capítulo | 02

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Quatro garrafas long necks, algumas doses de whisky e só. Era a única coisa de que se lembrava, depois de tomar algo muito forte dado por Bob. Ou o que ele pensou ser o Bob.

A manchete que piscava na tela de seu notebook parecia triplicar a dor de cabeça que o acompanhava naquela manhã. Alex não se recordava muito bem, apenas acordou em sua cama, ainda com os trajes da noite anterior e um cheiro horrível de suor misturado com bebida. Mas, assim que abriu os olhos, tendo a infelicidade de enxergar a luz extremamente forte que sua janela aberta oferecia, soube que alguma merda muito grande estava para acontecer. Ou já havia acontecido; e sua primeira ação fora procurar o eletrônico pelo quarto, acessando a página de notícias principais do Departamento 8. Era um site privado, mas boa parte dos departamentos de Nova Iorque tinham acesso, o que era uma grande merda. Ele já havia dito que sua vida estava uma merda? Merda. Ele usava muito essa palavra. Passou as mãos pelos cabelos negros, lendo com dificuldade pela segunda vez, a manchete que levava seu nome para o fundo do poço: Agente Keller ou Agente Fracassado? Ao lado, uma foto sua sendo carregado por Jane mas, não pense que parou por aí. Havia uma galeria de brinde, para quem quisesse apreciar ainda mais o seu estado lamentável.

Afastou o notebook, deitando-se novamente em seu colchão. A dor aguda que crescia por sua cabeça parecia estar partindo-a ao meio, enquanto a vontade de ir ao Departamento aquela amanhã apenas diminuía. Não contava com mais um dia recheado de comentários irônicos e olhares atravessados; estava farto de todo aquele ambiente, farto de não poder mostrar o quão útil poderia ser em qualquer campo que o colocassem. Deu um soco no travesseiro, o jogando no chão. Mas, desistir era uma palavra que não fazia parte de seu dicionário e o pensamento lhe despertou daquele estado deprimente. Abandonou a cama, indo em direção ao banheiro para livrar-se dos resquícios da noite anterior; não demorou muito no banho, apenas o suficiente para que o cheiro forte do álcool descesse pelo ralo junto com a sua paciência. Vestiu seu terno, deixando a blusa social branca para fora da calça e o paletó jogado no ombro. Encontrou as chaves de seu carro e partiu em direção ao 8.

Como era esperado, as pessoas lhe recepcionaram com sorrisos de deboche e cochichos com seus respectivos companheiros de trabalho. Tentou abstrair o que se passava ao seu redor, dando passos rápidos para chegar a sua sala o quanto antes, mas algo prendeu sua atenção assim que virou a esquerda, no corredor onde ficavam os elevadores.

Bob parecia se divertir com o smartphone em mãos, mostrando algumas fotografias para os três rapazes que estavam ao seu lado. Não se recordava de seus nomes, mas aquilo não importava. A raiva que lhe atingiu veio como uma tempestade repentina, rápida e forte; não era um costume agir com impulso, mas no instante em que ouviu seu nome ser pronunciado pelo moreno, sua mente se apagou e tudo o que sentiu foi uma gritante explosão de fúria. Mais alguns passos rápidos e a última coisa que viu foi o olhar surpreso do outro agente, antes de ser acertado violentamente pelo punho direito de Alex. Assim que recobrou o consciente, notou o que havia feito. Bob estava no chão, com a mão sobre o nariz, que parecia expelir uma quantidade preocupante de sangue. Os dois rapazes que antes riam das piadinhas, agora lhe seguravam de ambos os lados, enquanto o terceiro estava ajoelhado ao lado do amigo, parecendo analisar a gravidade da situação.

— Você é mesmo um grande filho da mãe — o homem de cabelos louros cuspiu, enquanto ajudava Bob a se levantar. — Ficou louco, cara?

— Isso foi uma amostra do que o agente fracassado pode fazer — se desvencilhou dos braços que o continham, afastando-se. Levou as mãos à cabeça sentindo o peso na consciência lhe maltratar. — Foi uma escolha sua.

— O que está acontecendo aqui? — Jane apareceu de repente, analisando minuciosamente a face de cada um. — Mas que merda foi essa com o Bob?

— Pergunte ao Keller — o loiro novamente se pronunciou, lançando um olhar quase mortal ao agente 030.

AGENTE 030 (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora