O temido primeiro dia de aula

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Fui tirada do meu sono com um barulho ensurdecedor, era meu despertador anunciando que havia chegado a hora de adentrar no meu pesadelo.

_Preparada para o grande dia?_ Perguntou meu primo bastardo, que sempre tomava café conosco, embora morasse na casa ao lado. Seu nome era Antonio , tinha olhos azuis cabelos negros e dentes brancos (quase um garoto propaganda de creme dental). Ele sempre tentava manter o clima positivo, mas, óbvio que para ele tudo era mais fácil, pois, já estava na faculdade, não teria que enfrentar o trauma de entrar numa escola nova bem no último ano. Em uma semana estaria em Oxford, na Inglaterra, onde iria cursar administração de negócios.

_Claro_ Respondi com um sorriso amarelo.

Terminei o café da manhã e sai, entrei no carro ,meu pai dirigiu em silêncio. Aaaaaaaaaaaaah é, o Josh é meu pai, ele é um cara legal, embora seja bem esquecido e atrapalhado, o coitado faz o que pode, apesar de que quem olhe para ele veja somente um homem de média estatura, cabelos negros ondulados, olhos verdes arregalados e dentuço, existe muito mais que isso por dentro.

Algum tempo depois estacionamos na frente de um prédio sem vida ,onde concentrava-se uma multidão de alunos, eles observavam as salas em que iriam estudar, havia uma lista com os nomes e as respectivas turmas. Saí do carro, tentei não demonstrar fraqueza, não era mais uma garotinha, portanto, não poderia preocupar meu pai, mas, todos aqueles rostos fitando-me, nossa! Uma brisa gelada bateu em meu rosto, de repente tudo parecia úmido, frio e assustador, o ar cheirava a mar, meus pés travaram.

A escola era bem estruturada, no que dizia respeito a formação acadêmica dos seus alunos, mas, não sentia a mínima felicidade por frequenta-la. Cada dia naquele lugar refletiria meu pesadelo de estar ao lado de pessoas que fingiam minha invisibilidade. Mas, isso não era o pior, estar perto de pessoas me sufocava, como se fosse alérgica, minhas mãos tremiam, minha voz falhava e a minha cabeça, omg... essa parecia uma bomba relógio prestes a explodir.

Respirei fundo e segui, repetia como se fosse um mantra as palavras, "um passo de cada vez"...

Meu pai acenou maquinalmente assim que me afastei, toda aquela situação era um porre! Queria um botão de avançar cenas como no filme do Adam Sandler.

Caminhei por um corredor comprido à procura da sala que estudaria dali por diante, perdi-me várias vezes, porém, quando estava a ponto de desfalecer a encontrei.

Ao entrar meu sangue congelou, todos já estavam acomodados, fui a última a chegar, por isso, foi inevitável os olhares de curiosidade. Duas garotas com cabelos loiros extremamente artificiais, soltaram um risinho enquanto dirigia-me até o meu lugar. Usei a estratégia da invisibilidade, peguei meu livro de Camilo Castelo Branco, meu romancista favorito, estava lendo aquele pela quarta vez, o titulo era amor de perdição, gostava de refletir sobre como um sentimento poderia envolver tanto as pessoas até leva-las a ruína, e se isso era uma fraqueza ou força, pois, a vida era uma moeda cara demais para barganhar se não valesse a pena.

Dez minutos depois, uma mulher baixinha, e com cabelos vermelhos (muito vermelhos, na verdade desnecessariamente vermelhos), entrou na sala e anunciou:

_Todos os alunos dirijam-se até o teatro_ Sua voz era agudamente insuportável, além disso, saiu sem nos dar as coordenadas, não fazia a menor ideia de como chegar ao tal teatro!

Meu coração acelerou, senti o sangue corar minhas bochechas, pensei em enfrentar a multidão novamente, foi tão difícil fazer isso uma vez, todavia não havia escolha, era uma norma maldita da escola, então decidi ser forte, lembrei de Charles Darwin e que só sobrevivem os que se adaptam. Quando finalmente consegui chegar ao teatro, já estava lotado, logo um barulho infernal ecoava no recinto (não existe coisa mais primitiva que um bando de adolescentes juntos). Encontrei uma poltrona, porém, percebi que não possuía força suficiente para puxa-la, o que culminou em um pequeno vexame, mas então surpreendentemente ela cedeu, fiquei demasiadamente animada com a façanha.

Sentei-me, o objetivo de toda aquela ridicularidade, era a apresentação dos professores, do comitê estudantil e dos demais servidores daquele quartel digamos assim que constituía o colégio polvere di rosa, mas meu objetivo com essas esse relato não é criticar essa instituição...

_Olá_ Disse uma garota magricela, de cabelos pretos e olhos puxados. Podia até arriscar dizer que era bonita, mas, não poderia fazer tal afirmação, pois, o homem passou toda a sua trajetória à procura da beleza. Gregos ,renascentistas, modernos...e como eu uma leiga poderia afirmar algo sobre o assunto?...

_Oi_ Minha voz saiu abafada, não entendia o porque daquela aproximação.

_Qual o seu nome? _Insistiu a garota.

_Aurora bianucci_ Respondi, um pouco mais relaxada.

_O meu é Cassiopeia tomasi_ Estendeu a mão na esperança que fizesse o mesmo.

Então, ficamos ali paradas sem pronunciarmos nenhuma palavra a mais, graças aos astros as apresentações acabaram e pudemos retornar a sala de aula. Mal chegamos, veio outra mulher, muito diferente da primeira, esta era alta e muito elegante, sua voz era imponente e firme, dava arrepios.
Ela também, trazia um anúncio.

_Todos para o auditório!_ Sua expressão sinalizava que seria nosso pior pesadelo viver sob os olhos de águia daquela figura enigmática.

_Sabe onde fica o auditório? _Perguntei para Cassiopeia.

_Sim!_ Respondeu educadamente_ Se desejar pode vir comigo_ Completou.

_Claro_ Sorri, alguém estava me ajudando, não sabia o que ela esperava com determinada atitude, mas...

No auditório a mesma chatice do teatro, sentei-me nos fundos com o objetivo de não ser notada, porém, cassie (como resolvi chama-la, pois aquele nome era enorme) lembrou-se de mim.

_Quer senta-se comigo e minhas amigas?_ Sugeriu amigavelmente.

_Muito obrigada! Mas acho melhor ficar aqui._ Menti, na verdade queria aceitar o convite, mas, tinha uma política que me dizia para não socializar com as pessoas da minha faixa etária. Não seria prudente, visto que eu era uma granada ambulante.

Após o termino da reunião voltamos para sala, a sensação de estar aprisionada invadiu-me.

Depois de algumas horas, a aula havia terminado, finalmente!

Estava à espera do meu pai, quando percebi que atrás de onde estava havia um casal, formado por um garoto loiro, pálido, sem vida, e uma garota que tinha o rosto repleto de acnes e o cabelo laranja demasiadamente ensebado, eles falavam mal de minhas roupas.

_Idiotas_ Pensei.

Meu pai chegou. Era um alívio ser retirada daquele lugar cruel.

_Como foi a aula?_ Ele perguntou.

_Muito boa!_ É impressionante como ter o dom dissimular, pode poupar os corações alheios, estava ficando boa nisso, devia alguns pontos a Maquiavel.

361° As Faces De AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora