Dois dias haviam se passado desde a conversa que havia sido finalizada com um acordo; ambos sairiam "beneficiados". Mesmo sem pensar muito a respeito, Katherine sabia que o único a se dar bem naquela loucura seria o próprio agente Keller. Ninguém seria capaz de trazer Roger de volta à vida. Ninguém seria capaz de oferecer a ela uma vida cheia de segurança e tranquilidade. Selar aquele acordo talvez tenha sido um modo de escape, pois sabia que a partir do momento em que colaborasse com toda a investigação, as coisas se desenrolariam mais rápido e em pouco tempo estaria distante daquele mundo de proteção, policiais e sabe-se lá mais o que. De toda forma, achou estranho o sumiço repentino de Alexander e aquilo estava lhe incomodando profundamente.
A noite anterior havia sido turbulenta, pois mais uma vez suas lembranças se disfarçavam de pesadelo para lhe atormentar; acordou desesperada, com um grito preso na garganta, olhos cheios de lágrimas e a sensação de estar sendo vigiada na maior parte do tempo. Dessa vez, seu subconsciente fez questão de lembrá-la o quanto ela era uma cretina. Abandonar os pais drogados, se aliar ao bandido mais perigoso do bairro e se arrepender aos 45 do segundo tempo: era a isso que se resumia a brilhante história de Katherine. Apenas Katherine.
Nem ao menos o sobrenome ela fazia questão de lembrar; Katherine Walsh veio depois e ela nem sabia a explicação para o destino ter sido tão bom com ela. Ingeriu mais um gole do café forte que havia feito e continuou a pensar sobre tudo aquilo. Por que ela havia sido a escolhida para ter um futuro tão brilhante? Conseguiu se formar, dava aulas na melhor escola para crianças de Nova Iorque e diariamente se via constrangida por receber tantos elogios; agradecia profundamente a Roger Walsh pela oportunidade, mas ainda sim se via cheia de perguntas sem respostas. O conto de fadas não durou muito tempo, como era de se esperar.
Encaminhou-se até a sala assim que ouviu a porta ser aberta; mesmo com a certeza de que sempre seria o agente Keller, ainda sentia pequenos sustos ao ouvir a maçaneta girando. Jamais se acostumaria com aquele apartamento no meio do nada e, por mais que dissessem ser o local mais seguro do mundo, por intuição não conseguia acreditar naquelas palavras. Nenhum lugar era seguro o suficiente para livrá-la daquela constante sensação de medo.
— Ei — o rapaz lhe cumprimentou, acomodando-se no sofá e abrindo a pasta de couro que carregava — Como andam as coisas por aqui?
— Dei uma festa — ironizou, apoiando-se no batente que separava a cozinha da sala; recebeu um olhar interrogativo do agente — Recebi algumas amigas também e combinamos de nos encontrar novamente no final de semana.
— Wow! — exclamou percebendo a carga de deboche na frase — Sempre irônica.
— E você sempre com perguntas de tolerância zero.
— Foi apenas uma tentativa de manter um diálogo, mas já vi que isso é impossível se tratando de Katherine Walsh — retirou o notebook da pasta, abrindo-o na pequena mesa central.
A garota inspirou, contendo a falta de paciência que vinha lhe acompanhando durante os últimos dias. Não se arrependeu, afinal, ele já havia lhe tratado mil vezes pior e não demonstrara nenhum arrependimento até então. Com a curiosidade aflorando em seu peito, deu alguns passos até sentar-se ao lado do rapaz numa distância segura; talvez se chegasse perto demais acabaria lhe matando e tudo o que ela mais queria era se ver longe do FBI. Observou Alex digitando algum tipo de senha num desses programas que ela só pensava ter visto em seriados de investigação; ele parecia bastante empenhado no que fazia, como se buscasse algum arquivo supersecreto.
— Muito trabalho? — ela questionou sem perceber — Você sumiu durante dois dias.
— Bastante — afirmou parecendo animado com os milhares de arquivos que iam sendo abertos na tela — Tentei reunir o maior número de informações a respeito do caso para repassarmos juntos.
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AGENTE 030 (hiatus)
Romance[book two] Alexander Keller, ou agente Keller - como é conhecido no Departamento 8, se tornou o trigésimo agente nomeado ao cargo entre todos que estavam na disputa. Seguindo a linha da tradicional família de agentes da qual veio, precisa provar a t...