a sentença

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Eram por volta das vinte horas quando meus pais entraram pela porta, os dois riam muito de algo que deveria ter acontecido no caminho. Meu pai fez casquinha na minha mãe e lhe deu um beijo. Papai deu um salto quando percebeu que eu estava no sofá, provavelmente ficou envergonhado com o fato de sua filha estar presenciando suas demonstrações de amor para sua esposa. A verdade é que os pais parecem personagens de filmes para menores de quatorze anos, nós sabemos que eles estão juntos, mas cenas sexuais são cortadas, pensar na vida sexual dos meus pais deixou-me enjoada, argh!!! Fiquei paralisada pensando em mim, em breve eu seria mamãe, será que eu ainda transaria? Bom, esperava que sim, porque transar é muito gostoso.

_Querida está nos esperando para jantar?_ Disse mamãe aparentando surpresa.

_Sim._Respondi tentando demonstrar tranquilidade.

_Então, nós vamos tomar banho e já descemos._ Ela apontou para o meu pai._ Pede uma pizza._Dessa vez apontou para o meu celular.

_Certinho. _Finalizei acenando com a cabeça em gesto de obediência.

Vinte minutos depois a pizza chegou, os sabores escolhidos foram mussarela e atum (que por sinal era minha favorita), coloquei os copos na mesa, assim como os pratos, os talheres e pizza. Meus pais desceram logo em seguida, eles estavam bem arrumadinhos, minha mãe usava calça jeans, suéter verde e tênis all star, o que lhe conferia um estilo "Universitária gata", já meu pai usava calça moletom cinza, blusão dos beattles e sapatos esportivos. Eles sentaram, servi a primeira rodada da pizza de seis fatias, eles conversavam sobre vários assuntos aleatórios enquanto comiam, falavam sobre a guerra na Síria e a manipulação que a mídia exerce nos adolescentes, tentei ser o mais participativa possível, talvez para aplacar meus nervosismo. Por fim, resolvi ser direta e contar de uma só vez.

_Estou grávida._ Gritei, a voz saiu como um urro, a sensação foi semelhante a de demolir um prédio.

Eles ficaram em silêncio, pareciam confusos, o silêncio durou cinco minutos, o que me deixou muito nervosa. É impressionante os joguetes da vida, nossos pais já foram adolescentes, já viveram mais de setenta por cento dos nosso conflitos e medos, mas quando assumem seu papel na criação de um filho tornam- se generais, exigindo a perfeição. Sabe, eu nenhum lugar do mundo uma adolescente deveria ter medo de falar para os pais sobre um problema, seja uma doença, um trauma ou até mesmo uma gravidez, nossos pais são nosso porto seguro, e se eles nos julgam nos nossos momentos de mais fragilidade isso acaba por criar feridas.

_Você só pode estar brincando._ Disse meu pai interrompendo o silêncio.

_Infelizmente não estou._ Baixei a cabeça, era sem dúvidas o pior momento da minha vida, nunca senti tanto medo antes.

_Aurora, que porra é essa?_ Gritou socando a mesa.

Minha mãe segurou sua mão como se o mandasse ter calma.

_Eu sei que fui irresponsável, e que decepcionei muito vocês, mas eu preciso muito de vocês._Não pude conter as lágrimas, se eles me abandonassem como eu viveria? Teria de pedir esmolas para sustentar meu bebê, pensar nisso fez com que meu choro aumentasse.

_Aurora, uma bosta de uma camisinha é tão simples, por que não usou?_Ele levou as mãos a cabeça em sinal de desespero.

_Pai, fui muito irresponsável._ Queria explicar com mais detalhes, mas seria constrangedor demais, eu sabia da importância da camisinha, mas antes de transar havia conversado com Arthur, o qual explicou que a camisinha prejudica a ereção e por isso ele não curtia muito usar, naquela época só queria agradá-lo, o que trouxe consequências desastrosas para minha vida, ainda bem que era um neném e não uma doença, dos males o menor, é impressionante quando somos pessoas carentes, queremos tanto agradar o outro que sacrificamos até o bem estar próprio.

_Querida, fica calma, e Josh sente-se!_Ordenou minha mãe._Olha, estou muito chocada com a notícia, realmente não esperava isso de você, sério! Você sempre foi a filha perfeita, não imaginei também que seria avó tão cedo, mas temos que resolver tudo isso da melhor forma possível, para nós e para o bebê._Fitou minha barriga ao terminar a última frase.

Meu pai permaneceu sentado, mudo, ele sem dúvidas estava muito afetado pela notícia, talvez fosse ele a parte que havia depositado mais expectativas em mim. Minha mãe segurou minhas mãos em sinal de acolhimento, eu não conseguia parar de chorar, ela enxugou as minhas lágrimas com as mãos, seu toque era tão reconfortante, saber que ela estava ao meu lado, que cuidaria de nós dois foi o melhor presente que eu pude receber.

_E o pai?_ insistiu meu pai, sua voz parecia mais tranquila.

_Ele não quer o bebê?_ Desviei o olhar para não entregar a vergonha escrita em meu olhar.

_ Ele o que?_ Berrou papai, dessa vez mais alterado.

_Ele sugeriu um aborto, ele não está pronto para ser pai?_ Minha voz saiu abafada.

_É o Arthur?_ Perguntou.

_Sim._ Respondi enquanto acenava com a cabeça.

_Ele vai ter que assumir as responsabilidades!_ Cerrou os punhos.

Com toda certeza meu pai queria matá-lo.

_Amanhã iremos a casa dele, não se preocupe querido, tudo será resolvido._Apaziguou mamãe._Agora nossa gravidinha precisa descansar, foram emoções fortes, isso não é bom para alguém nesse estado._ Ela acariciou minha bochecha. Papai revirou os olhos ao ouvir a palavra "gravidinha" , devia estar muito chateado com a suavidade com a minha mãe lidou com a situação fazendo com ele parecesse "O chato incompreensivo".

Em resumo, não foi tão trágico quanto eu havia imaginado, inclusive minha mala estava pronta, passou pela minha cabeça antes da conversa que eu seria expulsa de casa e teria de viver nas ruas mendigando e que o meu bebê seria um promissor marginal que assalta carros. Porém, entre mortos e feridos salvaram -se todos, mas nem todos os monstros tinham sido enfrentados, ir na casa de Arthur depois de toda humilhação que sofri, da rejeição ao meu filho, obrigá-lo a registrar o neném era sem dúvidas uma coisa extremamente difícil de engolir, todavia, não estava em posição de impor absolutamente nada, por isso concordei.

Fui dormir por volta das vinte e duas horas, chequei o celular antes de adentrar o mundo de Nárnia, havia uma mensagem de Cassie.

Cassie: Miga, boa noite.
Espero que a conversa com os seus pais foi de boas, estou ansiosa para saber o que rolou. Bjs para você é o bebê.
;).

Não respondi, pois, o cansaço dominava cada célula do meu ser, também porque havia muito o que dizer e seria melhor fazer isso pessoalmente. Relaxei e deixei que o Aslam me levasse.

361° As Faces De AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora