Algemas

8K 216 26
                                    

Minha mãe costumava dizer que sou única,mas só eu sei que não passo de uma colcha de retalhos.

Costumo me espelhar no melhor de cada pessoa ao meu redor;Um pouco da minha mãe,do meu pai,do professor de gramática,do meu colega de trabalho,meu chefe,minha vizinha...
Mas tem algo em Thommy que me intriga,uma capacidade paranormal de absorver o sofrimento das pessoas em forma de uma espécie de energia.
Ver a angústia no rosto alheio lhe dá um ânimo e felicidade anormal,eu vejo o sadismo em seus olhos.
Eu o quero pra mim.

Me lembro que quando ele me soltou das cordas na primeira noite,usou aquele mesmo líquido que me fez perder a consciência e quando acordei estava em um lugar muito diferente.
Algo que se assemelha a uma casa,só que muito mais triste.
Como uma jaula

Conforme o tempo passa nessa "casa",minha vontade de viver vai diminuindo gradativamente,não sei ao certo quanto tempo estou aqui,parei de contar no terceiro mês, não tem relógios e consequentemente minha mania de olhar as horas foi perdida.

Os serviços de casa são a melhor parte.
Passar um tempo a sós com vassouras e rodos é minha única diversão.

Quando ele chega é a pior parte, a dor e as humilhações não importam mais, o que realmente machuca é ver seu sorriso sempre quando me vê gritar e contorcer diante de seus pés,seu membro excitado ao ver meu sangue pingar sobre o carpete.

Já tentei me matar inúmeras vezes até o dia que ele chegou e disse:
"Você sabe que é totalmente substituível não é? Quando você morrer irei colocar outra em seu lugar e quando ela morrer colocarei em outro lugar dela e assim gradativamente até o último dia da minha vida."

Eu sei que é mais uma ameaça hiperbólica do tipo "Se você não comer tudo vou arrancar seu estômago, e então não conseguirá comer nada"
Mas quando acordo eu sinto medo de que não consiga sair daqui.
Sinto medo que alguém acabe no meu lugar.

Mas só eu sei que no fundo,queria dormir e nunca mais acordar.

-Bom dia minha princesa,dormiu bem?

O chão era menos gelado quando eu deitava pra brincar com Stalin Jr.

-Sim senhor.

Ele sorri.

-Prove sua gratidão por eu lhe oferecer um teto para você dormir.

Ele estica seu pé descalço.
Queria poder arrancar seus dedos,desenrolar cada nervo lentamente e assistir o sangue jorrar pelo carpete marrom.

Beijo seu pé segurando minha ânsia desejando que tudo acabe logo.

-Boa menina- Diz acariciando o topo da minha cabeça.

A ferida causada pelo contato entre algema e meu tornozelo está infeccionada,sinto um líquido escorrer e uma dor dilacerante.
Ele percebe minha careta.

-Está doendo?-pergunta cinicamente.

Penso em negar mas minha expressão não mente.

Sua mão percorre o caminho da minha perna até o machucado e pressiona seu indicador no local, me fazendo estremecer.

- Não se preocupe querida se não melhorar eu amputo seus pés -Diz sorrindo e sai.

Não desejo isso para o meu pior inimigo.
Rezo para meu altruísmo não falhar.

Levanto-me e vou me apressando pra terminar os serviços de casa,as correntes presas em meus tornozelos limitam um pouco meus movimentos,mas com o tempo aprendi a lidar com elas.

Minha roupas se resumem em blusas e calças velhas de Thommy,que eu lavo na pia do banheiro.
Como hoje está estranhamente quente visto apenas uma blusa dele azul,e bem larga.

Eu,SubmissaOnde histórias criam vida. Descubra agora