Capítulo 24. Do campo de guerra para a zona de conforto. (parte 2)

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"Eu..." Digo, Zayn me solta, me fazendo ficar sentada sozinha na mesa, ajusto a calça no meu corpo, e assim pego minha blusa e a jaqueta do chão, ele faz silêncio, o mesmo silêncio que fez quando entrou, ele se senta na minha mesa, me observando terminar de vestir minha roupa novamente, eu suspiro.

"Assaltaram a minha casa de armas."

"O quê?" Sussurro.

"Levaram tudo, e eu não tinha permissão de uso da maioria delas, é por isso que estou um porre. Eu passei a noite em um bar, totalmente bêbado, e nem sei como uma mulher foi parar na minha cama hoje de manhã." Ele me olha, eu engulo em seco, tentando olhar para algum outro canto da sala que não seja ele. "Não queria que ficasse chateada, e nem que me visse daquele jeito então eu não te liguei durante dois dias."

Eu respiro, e desta vez não me importo em encarar seus brilhantes olhos castanhos e cavanhaque bem feito, ele não precisaria me dar explicações, e nem parece ser ele agora, mas no fundo gosto disso. Eu caminho até a minha cadeira onde ele está sentado, e lentamente me sento no colo dele de lado, envolvo um dos meus braços no seu pescoço e levanto um sorriso disfarçado quando passo a mão levemente em baixo da orelha.

"Você está tentando me confortar?" Ele ri baixo, abrindo um sorriso também, eu confirmo a sua pergunta com a cabeça. "Meu pai vai me matar com a única arma que ele ainda deve ter."

"Eram do seu pai?" Eu pergunto, e a minha resposta é apenas um olhar, eu entendo, passo meu polegar na sua barba, fazendo um carinho na bochecha, e lhe dou um beijo simples, ainda tentando deixar ele menos preocupado com isso.

"Não faz isso." Ele fala baixo, dessa vez foi tão baixo que eu quase não entendi.

"Isso o quê?"

"Você parece ser minha namorada quando faz isso, eu não posso ter apoio, eu tenho que me sentir podre pra aprender."

"Desculpa." Eu tento me levantar, e me levanto, sem interrupções desta vez, eu não espero que ele me puxasse pela cintura agora e me dissesse que precisa de mim, por mais que no fundo eu esperasse de verdade. Ele não precisa, ou pelo menos demonstra não precisar, e isso me machuca. Merda.

Caminho pela sala tentando pensar em alguma coisa. "E você ainda vai me dar aula de tiro?"

"Eu vou pensar nisso."

"Vamos tentar não brigar se houver uma próxima vez, ok?"

"Como você voltou pra casa aquela noite?"

"Eu chamei um táxi." Eu dou de ombros, é uma pergunta simples e eu nem penso quando respondo.

"Conseguiu um táxi que atendesse aquela área da cidade?"

"É, eu consegui."

"Não é normal."

"O que não é normal é essa fome que estou sentindo por ainda não ter almoçado."

"Está aqui desde as 7 da manhã?"

"E Louis só chegou às 9."

"Vagabundo."

"Quer perder seu emprego?" Eu pego minha bolsa em cima da mesa e me viro para ele, se levanta enquanto eu saio na porta da sala.

"Se ele me demitir eu sei que você me contrataria novamente, não aguenta ficar longe de mim por muito tempo." Eu o olho de canto, revirando os olhos, eu suspiro, e quando sinto seu braço envolver minha cintura, eu consigo ganhar a guerra dentro de mim e não olhar pra ele. Assim que saímos, consigo ver a rua sem movimento, agora ele anda ao meu lado com as mãos no bolso, busco meu óculos escuros na bolsa por ter sentido a claridade do sol, coloco e Zayn olha para as minhas lentes espelhadas, eu avisto meu carro, e entro na direção, ele senta ao meu lado, e eu sigo em silêncio.

...

"E aí, por que está de cara fechada?" Eu pergunto quando termino de comer, passando um guardanapo na boca, ele não comeu nada, por mais que eu tenha quase insistido, não quis almoçar comigo.

"Nada." Ele resmunga, olhando o celular em baixo da mesa, o restaurante está lotado e eu coloco meu óculos novamente. "Já terminou?"

E o Zayn aberto e apegado a explicações se foi, e tenho de volta o Zayn focado no trabalho, eu faço que sim com a cabeça e me lembro de que já paguei a conta, ele se levanta e guarda o telefone no bolso, assim, eu faço o mesmo. Andando até o carro, ele pede a chave, e eu mesmo negando, perco a discussão, ele pega a liderança do volante.

"Preciso passar em um cara comprar mais cigarros." Ele comenta, e eu sem querer dar a minha opinião, aceito pegando meu celular e apagando todas as mensagens perdidas.

Quando chegamos no destino que suspeito que seja o lugar onde ele queria comprar cigarros, eu abro a porta do carro e saio, atravessamos a rua e entramos em um velho e simples estabelecimento de madeira, um idoso de barba já branca organiza seus copos de vidro atrás de um balcão grande, eu observo que Zayn já tem alguma intimidade com ele.

...

ZAYN PDV

Maurhen é um porre, e eu sei disso, ela é a bebida de boa qualidade que quando não usada com moderação, vicia, e pode embebedar. E agora está ao meu lado em um bar que sempre frequento, o velho na minha frente, que já foi testemunha dos meus pontos mais baixos, me olha como se trazer uma garota comigo fosse algo raro, e é verdade, eu nunca andei com minhas namoradas e nunca levei ninguém para almoçar, para mim isso é algo que sai fora da minha zona de conforto, e então por mais que eu me esforce, eu vou me sentir fora do meu mundo.

"E aí, cara." Eu falo, cumprimentando do jeito que sou acostumado, e ele já espera isso de mim. O velho já coloca  um de seus copos grandes na minha frente, ele olha para a Maurhen, e nota o pouco diálogo que isso causa.

"Essa é aquela garota?" A voz rouca e baixa completa o espaço, e no fundo, eu quero matá-lo por ter feito essa pergunta. Eu balanço a cabeça, ele coloca outro copo na mesa.

"Eu só preciso de um cigarro hoje."

"Claro, suspeitei." O homem tira os dois copos do balcão onde estou encostado, e faz o mesmo trajeto de sempre, pega meus cigarros, coloca na mesa, eu procuro meu dinheiro na carteira e coloco sobre a mesa, me levanto e olho para Maurhen, que, sentada na outra cadeira, observa uma das paredes do bar onde estão várias fotografias de gente desconhecida, abro a caixinha tirando um cigarro branco de lá, e seguro entre os dedos, eu dou uma risada baixa ao ver ela tão desligada da sua realidade.

"Ei, vamos?" Eu chego ao lado dela e falo baixo, por fim ela olha pra mim, os olhos castanhos bem abertos como duas bolotas quase pretas, os cílios alongados com um pouco de maquiagem, ela se levanta também, e anda normalmente na minha frente até chegar na porta.

"Por que ele me encarou daquele jeito?"

"Deve ser porque você é uma das raras mulheres que já entraram naquele bar."

"Não." Eu paro de andar assim que faço um pouco de fogo na ponta do meu cigarro, relaxo. "Ele... ele me olhou como se eu fosse um... será que eu já tive que matar alguém que ele conhece?"

Ela diz a palavra "matar" mais baixo, como se fosse um pecado, eu sorrio por baixo do cigarro, ela vê.

"Não, na família dele todo mundo morreu de causas naturais, até a mulher dele, que diz amar até hoje mesmo tendo o traído."

"Ela morreu também?"

"Ele diz que já fazem uns vinte anos."

"Como alguém pode amar quem já traiu?"

"É por isso que eu digo, esse negócio de amor é a maior furada." Começo a rir, eu paro quando percebo que ela me olha perplexa com o que eu acabei de dizer, a lembrança dela dizendo meu nome daquele jeito mais cedo me faz dar uma boa puxada no meu cigarro, e uma sensação da porra passa pelo meu organismo como se fosse adrenalina. Ela ficou chateada, consigo ver. Sorte a minha que ela não consegue ouvir o que eu penso também.

Eu até posso dizer algo bom sobre o amor, que ele faz tudo parecer diferente e tudo mais, mas sei que ele me contaminaria, e eu não conseguiria seguir em frente.

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⏰ Última atualização: Feb 23, 2017 ⏰

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