Capítulo 1 - Doces ou travessuras

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TrinTron... TrinTron...

Esse toque me perseguia. Na verdade, ele fazia parte da minha vida, pois se não fosse esse despertador eu nunca iria acordar tão cedo para ir à minha intolerável e ao mesmo tempo amável escola. Seria bom se esse despertador não me bajulasse tanto assim, mas fazer o quê se você é obrigado a ir à escola? Eu adorava estudar, e rever os amigos é gratificante, mas acordar cedo é um tédio total.

Toquei o pino e respirei lentamente para poder abrir os olhos. A claridade do sol da manhã que fazia todos os dias já não era assim tão intensa, e nessa madrugada uma enorme tempestade caiu sobre nosso teto. Havia duas semanas que chovia sem parar, o que era anormal aqui Belém, já que o calor era um pouco desconfortante em certos momentos do dia.

Belém do Pará é uma cidade cultural, receptiva. É a capital do Pará, no Norte do Brasil. Apesar de ser uma ilha, não havia elevações de terra em nenhum canto da enorme metrópole, pois sua terra era plana, lisa. Árvores de mangueiras são vistas por toda a cidade, fazendo com que a mesma seja chamada com o pseudônimo de Cidade das Mangueiras. Quem dirige algum transporte automobilístico sempre é surpreendido por uma manga caindo em cima do seu automóvel. Há quem desça do carro para pegar a bendita manga.

A chuva torrencial da tarde e o sol da manhã são os pontos mais fortes da cidade, mas havia dias em que as gotas de água não deixavam a mesma por dias, trazendo um clima ameno. Dessa vez, a chuva não havia dado trégua.

É lógico que o calor fazia parte da minha vida, mesmo não gostando. Mas Belém é a minha vida. A cidade que eu amo. E ter uns dias frios aqui estava me fazendo feliz, já que a temperatura elevada queimava meus neurônios.

Senti o ar gélido entrar pela minha narina a cada arfar que eu dava. Sentei na ponta da minha cama — cor azul marinho — e rodei meus olhos pelo quarto. Tudo estava organizado, os livros em ordem alfabética, os carrinhos colecionáveis de acordo com as cores que mais gosto e os bonecos — acredite, ainda tenho bonecos — de acordo com o tamanho.

Minha cabeça doía um pouco por causa do ar condicionado, mas não era mais desconfortante do que estar de cueca box preta em um dia chuvoso e frio. Procurei meu chinelo que estava...

— Não Toby!

Uma banda do meu chinelo estava na boca de Toby, meu cão vira-lata enorme de estimação de pêlos brancos e pintas pretas. Não tinha um dia no qual eu acordava e não o via fazendo isso. Virou um vício para ele. Peguei-os e calcei, depois fui em direção ao guarda-roupa. Vesti meu roupão, tomei meu banho rápido e desci para o café da manhã.

O cheiro da manteiga derretendo dentro do sanduiche estava penetrante misturado ao doce café com leite. A primeira coisa que vi foram os pães quentes em cima da mesa.

Minha mãe estava preparando as torradas enquanto meu pai tomava seu café puro junto a um jornal que quase grudava em sua visão. Um quase impossível café da manhã da família Silva, já que sempre quando eu acordava tomava café sozinho — e meu café era o melhor da casa. Eu podia jurar que aquilo não estava acontecendo, pois essa cena de um típico café da manhã americano de filmes infantis e de seriados grotescos só acontecia em filmes americanos infantis e seriados grotescos. Lógico.

— Bom dia! — falei colocando queijo no pão.

— Bom dia! — Disseram meus pais em uníssono.

Eles ainda estavam de roupão, o que me pareceu tremendamente estranho para uma manhã de segunda feira, já que tinham que ir ao trabalho.

— Vocês não vão trabalhar hoje? — perguntei.

Andy Silva e a Chave de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora