Capítulo 13. Próximos, mas não tanto.

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É como se aquela arma me atingisse também, é como se, matando ele, também estivesse me matando de algum modo. Foi estranho, eu não conseguia fazer aquilo, mas tive que fazer.
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ZAYN PDV

"No que está pensando?" Eu pergunto depois de uns vinte minutos em silêncio profundo dentro do carro, indo em direção de Londres, depois de termos saído daquele lugar, depois de os caras saírem correndo quando dei o primeiro tiro no idiota que abriu a porta, tirei Maurhen de lá mas não tive a oportunidade de ouvi-la falar.

"Nada." Ela diz, silenciosa como uma criança com medo, ela realmente parece vulnerável com esse casaco preto e largo, os cabelos soltos cobrindo uma boa parte do rosto, pálida e provavelmente com frio, eu olho para ela mas ela nem sequer pensa em olhar de volta para mim. "Eles disseram que você matou meu pai."

"O quê?" Pergunto, espantado. "Eu não matei seu pai."

"Como posso saber que você está dizendo a verdade?"

"Eles são uns babacas, Maurhen, você não deveria ouvir esses idiotas."  Eu não me importo em aumentar a voz, ela continua intacta. "Olha, eu não matei seu pai, muito menos o Harry."

"Você matou o Harry..."

"Não, muito pelo contrário, tinha alguém lá, a arma deu defeito e por um pouco aí sim eu estouraria os miolos dele, mas não, a porcaria da sua arma deu falha no gatilho e parecia ser de propósito, e você me odeia por isso, a cada segundo do seu dia você me odeia, por uma coisa que nem fiz." Ela se encolhe ainda mais, eu percebo quando ela abaixa a cabeça nas mãos ajeitadas no queixo, como já fez alguma outra vez que esteve comigo, ela faz silêncio e olha diretamente para o chão frio do meu carro.

"Agora eles sabem onde meu pai morava, e outra gangue fodida sabe onde eu moro também, eu só não sei pra onde ir sem ter que me preocupar com a morte."

"Fica na minha casa, quando precisar, eu tenho um apartamento em Brighton além de Londres. Trabalhamos juntos agora, nos protegemos juntos."

"Eu ainda não cheguei nessa fase da loucura."

"É loucura dormir no meu sofá?"

"É loucura andar ao seu lado."

"Wow, eu te salvei daqueles idiotas e você ainda acha que minha companhia é coisa pra gente doida?"

"Acho." Ela diz, olhando pra mim com os olhos brilhantes e castanhos, o seu rosto leva um lábio meio aberto, quase como um sorriso, mas eu já vi sorrisos antes, e sei que os dela não são reais.

"Foda se." Respiro, reparo que ela se encolhe com o meu vocabulário, mas que merda, ela é acostumada com a brutalidade, eu penso em dizer alguma coisa mas sei que vou piorar as coisas, então apenas seguro firme no volante e piso no acelerador, avançando a avenida.

Assim que entro com o carro na garagem de casa, a garota ao meu lado abre a porta sem dizer nada, eu a olho e faço o mesmo, pegando minha carteira e meu celular, vejo ligações perdidas no aparelho e então passo a mão nos cabelos os bagunçando um pouco, resultado de um costume como tantos outros que nem percebo que tenho, olho em volta e Maurhen está parada com os braços meio cruzados olhando diretamente pra mim.

"Tudo bem?"

Ela respira, faz que sim com a cabeça e dá dois passos curtos com seus tênis gastados, eu desvio o olhar e pego minhas chaves, abrindo a porta da frente.

"Está com fome?" Eu pergunto assim que entro na sala, sinto falta do cheiro do tabaco quando entro na cozinha, eu ouço um pequeno murmúrio dizendo sim, da porta, me viro para ela e a vejo de costas observando timidamente cada canto da casa, percebo que ela notou meus cadernos de rabiscos guardados na estante baixa da televisão. "Gosta de desenhos?"

"Um pouco."

"Se quiser ver." Permito, ela olha novamente para os livros, de pé, silenciosa. "Eu vou tomar um banho, precisa de alguma coisa?"

"Estou bem." Olha pra mim, eu recuo, entro no meu quarto e assim fecho a porta, encontrando o banheiro e ligando o chuveiro quente, como todas as vezes, ignoro o reflexo no espelho, minha camiseta cinza leva alguns pingos vermelhos e minha mente martela um único pensamento, eu fecho os olhos e sinto toda a água quente tocar meu corpo tatuado, é relaxante, por vinte minutos, saio e me troco calmamente, colocando uma camisa branca mal passada junto com qualquer calção preto, pego uma toalha e passo rápido nos cabelos saindo do quarto, entro no corredor e assim saio na sala em silêncio.

Eu estranho a presença dela ali, mas boa parte de mim quer se acostumar com isso, Maurhen está sentada no sofá, quase deitada com meu caderno aberto no colo, seus olhos estão levemente fechados e ela aparentemente está dormindo, eu ando silencioso até perto do sofá e recolho um copo sujo de cerveja no canto da mesa de centro que deixei talvez alguns dias atrás.

"Zayn." Eu ouço baixo, quase como um sussurro, eu me viro e olho pra ela, mas ela continua com os olhos fechados se movendo desconfortável no sofá.

"Hum... Tudo bem?" Solto uma risada nasal baixa, ela não responde. Eu vejo que ela parou na página de um dos desenhos que fiz quando estava no meu pior estado emocional.

A velha vontade de pegar o caderno velho e jogá-lo no lixo aparece de novo, mas eu me arrependeria por isso e voltaria a tentar me distrair com qualquer outra coisa.

"Zayn?" Ela novamente chama, mas dessa vez sei que está acordada, ela me olha desconfortável e eu vejo suas bochechas ficarem vermelhas, por que ela está com vergonha? "Desde quando está aqui?"

"Eu acabei de chegar."

Ela passa a mão por baixo dos olhos, claramente tirando alguma lágrima seca do rosto, olha para o livro e coloca o cabelo atrás da orelha.

"Você... você desenha a quanto tempo?"

"Não sei, acho que desde sempre. Por quê?"

"São incríveis."

"Obrigado." Resmungo, saindo da sala segurando o copo, entro na cozinha e abro a geladeira, tirando de lá um de suco de caixa sabor laranja, abro a tampa e sinto o cheiro me garantindo que isso não esteja velho demais para tomar, pego um copo limpo e encho até a metade, voltando até onde a garota está, não me surpreendo em ver que ela não saiu do mesmo lugar de antes.

"Por que estava chorando?" Alcanço o copo com laranja pra ela, me olha e aceita a minha bebida, me sento no sofá ao lado, apoiando meus cotovelos nos joelhos.

"Estou com medo."

Olho para o chão, eu sei que ela ficaria surpresa em saber que todos os dias eu também sinto medo das mesmas coisas que ela. É irônico que tenho que protegê-la dos meus próprios perigos.

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