Cachinhos Dourados

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Meu carro só ficaria pronto na terça, então peguei a velha caminhonete do vovô emprestada. Aquele trambolho já tinha mais de trinta anos, era pesada e feia, de um marrom terroso.
Ao ver as profundas olheiras de Luísa, tive que morder a língua para não abrir o bico. Centenas de vezes durante o caminho, lhe repeti que tudo se resolveria, os meninos por sua vez, estavam inquietos, visivelmente preocupados com a mãe, mas a presença de Kirk os distraía um pouco.
A estância, ficava em uma localidade do interior do município, era o refúgio de meu pai, que preferia o campo a cidade, como ele mesmo dizia, " sua alma campeira vivia livre ".
Luísa se animou um pouco ao ver a casa surgir no horizonte, sempre nos divertimos muito na estância. Assim que estacionei, dona Nena veio a nosso encontro:
- Teu pai não me disse que tavam vindo pra cá. Vou colocar mais água no feijão.
- Papai tá aqui? - perguntei, estranhando pois ele me disse que ficaria na cidade o fim de semana.
- Tá lá no curral com o delegado.
- Delegado!? - e eu inquirimos ao mesmo tempo.
Dona Nena levou os meninos para dentro, e Luísa e eu fomos até o curral saber oque estava acontecendo.
- Pai?
- Me esqueci que vocês estavam vindo pra cá. - ele me beijou a testa e fez o mesmo com Luísa.
- Senhorita Schmidt. - o delegado Medeiros me cumprimentou com um aceno de cabeça, retribui do mesmo modo.
- Oi Daniel. - Luísa para meu espanto o abraçou amigavelmente.
- Vocês se conhecem? - inquiri surpresa.
Os três me olharam como se eu tivesse vindo de outro mundo.
- Ana - Luísa levantou as sobrancelhas para mim - Daniel é neto da dona Marta, ele e Samuel eram inseparáveis.
Espera aí!
- Daniel, o ranhento? - inquiri incrédula, aquele homem em nada me lembrava o garoto magrelo, que eu conhecerá.

Dona Marta, antiga vizinha dos meus avós era uma senhora divertida, me recordava bem dela, e de seus bolos de milho verde

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Dona Marta, antiga vizinha dos meus avós era uma senhora divertida, me recordava bem dela, e de seus bolos de milho verde. E é claro me recordava de seu neto Daniel, sempre fungando o nariz avermelhado, ele sempre vinha passar as férias na casa da avó materna. Luísa tinha razão ele e sam viviam grudados, aprontando alguma coisa.
- Prefiro que me chame de delegado Medeiros. - ele disse,me olhando de um jeito que me deixou constrangida.
- Oque houve aqui?-inquiri à meu pai, mudando de assunto.
- Algumas novilhas foram roubadas.
- Quantas? - perguntou.
- Duas.
Roubo de gado não era uma novidade em uma região pecuária, mas a crueldade da ação sim. As novilhas tinham sido mortas no campo e só as partes mais nobres da carne foram levadas.
- Vou fazer o possível para capturar os culpados. - o delegado Medeiros... Daniel prometeu à meu pai, fiquei olhando seu jeito profissional de agir, procurando aquele guri loirinho, que costumava me irritar com seu nariz avermelhado e aquela mania de...
- Ana?
Olhei para minha irmã caçula, que me encarava com seu jeito de " tô sacando tudo"
Depois que os peritos vieram e foram embora, papai e Luísa insistiram para Daniel ficar para o almoço, mas ele agradeceu o convite dizendo não poder, e se foi apressado. Vai ver tem alguém esperando por ele, pensei me recordando da foto no escritório da delegacia, a bebê loira com seus cachinhos dourados e os olhos azuis como os dele. Não havia aliança na mão dele recordei , onde estaria a mãe da menina?
Cogitei perguntar a Luísa, mas desisti. Afinal a vida do delegado Medeiros não me dizia respeito.

Meu Conto De FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora