A mudança de sala

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A mudança de sala

Uma semana depois tive que mudar de sala ,o que foi bem surpreendente, porém esse fato se devia a escolha das optativas (as quais fui obrigada a "escolher").Confesso que foi melhor, pelo menos fiquei na mesma sala que cassie.

O tempo passava devagar, mas...passava! Cada minuto naquele lugar era insuportável, e meus dias estavam resumidos a olhar pela mesma pequena janela ,como se estivesse a espera de um milagre.

Meus pensamentos foram interrompidos por um leve toque em meus cabelos ruivos...

_Aurora, o sinal tocou, é hora do almoço._ Gritou Cassie, que estava encostada na soleira da porta. Parecia nervosa, mas pudera, o almoço representava o pior dos castigos para pessoas tímidas e antissociais como nós.

_Já estou indo._ Respondi enquanto arrumava meu material escolar na mochila e pegava meu mp4,(o fato era o seguinte: Odiava ter que conviver com aquelas pessoas, então buscava meios de fugir, e a música era um caminho). Além disso, a refeição não podia ser chamada nem de "decente", as cozinheiras não eram as pessoas mais simpáticas do mundo, e embora fosse um clichê total dizer que tudo era demasiadamente ruim...na verdade, essa poderia ser uma opinião considerada!

Quando finalmente descemos ,a fila já estava gigantesca (o que sempre acontecia),todavia, conseguimos um lugar, e logo a fila começou andar. Peguei uma bandeja e comecei caminhar em direção aos recipientes onde estavam os alimentos.

_Pizza?_ Perguntou uma das cozinheiras que parecia entediada com seu trabalho repetitivo.

_Claro._ Minha voz saiu abafada, talvez o pavor fosse um dos fatores que contribuíram para isso.

Passei a bandeja por cada um dos recipientes até enchê-la. De repente senti uma sensação estranha , algo que jamais havia sentido, meu corpo começou tremer ,o sangue sumiu do meu rosto...

Quando virei o corpo a única coisa que pude ver foi a silhueta de um garoto, branco, seus cabelos castanhos dourados e os olhos mais negros que havia visto ... fiquei paralisada ,meu corpo não obedecia aos meus comandos ,embora tentasse me mover não parecia possível, e foi nesse momento que percebi algo deslizar das minhas mãos. O que podia ser? Oh não! Era minha bandeja .

_Aurora, você está bem?_ Perguntou Cassie enquanto me fitava preocupada.

_Sim!_ Minha resposta, óbvio, não passava de uma mentira deslavada, tal constrangimento lembrou-me de quando frequentava o maternal e sujava minhas roupas com aquela maldita sopinha . Mas por que essas coisas só aconteciam comigo? Havia tantas pessoas no refeitório , por que sempre eu? E quem era aquele garoto? O que aconteceu naquele instante? Para onde ele foi?...Eram tantas perguntas.

Todos em volta me devoravam com seus olhares ferozes, o que somente contribuía para assolar minha vergonha, se o plano era "não chamar atenção", acho que havia começado da maneira errada.

Foi então que tive a brilhante ideia de sair correndo, meus pulmões pareciam que iriam explodir, era uma vergonha tão absurda...

Subir as escadas correndo, cheguei a sala praticamente sufocada, o mal estar não havia passado e tudo estava confuso demais...porém naquele momento meu único objetivo consistia em retirar os feijões grudados na minha calça. Que vergonha! Queria morrer.

_ O que aconteceu?_ Perguntou Cassie (alguém, por favor, me explique, por que toda vez que nos acontece algo ruim surge alguém para nos fazer essa pergunta idiota? Coisa chata!

_Não sei_ Respondi sem jeito, talvez falar a verdade não fosse uma boa ideia, confiar em uma estranha não era uma opção.

A tarde passou mais lenta que de costume, e novamente estava gravitando em torno de questões sem nexo durante a aula, pensava na verdadeira razão da vida, em como o mundo era regido por regras inúteis que aprisionavam idiotas. Finalmente, a tortura chegou ao fim(bom era o que pensava, porém ainda teria que enfrentar um corredor lotado de pessoas vazias, que como parasitas sugam a alegria e dignidade dos outros para satisfação própria...que espécie fraca, que seres desprezíveis).Então, como não podia me teletransportar achei uma estratégia, a qual era cobrir o rosto usando o casaco velho que sempre levava na bolsa.

Finalmente, cheguei em casa e meu primeiro pensamento ao passar pela soleira da porta foi "uffa", estava cansada, destruída, humilhada...

Fiquei calada durante todo o jantar, respondi uma ou duas perguntas feitas por minha mãe, sendo que minhas respostas não passavam de "sim" e "uhum".

Algum tempo depois estava deitada em minha cama, meu quarto parecia escuro, sombrio e nunca me senti tão sozinha quanto naquela noite, tão esquecida, o meu mundo não era mais o mesmo, algo estava errado, muito errado...Porém, resolvi não me preocupar, apenas chorei como uma criança que deixou o sorvete cair, fechei os olhos e deixei a escuridão me afogar.

z0m


361° As Faces De AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora