Rapunzel

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          Rolei na cama tentando entender oque tinha acabado de acontecer.
— Cretino! – me beijar, com a mulher e a filha esperando em casa.
    Oque esse idiota estava pensando? Da próxima vez que eu o encontrasse ele ía ver só!
Não, melhor não. Agora mais do que nunca eu tinha motivo para fugir dele como Drácula foge da cruz.
— Isso mesmo, Maria Ana!
    Tudo oque que eu não precisava era um rolo com homem casado no presente momento.
   Decisão tomada, o difícil mesmo seria mantê - lá fui logo descobrindo.
      Como era domingo, fiquei na cama até mais tarde. Tinha combinado de almoçar com minha família, então levantei tomei um banho, e saí. Como precisava pensar, fui andando devagar tendo Kirk como companhia, ele havia crescido bastante, em nada lembrando o filhote magrela que eu encontrei na estrada.
— Calma! – ele parecia ansioso para chegar logo e poder ser mimado pelos meus sobrinhos e primos menores. – Ok, vamos logo.
      No momento em que, entrei no chalé, me arrependi de ter caminhado tão rápido.
— Oi.
   Balancei a cabeça a guisa de cumprimento, oque o delegado Medeiros estava fazendo alí?
— Daniel, vai almoçar conosco. – minha mãe sorriu ignorando meu desconforto – ele ficou sozinho no fim de semana.
      Ah é? O fulminei com os olhos, por isso aquele beijo de ontem à noite.
— Cadê a Duda? – os meninos perguntaram alguns minutos depois, apurei os ouvidos, fingindo prestar atenção, no que mamãe me dizia sobre Júlia ter sumido no meio da festa.
— Ela foi viajar com a mãe.
— Ela vai demorar?
— Não, não vai. – pude perceber pelo seu modo de falar que ele não aprovará essa viagem da mulher e da filha, talvez por isso tenha querido se vingar dela me dando aquele maldito beijo.
Idiota!
  — Bom dia, querida. Por que esse bico? – papai inquiriu depois de beijar meu rosto.
   — Que bico? – sorri disfarçadamente.
    Durante o almoço procurei me sentar bem longe de Daniel, nem ao menos olhei em sua direção. E fiquei aliviada quando ele se despediu.
  — Oque foi isso? – vovó me perguntou com aquele seu olhar perspicaz.
— Isso oque? – Me fazer de boba não era uma boa estratégia eu sabia, mas não consegui pensar em nada para dizer.
— Tem algo acontecendo, não é? Entre Daniel e você?
— É claro que não, vovó!
— Tudo bem, vou fazer de conta que acredito.
     Fugir era a melhor opção, concluí, deixei Kirk com os gêmeos e saí de fininho, precisava ficar um pouco sozinha. Dessa vez fui andando devagar, sem nem ao menos notar as nuvens que se formavam escuras no céu. O porquê daquele beijo, não me saía da cabeça.
—Nem foi nada de mais, afinal foi só um beijo, e bem sem graça!
—  Sem graça?podia jurar que você tinha gostado.
    Quase dei um grito!
— De onde você saiu? – questionei super envergonhada, se eu fosse branca estaria vermelha como um pimentão. Aquele sorriso, oque tava acontecendo? Por que ele ficava me olhando daquele jeito? Isso só me fazia ficar ainda mais confusa.
— Tá me seguindo? – perguntei,  pondo as mãos na cintura.
— Quer chamar a polícia? – que homem insuportável, olhá - lo assim de perto era um perigo constatei aturdida.

    Como aquele guri magrela e sem graça veio a se transformar em um homem tão charmoso? Me questionei lembrando das muitas vezes em o virá na infância, não era de se estranhar que não o tivesse reconhecido.
— Tá legal, oque você quer comigo, delegado Medeiros?
    Daniel me encarou o sorriso se alargando mais ainda.
— Você é uma cabeça de vento mesmo.
— Que???
    As gotas de chuva foram caindo rapidamente, era uma chuva gelada de outono, me encolhi naturalmente e confesso que cheguei a pensar na minha escova progressiva indo ralo a baixo.
— Vêm! – meu coração deu um salto, corremos pela chuva de mãos dadas, e isso me trouxe uma lembrança antiga, algo no qual eu não pensava há muito tempo.
      Daniel sempre vinha passar as férias na casa dos avós, ele costumava alguns anos mais novo que eu, ele logo fez amizade com Samuel, garotos mais novos nunca chamaram minha atenção, na época em questão eu assim como todas as garotas vivíamos com os olhos voltados para o time de futebol.
— Letícia Doeler.
   Ela era a garota mais popular na época, todos os guris corriam atrás dela, até mesmo Daniel. Não sei porque ele decidiu se declarar para ela, um garoto magrela e espinhento de onze anos, oque mais poderia acontecer além de uma rejeição?
— Caí fora seu moleque ranhento! – depois disso o apelido realmente colou.
   Na verdade assim como todos que estavam alí eu também . Porém depois, ao ver Daniel sentado no meio fio, com jeito de cachorrinho abandonado, comecei a pensar no tipo de pessoa que eu queria ser.
— No que tava pensando? – perguntei grosseira, aos treze anos e meio delicadeza não era o meu forte – Pedir Letícia em namoro? Você e ela, nada a ver...
— Valeu! – ele me olhou ofendido, o rosto sujo de lágrimas.
    Suspirei.
— Ela é uma vaca!
    Daniel sorriu tímido.
— É sim.
    Rimos, eu sempre tive jeito com crianças.
— Você devia procurar uma garota mais legal.
Dessa vez foi ele quem suspirou.
— As garotas não gostam de mim, acho que nunca vou arranjar uma namorada...
    Pré adolescentes são trágicos por natureza.
— Tudo bem, se eu chegar aos trinta anos e ainda estiver solteira, eu prometo que vou ser tua namorada.
    Choveu naquele dia também, uma chuva forte de verão, me lembro do sorriso do Daniel de onze anos enquanto corríamos em busca de abrigo. O destino dá voltas, mas sempre acaba no mesmo lugar minha vó costumava dizer, será que ela estaria certa?
 

Meu Conto De FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora