.

     Concordo com um balançar de cabeça rápido, e antes de sair do carro, pego minha bolsa no banco de trás.

     — Para ninguém desconfiar de nada — Digo ao homem, dando de ombros.

     — E Claire? — Ele me chama. Viro para encará-lo com relutância.

    

     — Sim?


     — Não faça nada estúpido, porque  sou bom em caçar pessoas. — Ele me lança um olhar assassino, e uma sensação de vazio golpeia meu coração de modo tão violento que a porta batendo é um som surdo, porque eu só consigo ouvir meu coração batendo descompassado pelo medo.

     Caminho pela calçada olhando para os lados e entrando na escola, eu corro até o segundo andar do prédio de três andares, que agora, por estar em horário de aula, tem os corredores  vazios. Bato na porta da sala 202 e, pela janelinha na porta larga pintada de azul, eu chamo a professora de Phill. Eu consigo ver sua expressão surpresa enquanto ela caminha para fora, e tento sorrir sutilmente. Bem, não é uma tarefa fácil, principalmente porque as imagens dos homens mortos no chão do meu quarto me fazem ficar com o estômago embrulhado.

     Caren é uma boa mulher, que nos ajudou bastante no começo, quando chegamos em Cumberland, no ano passado. Não que nós tenhamos nos tornado melhores amigas e eu tenha lhe deixado á par de todos os acontecimentos conturbados e terríveis de nossas vidas no começo do ano passado, mas se não fosse por ela, jamais criaria coragem e enxergaria que Phill tem sofrido mais do que deveria, e que um dos problemas de se perder alguém importante é que o luto é silencioso e destrutivo.

     — Senhorita Benson, preciso levar Philip para casa. Um parente na família está doente, então precisamos fazer uma viagem de última hora. — Eu explico, tentando parecer menos neurótico do que provavelmente estava parecendo minutos atrás.

     — Oh querida, tudo bem. Nós podemos o liberar. Melhoras para o seu parente — Ela diz, a voz suave e delicada. Agradeço mentalmente por Caren não fazer qualquer outra pergunta.

     — Tudo bem, obrigada. — Eu digo, e então a senhorita Benson entra novamente na sala e, dois minutos depois sai novamente, desta vez segurando Philip pela mão. Ele parece preocupado, e eu me sinto mal por meu irmão. Não é justo fazê-lo sofrer mais, não depois de estarmos, mesmo que de modo lento, nos recuperando da morte prematura e trágica de nossos pais.

Damaged Soul {t.h} [ PAUSADA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora