capítulo 22

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Arthur chegou no hospital quando se aproximava do começo da noite, estava abatido, parecia exausto, deu a desculpa que estava resolvendo uns problemas da empresa, mas minha intuição dizia que não era verdade. Ele pediu para ver o bebê, ficou encantado vendo o pequeno através do vidro, o que fez uma pequena faísca de esperança nascer em meu coração, quem sabe com a chegada do bebê as coisas melhorassem. Conversamos sobre o parto, falei tudo que aconteceu, alimentando sua ira, meu marido era um homem de temperamento forte, ele falou várias vezes que deveríamos processar o hospital e os médicos, um verdadeiro show, como se ele se importasse comigo de verdade, pois, se gostasse realmente de mim jamais teria me deixado sozinha em um momento tão complicado.

Duas semanas se passaram, finalmente o bebê teve alta e pudemos voltar para casa, todo meu corpo doía, mal conseguia caminhar, mas, tentei parecer forte e depender o mínimo possível de Arthur, que havia decidido ficar em casa comigo no primeiro mês para ajudar com o neném, eu suspeitava que a idéia tinha partido do tio dele.

Era domingo a tarde, estava deitada em minha cama amamentando meu filho, quando notei que Arthur falava no telefone, seu tom de voz era desnecessariamente agitado, ouvi quando disse "relaxa, são só uns dias, é pelo meu filho ", achei demasiadamente suspeito o diálogo, mas, não quis problematizar, estava vivendo um momento tão mágico alimentando meu pequeno, que já sorria olhando nos meus olhos, eu só queria cuidar e proteger ele para sempre, tirar todo o mal do mundo para que não sofresse, cada vez que ele chorava eu inevitavelmente ficava aos prantos, era tão desesperador vê -lo sofrer, e o pior de tudo era que não tinha como me dizer onde doía. Por falar em amamentar, descobri que dói muito nas primeiras vezes, foi desesperador quando o bebê sugou o peito pela primeira vez, praticamente insuportável, mas, ele precisava comer então fui forte e continuei ali firme, afinal de contas as mães não podem ser fracas, precisam ser super heroínas indestrutíveis, além do mais se for uma mãe adolescente, precisamos ser fortes em dobro, pois, para sociedade somos culpadas de um crime imperdoável e merecemos pagar das piores formas por isso.
_Oi, você precisa de algo?_Disse Arthur, interrompendo meus pensamentos.
_Ah, não precisa se incomodar, Obrigada! _Respondi, mantendo o olhar fixo no baby.
_Aurora o que há? _Questionou abrindo os braços.
_Não há nada, estou bem, de verdade, já comi, tomei banho, só estou terminando de alimentar nosso filho. _Justifiquei tentando esconder minha raiva por conta do cinismo dele.
_Não, não está tudo bem, você me trata com frieza desde que o bebê nasceu._ Berrou, o que fez com o que neném ficasse assustado.
_Arthur, não precisamos ter essa conversa agora, nosso filho está quase dormindo, deixa pelo menos eu terminar o que estou fazendo._Tentei manter a calma, não por ele, mas, pela criança em meus braços.

Terminei de alimentar o bebê, em seguida o coloquei no berço com dificuldade. O quartinho dele havia ficado tão lindo, seu berço era verde claro, os papéis de parede com estrelas deixava o quarto ainda mais mágico quando as luzes eram apagadas, havia um guarda - roupa branco com puxadores em formato de meia lua, no chão o tapete felpudo brincava com os ursinhos, a maioria deles ainda não seriam usados pelo baby por um bom tempo, mas, mamãe havia insistido tanto que fui vencida pelo cansaço.

Caminhei de volta para o quarto com dificuldade, Arthur me acompanhou, provavelmente iria retomar o assunto, será que ele era incapaz de entender que mulheres paridas são sensíveis? Eu precisava de carinho, atenção e ajuda, não de alguém me acusando ou interrogando o tempo todo, se tinha alguém naquela casa que precisava dar explicações com certeza não era eu. Sentei -me com dificuldade na cama. Ele permaneceu em pé, com os braços cruzados.
_Então, pode começar a falar, estou esperando._ Insistiu.
_Arthur, pelo amor de Deus me deixa em paz._Sussurrei, queria chorar, nada estava acontecendo como havia sonhado, tudo parecia errado e doloroso.
_É claro que existe algo, você não me beija desde que o bebê nasceu._ gritou.
Então, levantei com bastante dificuldade, caminhei vagarosamente até ele e o beijei, ele retribuiu o gesto. Mas, sinceramente eu sentia nojo ao fazer aquilo, enquanto o beijava pensava nele beijando outras, tocando outras e talvez até transando, no momento em que eu estava no hospital, sendo dilacerada para ter meu filho, pagando pelo crime que nós dois cometemos. Lágrimas, brotaram no canto dos meus olhos, respirei fundo para não desmoronar em sua frente. Ele sorriu, acariciou meu rosto, provavelmente meu gesto tinha massageado o ego dele e o deixado mais tranquilo, como um cachorro que marca território, aquilo parecia um aviso, que meu corpo pertencia a ele.

361° As Faces De AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora