A complicação

8 1 0
                                    

Acordei sentindo uma terrível dor na barriga, abri os olhos, mamãe estava deitada sobre mim. Ainda estava sonolenta, tentei movimentar o braço mas havia algo que o prendia, tentei retirar, porém, minha mãe impediu que eu fizesse.

_shhhhhh._ Mamãe passou a mão em meus cabelos._Querida você está no hospital._ Disse baixinho. Então era isso, aquele era um quarto de hospital, mas o que estava fazendo ali? Olhei em volta, Arthur estava sentado em um sofá preto de dois lugares que havia no canto do quarto, para minha surpresa. Então a ficha caiu.

_Mãe e o bebê?_ Uma dor invadiu meu peito, e lágrimas recorreram pelo meu rosto, meu filhinho tão miudinho, será que ele ainda estava ali?.

_Não fica preocupada, a médica estará logo aqui para trazer notícias._ Ela segurou minhas mãos. Meu coração estava muito apertado, mamãe não havia falado que o bebê estava bem, ficar nervosa foi inevitável, por que ninguém falava sobre o neném? Cada segundo que passava aumentava minha aflição. Um minuto depois a médica apareceu na porta com uns papéis na mão.

_Bom dia, querida._ Falou sorridente.

_Como está o meu filho?_ Perguntei desesperadamente. Era a única coisa que importava no momento.

Esmaguei o travesseiro, nunca senti tanto medo antes, omg como amava o meu filho, naquele momento tive a certeza que faria qualquer coisa por ele.

_Calma, Aurora, ele está bem, saudável, evoluindo bem._ Respondeu sorrindo. Suas palavras foram o melhor calmante que já tomei na vida, como era aliviante saber que meu filhinho estava bem. Somente com a mente mais relaxada pude notar sua beleza, ela era alta, magra, tinha cabelos loiros curto, olhos castanhos e nariz bem fino, uma verdadeira top model, usava um tubinho azul marinho, o qual estava coberto pelo jaleco branco, onde estava escrito Dr. Sleyce Valoir.

_Está vendo meu amor, não tem porque ficar agitada, nosso neném está bem._ Falou mamãe pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Sorri, sim, como era boa aquela notícia, Arthur permaneceu calado, continuou nos olhando fixamente com seus olhos negros. Tentei sentar mas novamente senti uma pontada na barriga.

_Doutora, estou sentindo uma dor na barriga, é normal?_ Indaguei.

_Olha, vamos ter uma conversa bem sério agora mocinha._A doutora sleyce sentou-se na cama. _ Você está grávida de seis semanas, sei que nessa fase a mulher ainda não entendi que a gravidez causa algumas limitações, afinal de contas não há barriga aparente, mas não deixa de ter um neném dentro de si por isso, na sua idade isso deve ser mais complicado ainda, afinal de contas você ainda frequenta a escola e tem uma vida de adolescente, mas você não pode deixar coisas pequenas regressarem você, porque isso afeta diretamente o bebê, Aurora, é uma menina muito forte, pode ter uma gravidez saudável, mas para isso precisa eliminar da sua vida tudo que produz estresse ou correrá o risco de perder a criança._ finalizou. Sua voz era calma e educativa, como as professoras do maternal. Tentei pensar nas minhas fontes de estresse, e meus olhos encontraram o de Arthur, ali estava minha lagoa de irritação, o homem que tirava minha paz.

_Prometo que vou eliminar da minha vida tudo aquilo que me aborrece._ Enfatizei a palavra "eliminar" para que Arthur entendesse o recado.

Doutora sleyce ficou satisfeita com minha resposta, ela com toda certeza percebeu o quanto sou teimosa, ou seja, quando decido algo, nem por um decreto presidencial é desfeito. Ela injetou alguns medicamentos em meus braços. A dor suavizou de modo que agora era possível estar sentada, mamãe havia saído do quarto para almoçar, deixando-me sozinha com Arthur, omg ela não tinha pegado a referência.

Liguei a televisão do quarto, estava passando Bob Sponja, um dos meus desenhos favoritos, no naquele episódio o lula molusco estava ensaiando com sua clarinete, mas o Bob Sponja e o Patrick atrapalhavam o tempo inteiro, sorri ao pensar que em pouco tempo o neném estaria assistindo desenhos comigo, óbvio que ele seria muito pequeno para entender, mas seria delicioso fazer meu filho sorrir.

Naquele momento descobri o que é ser mãe, pois, mesmo com a dor que os medicamentos causavam eu só queria meu neném bem, a dor era irrelevante diante da felicidade de saber que o bebê estava saudável, nossa! Mãe realmente é um ser iluminado.

Arthur caminhou até mim. Minhas mãos tornaram-se geladas, todavia, tentei manter a calma, pensei no meu filho a todo tempo.

_ Aurora, quero pedir desculpas, eu fui um canalha com você. Tudo começou com uma maldita aposta, mas quando eu conheci você percebi que você era diferente, uma garota sensacional, real, sem futilidades e capaz de fazer tudo pelos para defender aqueles que ama. Fiquei completamente apaixonado. Naquele dia que você me viu com a Beline estava terminando tudo com ela. Sei que parece difícil de acreditar mas nós não transamos, estive no banho sem roupas quando ela entrou em meu quarto, então quando saí ela estava semi nua  e me abraçou, tentei afastá-la, falei o tempo todo que não queria mais ficar com ela, mas como era insistente aquela garota. Então, quando ouvi o barulho que cesta fez ao cair no chão e vi você na porta, só conseguia pensar no quanto eu te amava, queria apenas uma chance para explicar tudo. Não foi eu quem entregou os vídeos para o Mario, mas sim a Beline, ela acessou o meu computador, minutos de eu sair do banho._ Desabafou ele, com sua voz trêmula, e seus olhos cheios de lágrimas. Parecia sincero, mas eu não poderia me comover tal facilmente, afinal de contas suas palavras não seriam capazes de reparar o mal que ele causou.

_ Por que quis matar o bebê?_ Tentei manter a voz firme.

_Eu não pensei que fosse verdade, achei que você estivesse querendo "dar o troco"._ Respondeu aos prantos.

_Mas na casa do seu tio você levantou a suspeita do filho não ser seu._ Ironizei, todo aquele discurso de Judas arrependido me dava nos nervos.

_Eu nem sabia o que estava falando, sério, ver você ali deixou-me completamente atordoado. No primeiro momento imaginei que seus estivessem em minha casa para falar dos vídeos, pois, eles nunca me retaliaram por fazer isso com você, o que achei muito estranho._ Ele tentava o tempo inteiro se justificar, mas isso com toda certeza era mais um dos seus milhares de truques. A confiança é realmente um vaso muito sensível, uma vez quebrado não há como juntar os pedaços.

_Eles não sabem que foi você, o que todos sabem é que o Mario postou, nada além disso. Somente Cassie sabe a verdade._ Expliquei de forma clara, tentando o tempo todo conter as lágrimas a falar de algo que me marcou tanto. Eu realmente não tinha denunciado Arthur aos meus pais, só queria pôr uma pedra sobre a história, e não seria possível apagar essa fogueira se meus pais soubessem, nem com toda a água do mundo.

_Obrigada por fazer isso._ Segurou minha mão, eu a puxei retirando de perto da sua. Até seu leve toque deixava- me com ânsia de vômito.

_Não fiz por você, fiz por mim._Falei seca, com o objetivo de finalizar a conversa.

_A médica disse que você vai ter alta as quatorze horas, vou te levar para casa. Prometo que vou ficar ao seu lado, que vou ser um pai presente, nossa! A palavra "pai" é assustadora, não tive um bom referencial, mas vou tentar ser um._ Sua voz era tranquila.

Fiquei surpresa com seu discurso, estava vivendo a relatividade de Einstein, em um momento ele diz "Quero matá-lo" no outro "Quero ser um bom pai". Com toda certeza algo muito louco estava acontecendo.

_Obrigada._ Agradeci, não que eu o quisesse ao meu lado, mas talvez o bebê quisesse, e com toda certeza faria qualquer coisa para ver meu filho feliz, mesmo que isso significasse sacrificar a minha felicidade.

Eram dezesseis horas quando Arthur deixou eu e minha mãe em casa, ele me ajudou a subir as escadas já que papai havia precisado trabalhar naquela tarde. Vagarosamente deitei em minha cama, Ele ficou um tempo sentado ao lado dos meus pés. Então, nos despedimos com um aperto de mãos. Decidi que seria o mais educada possível com o pai do meu filho, porque é isso que bons pais fazem, colocam as necessidades dos filhos acima das suas.

Os remédios deixaram-me sonolenta, por isso, resolvi dormir.

361° As Faces De AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora