Capítulo 20. Para a sua segurança, ou a minha.

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     A lua já tinha ocupado o lugar do sol no céu, e a noite estava clara pelas luzes das ruas de Brighton, uma cidade pequena, que pode talvez um dia entrar nos meus planos de moradia. Mas eu sei que esses planos poderiam facilmente evaporar pelos ares por conta de ser uma cidade de fácil localização, então minha segurança seria prejudicada, eu preciso pensar nisso, Londres é grande, por mais que também seria possível encontrar meu paradeiro em algum ponto da cidade. A única pessoa que tenho hoje, perto de ser minha família, é Louis, que não aceita muito bem o fato de ser meu meio irmão, e claramente me culpa por vários acontecimentos na nossa família, depois disso eu vivo por mim mesma, acho que Zayn não me considera como algo importante além de ser meu segurança, ele ainda não disse qualquer coisa provando seus sentimentos por mim e isso me deixa confusa, eu gosto dele, mas queria não gostar. Eu já perdi as contas das vezes em que me questionei sobre tudo isso, eu poderia abrir mão do meu trabalho ou até mesmo dessa vida cheia de limitações e deixar Zayn livre de qualquer problema, pois eu sou uma preocupação para ele, eu sei que ele se irrita por mim, toma todos os problemas que envolvem a minha pessoa nas suas costas, e eu não sei realmente o assunto que ele tratou no telefone hoje mais cedo, e minha curiosidade me faz querer perguntar, mas eu tenho certeza que é relacionado a mim e a minha segurança.
  O silêncio dentro do carro já estava me incomodando, Zayn estava claramente irritado com algo, mas eu não arrisquei em perguntar, optei por não lembrar da noite passada, não por enquanto, eu preciso prestar atenção no trabalho agora, e não ter Zayn como distração para os meus pensamentos.

"No que está pensando?" Eu ouço depois de horas sem algum som, isso me surpreendeu um pouco, então eu me perguntei se  fica tão claro quando eu coloco a cabeça distante com meus pensamentos, eu tentei colocar os meus olhos nos dele, mas ele estava distante também, olhando para a estrada, ainda não estávamos inteiramente na cidade, mas eu já conseguia ver algumas moradias simples na beirada da estrada, casas típicas do interior.

"Nada importante." Falei rápido, como não consegui a sua atenção, eu desviei meu olhar novamente para o meu colo, minhas pernas imploravam para se alongarem por conta de algum tempo sem me mover, e meus músculos queriam se livrar desse couro macio logo.

"É bom não se distrair, você sabe o quanto é importante essa merda."

"Zayn." Eu estalo, quase involuntariamente, não ligo para o alerta dele, eu sei que não devo me distrair no trabalho, meus poucos, mas valiosos anos de experiência me mostraram isso, é então eu volto a olhar pra ele. Ele resmunga um "hum", mas não olha pra mim. Eu estranho, a sua mudança de comportamento foi brusca depois que entramos nesse carro, ele se calou e não está mais o Zayn que desenha para se expressar, e nem aquele que dançou comigo no meu quarto noite passada. "Hum, com quem você estava falando no telefone hoje?"

"Quando?" Sei que ele entendeu a minha pergunta e a mente dele sabe a resposta, mas quer fazer parecer como se não soubesse, e então tentar me deixar mais tranquila com isso, mas eu sei que não posso deixar passar, pois eu sei, era relacionado a mim.

"Hoje de manhã, antes de saírmos, você entrou no carro e então..." Ele olha pra mim, sério, sua expressão rude, como se estivesse incomodado com minhas questões, mas eu insisto em terminar. "Por que mudou o comportamento comigo?"

"Eu recebo ordens diferentes a cada dia, Maurhen, e não é bom para o trabalho eu... eu começar a gostar de você."

"Começar a gostar de mim?" Eu penso em continuar falando, mas eu não acho palavras para expressar a minha confusão.

"Eu não vou conseguir concluir meu trabalho se eu me importar demais com você, então esqueça a noite de ontem, aquilo foi uma fraqueza enorme da minha parte, eu não posso continuar com isso, trabalhos como esse não levam em conta o sentimento, e nem podem. Isso é para a sua segurança."

"O que o sentimento vai atrapalhar nisso? Eu não vejo problemas, você é meu segurança, a nossa aproximação não seria prejudicial, Zayn."

Ele fica calado, respirando fortemente, eu percebo que o deixei irritado, encosto as costas no banco, percebendo a entrada da cidade. Estamos quase chegando.

"É para a sua segurança."

"Por que está agindo assim?" Sinceramente pergunto, desta vez não ligo se ele não olha pra mim enquanto falo, mas eu começo a prestar atenção em cada traço do seu rosto, eu quero sentir a sua honestidade.

Mas ele não responde.

Eu penso em falar alguma coisa, mas tudo o que sai é um suspiro baixo, tento colocar a minha cabeça em outro assunto, eu me inclino no porta luvas do carro e pego lá um papel onde está anotado os dados do nosso trabalho, sem me importar se vai atrapalhar ou não, eu ligo a luz no botão em cima do carro e me distraio lendo as informações anotadas ali, estamos perto do destino.

"Deixe o carro naquele posto, como a cidade é pequena, precisamos voltar logo depois do ato, então você abastece e eu vou comprar mais comida." Eu aviso, ele encontra logo à frente o posto que mencionei e coloca o carro ao lado da bomba de combustível, me preparo para abrir a porta. "Na volta, eu vou dirigir."

Zayn me olha, e eu sei que ele está como um cão comigo, mas não me importo com isso, eu estou brava com ele também, aliás ele é rude e não percebe as coisas que fala, eu, ao contrário dele, tenho sentimentos.

Entro na loja de conveniência, olho para baixo, desta vez não me importo em esconder muito o meu rosto, minha identidade raramente é publicada e poucos sabem do meu rosto. Depois de pegar latas de refrigerante, sacos de batatas fritas e qualquer besteira que possa satisfazer meu amor por chocolate, eu passo no caixa, uma moça bem arrumada me dá boa noite junto de um sorriso, eu me sinto em casa com o gesto amigável, respondo do mesmo modo e saio caminhando até o carro, vejo que Zayn já terminou seu trabalho, eu vejo um carro da polícia entrar lentamente no posto, caminho rápido e abro a minha porta do carona e jogo as sacolas no banco de trás.

"Maurhen, fica no carro." Eu ouço um murmurar atento, e Zayn rapidamente abre sua porta, nos sentamos nos bancos e fechamos a porta quase no mesmo momento, Zayn liga o carro mas tenta não colocar tanta velocidade, sai normalmente, mas sempre olhando o retrovisor.

"A polícia está atrás da gente?"

"Merda." Ele xinga, olhando o retrovisor, as luzes brilhantes da viatura está atrás do nosso carro. "A polícia não está necessariamente atrás de nós, mas eles não precisam saber que estamos na cidade deles. Se quem estiver dirigindo tiver algum contato com a polícia de Londres, conhecem o meu carro. Se abaixa no banco."

Eu obedeço, por mais que eu não queira ou não entenda por quê, perco a visão da estrada, mas sinto que ele está virando alguma rua. "Estamos perto do psicopata maluco, faremos o serviço e então ainda dormiremos em Londres." Ele lembra as coordenadas, batendo os dedos no volante. "E sou eu quem vou dirigir."

Eu reviro os olhos, me levanto novamente, mesmo que ele não tenha me pedido, eu ajeito minha postura no banco, ergo os braços para cima, ajeitando um rabo de cavalo nos meus cabelos. Mais cinco minutos, desta vez passados em silêncio, ele estaciona o carro devagar numa rua que por estratégia tem alguns pontos de escuridão, eu não abro a porta, passo a olhar para ele e parece entender que tenho algo a falar.

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