Mais uma vez atrás da porta, ouvindo ruídos, palavras cortadas, sussurros. Seu coração acelerado, como se a qualquer momento fosse saltar pela boca. Sentiu uma gota de suor escorrer pela lateral da face e tentou prender a respiração, para que não fosse descoberta ali. Algo grande estava acontecendo, disso Kate tinha certeza.
Mudança de cenário.
Correr. Correr. Correr. O som ecoado de um tiro. Dois. Vários. Vários tiros eram disparados, enquanto ela mantinha o ritmo rápido. Correndo. Ela não podia parar porque tinha quase certeza de que aqueles disparos estavam vindo em sua direção; sentiu o pé fincar numa pedra e seu corpo foi de encontro ao chão. Não estava conseguindo se levantar. Ousou olhar para trás e viu a sombra do seu maior pesadelo tomando forma... Cada vez mais próximo... Cada vez maior... A respiração rápida queimando seus pulmões, provavelmente iria morrer de desespero antes mesmo de receber um tiro no meio do peito. Tentou gritar. Mas era tarde demais.
O grito ecoou pelo apartamento fazendo Alex dar um salto do sofá em que dormia; sem muito o que pensar correu aos tropeços em direção ao quarto de Katherine. Por sorte, a porta estava destrancada e adentrou sentindo a adrenalina eliminar qualquer vestígio de sono que ainda perambulava em seu organismo. A garota estava deitada, olhos bem fechados, como se lutasse contra algo que o agente não podia enxergar. Ele aproximou-se, sentando ao lado do corpo que estava tremendo sobre o colchão; ele notou o rosto suado, as lágrimas que escorriam, a forma como as mãos se agarravam aos lençóis. Não precisou raciocinar para concluir que estava num pesadelo, mas o que lhe incomodou ainda mais foram as palavras que começaram a sair da boca dela:
— N-não... — sussurrou, a voz trêmula — P-por favor... Me deixa em paz...
Alex uniu as sobrancelhas, tentado a continuar presenciando aquela cena perturbadora. Talvez ela pudesse dizer mais alguma coisa? Deixar alguma informação escapar? Deixou que os pulmões voltassem a respirar e levou a mão até o ombro de Katherine, chamando-a pelo nome. Não a deixaria presa naquele tormento. Elevou o tom de voz, chacoalhando o corpo da garota pela terceira vez até que num rompante ela se sentou, levando os joelhos até o peito e olhando afobada o local em que estava. Parecia procurar por alguém, mas o agente não contestou. Os olhos castanhos estavam marejados e vermelhos, a respiração entrecortada, os fios de cabelo presos na testa úmida; parecia que havia acabado de correr uma maratona. Enfim, notou a presença de Alex em sua frente e um silêncio imediato imperou no local, sendo quebrado vez ou outra pelos suspiros que saiam da boca seca da mulher.
Não queria que ele a visse naquele estado. Não depois da noite produtiva que tiveram, fixando informações, revelando detalhes importantes a respeito da morte de Roger. Agora, no entanto, ele tinha o total direito de acha-la uma louca, desequilibrada. Ainda podia sentir a sensação nojenta do filho da mãe tocando-lhe no pesadelo, enchendo-a de ameaças e palavras ofensivas. Em que momento ela deixou que o ex a atormentasse assim? Sempre fora forte o suficiente para retrucar todas as atitudes idiotas do cara, mas logo após o acontecido, não conseguia passar um dia sequer sem sentir o medo crescente em seu coração. Sentia-se vulnerável, como se a qualquer momento todo o seu passado fosse cair em sua cabeça, mergulhando-a numa prisão. Encostou o rosto nos joelhos, permitindo que mais algumas lágrimas escapassem; não soube quanto tempo ficou assim, mas sentiu a mão grande e quente do agente Keller na lateral de seu braço.
— É a segunda vez que você chora na minha frente — ele disse, aproximando-se um pouco — Eu devo me preocupar?
Katherine sorriu, erguendo o rosto novamente, sentindo o coração apertar com a proximidade em que estavam. Talvez ele tivesse o poder de fazê-la rir constantemente.
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AGENTE 030 (hiatus)
Romance[book two] Alexander Keller, ou agente Keller - como é conhecido no Departamento 8, se tornou o trigésimo agente nomeado ao cargo entre todos que estavam na disputa. Seguindo a linha da tradicional família de agentes da qual veio, precisa provar a t...