Eu,Submissa

Charlotte

Acordo com o relógio marcando:
9:48
Ainda é cedo porém não consigo dormir de qualquer maneira.

O dia anterior se congelou nos olhos azuis daquela loira tingida, pouco me importei com o que aconteceu em seguida, lembro-me apenas que após tomar o remédio para dor de cabeça comecei realmente a passar mal, não por causa dele é claro mas essa foi a minha desculpa.
Genevieve voltou dirigindo pra casa, não lhe disse nada do ocorrido, ela percebeu que eu estava diferente, não me perguntou nada, certamente associou com o acontecido na piscina.
Queria poder dizer-lhe que não estou triste pelo beijo, apenas sofrendo as consequências que ele gerou.

Estou exausta, tanto psicologicamente como fisicamente, tomo um banho demorado na banheira, afogando meus pensamentos em um mar de espumas, assistindo meus dedos enrugarem, amaldiçoando o momento em que terei de levantar.

Visto uma blusa branco velha e um shorts desbotados com o tempo, deslizo para a sala como uma criatura asquerosa de histórias de terror, repugnando o barulho do meus passos no carpete.

Deito no tapete encarando o teto.

Queria poder morrer naquele momento, deixar tudo para trás, não teria que lidar com mais nada, imagino como seria a reação das pessoas.
Thommy certamente chegaria quebrando tudo, como sempre faz quando as coisas não saem do seu jeito, depois do alvoroço ficaria olhando para seus sapatos, negando cada lágrima por orgulho,depois de perceber que não havia nada para ser feito iria tomar um café, ensaiando um discurso para meu padrasto, do tipo "Ela foi muito especial pra mim" ou "Não era pra ter terminado assim" ou ainda "Eu iria cuidar dela até o final da minha vida, se tivesse a chance" duvidando silenciosamente de suas próprias palavras.
Não tenho certeza do que Genevieve iria fazer, provavelmente chorar muito e depois tomar uma xícara de café também, pois café combina com mortes repentinas.

Pego o número de Charlotte dentro da minha bolsa, encarando aqueles números como se pudessem se mexer ou quem sabe pular pra fora do papel sumindo no tapete da sala e eu não teria que ligar pra ela.

Por um momento penso na possibilidade de não ligar, então provavelmente ela iria contar a Thommy do nosso beijo, o que ele poderia fazer?, afinal foi simplesmente um beijo, eu poderia dizer que foi acidental, mas ele não acreditaria, iria ser severamente punida, mas pelo o que o conheço jamais faria só isso, iria arrumar uma maneira de acabar com a vida de Genevieve de qualquer maneira,tirar dela o estúdio,sem dúvida ela não conseguiria mais arrumar nenhum emprego em Chicago.

Talvez ele não acreditaria em Charlotte, não acho que a palavra daquela vagabunda valha mais do que a minha.
Ela pode ter uma foto.
Não posso arriscar, não sei o grau de intimidade que ele tem com aquela mulher, talvez ela seja uma das suas submissas de dias tediosos.
Só de imaginar ele fodendo com aquela loira azeda me da náuseas.

Talvez eu devesse ligar e acabar logo com isso, nem imagino o que aquela garota iria querer comigo,não tenho nada de especial, não sou rica, não tenho poder na empresa que trabalho nem nada muito importante.

Vou ter que arriscar.

"Ela:Alô

Sua voz me causa arrepios.

Eu:Charlotte? Aqui é a Annie.

Por algum motivo tive a impressão de que sorriu.

Ela: Oi Annie, como está? melhorou?

Sua falsidade embrulha meu estômago.

Eu:Sim,mas me diga logo o que quer comigo?

Digo secamente.

Ela:Nossa Annie, pra que tanta pressa e grosseria só quero saber como você está, você saiu da festa 3 tons mais branca do que quando entrou.

Eu:Já disse que estou bem, sério, mas eu preciso realmente saber o que você quer comigo usando essa sua chantagem infantil.

Ela ri ironicamente.

Ela: Oh querida, não veja como uma chantagem e sim como um seguro de que tudo vai dar certo.

QUEM ELA PENSA QUE É PRA ME CHAMAR DE QUERIDA!

Eu:Tanto faz, apenas me diga logo!

Ela:Calma, eu explicarei tudo hoje a noite em um jantar no restaurante Alinea hoje as 20:00 que eu te explico tudinho.

Eu:Certo, estarei lá."
Desligo

Odeio o fato de aceitar tudo o que me impõem, culpo anos de convivência com Thommy por isso.

°°••°°••°°••°°

19:30h
Já estou pronta, visto uma calça social preta, uma blusa branca social sem mangas e um casaco por cima, nada muito chamativo, até mesmo um tanto masculino,mas pouco me importa,estou me afogando em oceanos de ansiedade que ela criou.

Dirijo silenciosamente pelas ruas congestionadas de Chicago, não conseguindo me concentrar no trânsito.
Chego no restaurante as 19:55, como ainda tenho um minutos, visualizo as mensagens do meu celular.
Nenhuma nova.

"[19h55]Eu:O Que você está fazendo Ge?"

Quando termino de enviar observo o carro de Charlotte estacionar, ela desce toda arrumada, com um vestido preto de gala, quem vê pode pensar que está indo pra um jantar romântico.

Vem até minha direção e dá duas batidinhas na porta do carro.
Não toque no meu carro vadia.

Saio sorrindo forçadamente, ela me comprimenta impressionante feliz, e toca meu ombro como se tivesse intimidade.

-Vamos Annie, fiz reserva pra gente-diz me puxando pela mão como se me conhecesse a séculos.

Solto-a e continuo andando.

Quando entramos no restaurante que era amplo, com mesas de vidro cobertas com toalhas de seda e velas em seu centro,o garçom nos entrega o cardápio.

-Então o que vai querer?-pergunta ela docemente.
Falsa.

-Não estou com fome, diga logo o que quer para acabarmos logo com isso.

Ela me observa com cautela, dá uma longa puxada no ar e solta como se estivesse cansada.

-Bem se você quer logo saber, eu preciso de um emprego Annie, minha empresa caiu e eu fui demitida, preciso de algo que me dê o suficiente para sustentar a minha vida de luxo...-interrompo

-Ah claro e eu vou conseguir te arrumar um emprego, sou a fodona da minha empresa, contrato e mando embora dentro daquela merda! -digo ironicamente já estressada.

Ela sorri surpresa e diz:

-Você não, mas Thommy sim, trabalhar na empresa dele já me faz ganhar a vida e eu sei que você não trabalha lá mas pode me ajudar, provar que eu poderia trabalhar lá.

-Como você acha que eu devo fazer isso?

Seu sorriso se alarga.
Mais um pouco ela vira o coringa.

-A partir de hoje Annie, nós seremos amigas, do tipo inseparáveis, vamos andar todos os lugares juntas pelo menos até que eu chegue a onde eu quero.

Oi?
Bebeu?

-Acho que não-digo secamente.

Ela me observa cinicamente, retira o celular do bolso e deixa em cima da mesa.
Observo um vídeo de duas garotas caindo dentro da piscina, e em um momento súbito há um beijo, lento e demorado, dedos entrelaçando no cabelo e finalmente um cochicho no ouvido.
Claramente eu e Genevieve.
Não posso acreditar nisso.

-Concorda comigo agora?-pergunta sorrindo.

-Sim.