Capítulo 4. Quem canta, os males espanta.

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Domingo.

Estaciono meu carro em um lugar escondido e visto meus óculos escuros, ando até a academia e abro a porta, vários homens param de treinar e olham para mim. Vejo Harry na esteira, ele está suado, usando uma roupa de academia frouxa e leve, os cachos pingando, tiro meus óculos e ele diminui a velocidade da máquina que está usando, para.

"Ei." Ele diz, se secando com uma toalha macia, me aproximo e cumprimento com um beijo rápido. "Vamos no Pub hoje?"

"Claro." Uso o banco do levantamento de peso para me sentar.

"Está linda."

"Obrigada." Eu sorri, ele volta a fazer algum exercício, observo.

Harry não é meu namorado, por mais que as vezes parecemos um casal, nós somos apenas amigos, ele não é daqueles homens que se comprometem, eu até já conversei com ele sobre isso, mas brigamos e ele passou duas horas sem falar comigo, é infantil eu sei, mas atrapalhou no nosso trabalho, e nada pode atrapalhar. Naquele dia, fui parar no hospital com um tiro na perna e nós resolvemos que iríamos deixar esse assunto de lado antes que alguém acabasse morto.

Tudo pode acontecer no intervalo de duas horas.

Ele já me salvou tantas vezes, são mil e um motivos para eu ser apaixonada por ele. Mas preciso de um homem que me faça esquecer dos problemas, e Harry indiretamente é o problema.

Dormimos juntos algumas vezes, depois de uma festa na escola foi a primeira, nesse dia eu perdi a minha virgindade. Inesquecível, talvez.

...

Me deito na cama do Harry enquanto espero ele tomar banho, ouço o chuveiro ligado dentro do pequeno espaço na suíte, o cheiro do perfume dele está nos travesseiros e eu viro o rosto para poder aproveita-lo enquanto posso, vejo que a porta abriu, um garoto malhado e alto está andando de cueca pelo quarto, eu o observo de canto.

"Você fez uma tatuagem nova?" Observo o corpo dele, há uma pequena caveira embaixo do braço que não consigo ver quando ele está vestido.

"Gostou?"

"Achei legal." Ele sorri de canto, pegando uma calça preta do armário e vestindo, a visão ainda é linda. "Você vai passar o perfume que está nos travesseiros?" Eu ouço uma risada dentro do banheiro.

"Sim. Estava com saudade dos meus lençóis, Maurhen?" Ele fala voltando para o quarto.

Eu sinto um frio passar pelo meu corpo, quando vejo já estou de pé, indo até a porta.

"Vamos grandalhão, eu vou te esperar no carro." Digo, mas ele me pega pelo braço, me fazendo olhar assustada.

"Sozinha, não."

"Algum problema?" Enfrento, ele cola nossos corpos de repente e me olha fixamente nos olhos, tremo.

"Fui contratado pelo seu pai para te proteger acima de tudo, é isso que vou fazer, Maurhen, você gostando ou não."

Sinto a respiração dele em mim, quente e pesada, é como se realmente tivesse domínio de todo o meu corpo. De fato, eu dependo dele, sem ele eu morreria, de todos os jeitos.

"Mas meu pai morreu, não sei o que pode fazer agora." Me afasto, saindo do quarto e andando até a garagem escondida, antes de entrar no carro, observo a rua um pouco escura e deserta dos lugares não tão lindos da grande Londres.

Eu olho no relógio do meu celular, são apenas dez horas da noite e eu já começo a sentir sono, a temperatura dentro do carro está agradável e eu consigo me sentir confortável, até olhar para o retrovisor e ver uma sombra andar calmamente pela calçada, meu corpo gela, mas logo a pessoa vai embora, eu baixo os olhos para as minhas pernas, brinco com a malha clara da minha calça jeans usando meus dedos, puxando os fios desbotados que aparecem em cada pequeno rasgo, com a outra mão coloco um pouco de cabelo atrás da orelha, olho novamente para o retrovisor, sabendo que pode ter algo lá fora.

Não estou com minha pistola aqui.

Merda, Harry. Ele pegou quando estávamos na academia.

Eu não deveria ter vindo aqui sem proteção.

Talvez se eu tivesse esperado pelo Harry, mas eu quis ir contra meu coração, sempre não atendo os seus pedidos, eu sempre faço isso, tento ser maior do que sou. Olho rápido para a casa, mas logo volto minha atenção aos fios da calça, perdendo a atenção a minha volta.

Eu sou uma idiota.

Uma moto passa, eu olho rápido a luz do veículo que vira a rua, alívio faz parte do meu suspiro, tento ligar o rádio para me sentir melhor, mas me lembro de que isso não é possível sem que o carro esteja ligado, fecho meus olhos me acomodando no banco, como se quisesse deitar, começo a cantarolar alguma música de alguma banda qualquer que veio no meu pensamento.

The world I love
(O mundo que eu amo)

A minha voz é o único som no espaço, baixa e suave, gosto dela, mas nunca cantei para ninguém.

The trains I hop to be part of the wave can't stop
(As normas que quebro para fazer parte da onda que não pode parar)

Come and tell me when it's time to
(Venha e me avise quando for a hora)

Eu balanço a cabeça de um lado para o outro, lentamente eu me sinto mais confortável, respiro fundo e ainda continuo o trecho da música, bato meus dedos delicadamente nos meus joelhos como se seguisse uma batida, mas sei que estou longe de conseguir qualquer ritmo.

Um barulho na lataria do carro me interrompe, eu abro meus olhos rápido e um gelo passa pelo meu corpo, não há mais nada além de árvores escuras e a rua está sem sinal de perigo, estranho, eu me levanto e olho em volta, da janela não consigo ver nada. A porta do motorista se abre do meu lado oposto e com o susto eu me viro de imediato.

"Porra, Harry!"

Eu ouço ele rir, tento ignorar. Ele abre mais a porta e se senta no banco do motorista. "Não era minha intenção, já que você sabe se proteger, não pensei que fosse..."

"Cale a boca."

"Ficou chateada, docinho?"

"Chateada não é a palavra."

"O que então?"

"Dirija o carro e me deixe no Pub."

"Eu sou seu segurança, não seu empregado." Ele fala, não tão alto, mantenho silêncio, ele suspira e gira as chaves, entrando na estrada.

...

O som está alto e agradável, me encontro suada na pista de dança enquanto um artista qualquer dá seu show de eletrônica, não vi Harry a noite toda, eu só entrei aqui e comecei a curtir o que essa balada ia me oferecer.

No meio da madrugada, sinto alguém passar a mão na minha cintura, eu me viro e me deparo com o sorriso lindo de um garoto um pouco mais alto que eu. Eu usei toda a minha noção de dança perto dele, que me observava enquanto segurava seu copo barato de vodka, eu sorri, ficamos assim uma música inteira, ele falava comigo durante a dança, eu respondia tudo com o meu melhor sorriso e movimentos de cintura. Ele parecia estar gostando, mas não tinha certeza.

Em uma altura, eu já sabia acompanhar a letra da música, as luzes estavam cada vez mais distantes e eu só prestava atenção na dança do rapaz, que parecia passar como câmera lenta, a luz estava piscando muito e isso fazia com que tudo ficasse mais intenso.

Minha atenção vai para Harry dançando logo ao meu lado com uma loira magra, eu continuo a dança e ignoro, reparo na proximidade dos dois, volto minha atenção ao moreno a minha frente, ele fala algo no meu ouvido e eu sorrio, não parando de dançar, olho rápido para Harry e fico séria, ele está beijando a loira na minha frente, pegando na cintura dela e me deixando completamente alterada, mas isso só me dá mais coragem de puxar a gola da camiseta do garoto e colar nossos lábios, ele parece responder ao gesto, me puxando para perto e colando nossos corpos, ele beija bem.

Ele beija muito bem.

Mas porra, isso não está mesmo certo.

Ele me puxa devagar para o canto do bar, mas eu me afasto, ele parece estar confuso e eu também, saio andando pela multidão, a música está alta mas consigo ouvir ele chamar por mim, ele pega meu braço e me beija novamente, tudo ao redor parece estar silencioso, mas tudo o que eu quero fazer é ir embora.

Só quero saber, quem é ele?

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