Prólogo

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   A Cidade Celestial estava toda iluminada por velas flutuantes em tons dourados e prateados. Uma música suave tocava ao fundo. O jantar estava sendo servido na sala magistral, onde os Anjos Melagons e Primagons se reuniam para congratular o banquete lunar, que acontecia um dia na semana. Eles não precisavam de alimentação, mas isso havia se tornado apenas um hábito para se igualar à sua criação: os seres humanos.

   Tudo estava tranquilo, uns conversavam enquanto outros comiam. As armaduras brilhantes e douradas dos Melagons refletiam ousadamente em cada armadura prateada dos Primagons.

   O castelo era um ambiente imponente, construído para impressionar a todos, com janelas imensas feitas de vitrais também dourados e prateados. Tudo era perfeito, planejado pelos seres arquitetos, com padrões caleidoscópicos.

   A sala era toda revestida com pedras preciosas. Esculturas de Anjos encostavam-se às paredes por todos os lados; o céu de nuvens dentro da sala estava carregado de velas flutuantes com uma lua brilhante bem no canto.

   — HavenukanDei! Muito bem, queridos irmãos. À sobremesa. Sirvam-nos! — disse o anjo Mabok, líder dos dois clãs.

   Ao mesmo tempo, uma porta se abriu e várias bandejas entraram flutuando.

   Tudo estava em um cintilar de leveza, levado a emoções distintas quase imperceptíveis aos olhos do mal, que naquela noite, planejava e agia silenciosamente sobre a Cidade Celestial.

   O local estava em um poço de paz e serenidade. Nunca havia sido bombardeado por algo maligno, pois os portões celestes eram protegidos por guardiões que usavam armas com poderes angelicais. Cada anjo existente conjurou sua lealdade aos guardas com a intuição de proteger aquela grande cidade cravada de pedras preciosas e magia.

   O que eles menos esperavam, era que aquela lealdade seria colocada em prova.

   De repente, um barulho.

   Um tremor sutil, que para quase abruptamente.

   Eles olharam para a mesma direção: a porta da sala magistral. A estrutura de ouro deu um pequeno rangido como se alguém a estivesse empurrando. As velas que flutuavam no céu caíram, escurecendo a sala, fazendo com que a lua murchasse e desaparecesse. O céu flutuante começou a emitir som de chuva, sendo seguido por raios e trovões, mas as gotas desapareciam antes de tocar o ar. Fora do castelo, a chuva começou a bater na janela, o que nunca antes havia acontecido na cidade sem a permissão deles.

   Eles ficaram em um silêncio quase obscuro, como se isso fosse indignação por não saberem o que estava acontecendo.

   A porta se rompeu quase que instantaneamente, revelando a entrada de um ser que estava tentando se livrar de algo. Os Anjos logo voaram para se defender, canalizando poderes em suas mãos, ficando um ao lado do outro.

   Silêncio.

   Um deles estalou os dedos e o brilho de seu poder iluminou o local, revelando um anjo ferido no meio da sala.

   — Mas o que... — um ser celestial indagou.

   O indivíduo que havia aberto a porta sem se importar com o peso dela estava todo ferido, com suas asas partidas e manchadas de prata, sangue de anjo.

   Era um dos guardiões da porta.

   — O que houve? — Um anjo foi ao encontro do guarda ferido que se encontrava de cabeça baixa.

   — Não! — o ser gritou.

   Ele levantou a cabeça revelando um corte na bochecha esquerda. Seus olhos estavam vermelhos e escuros.

   — Não encostem! Eu... Eu estou... Enfeitiçado.

   Todos olharam aflitos para ele.

   — O quê? Como assim? Enfeitiçado? — Mabok perguntou.

   O ser Celestial não respondeu de imediato, apenas gritou. Não de dor, mas sim de arrependimento por algo que tinha acabado de fazer.

   — Me... Desculpem-me... Por ser... Desculpem-me...

   O anjo ferido começou a chorar, suas lágrimas agora pretas começaram a rolar pelo rosto ferido.

   Um grito ecoou do fundo do peito dele, fazendo-o gritar, e várias nuvens de fumaça saíram de sua boca, rodopiando por toda a sala. O ser se materializou em pó, desaparecendo logo em seguida.

   Os Anjos voaram ao encontro daquelas fumaças que se distorciam em disparada para todos os lados do grande salão. Um dos Seres Celestiais passou a espada em uma das fumaças, logo sua espada começou a derreter em pó. Ele a largou, mas parece que o efeito da espada passou para sua mão, fazendo com que o mesmo se materializasse em prata petrificada. Os Seres Celestiais viram aquela cena e recuaram para o centro.

   — Não toquem nesses demônios! — gritou um deles. — Eles estão com o Pó Voduk.

   — O quê? Não... Isso pertence somente a ELES! — indagou outro anjo.

   — Exato. Algo de errado aconteceu e agora estão aqui. Os próprios. — completou Mabok.

   Uma voz cortante e grave ecoou no local quando uma das fumaças de vestes negras mostrou sua aparência dizendo:

  — HavenukanPos. Ascenção.

   As outras fumaças cobriram todo o ambiente,e os Anjos Celestiais viraram estátuas de ouro e de prata.

Andy Silva e a Chave de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora