O que deveria ser o ambiente que simularia um "lar" – o seu lar, estava assemelhando-se a uma delegacia em meio à muito caos e conversas paralelas; é claro que a tentativa de sequestro causaria um movimento anormal em sua vida, mas estava farta daquilo tudo. Estava farta de ver policiais andando ao seu redor, lançando olhares desconfiados, como se toda a culpa do mundo deveria ser voltada para ela. Katherine queria um minuto de paz. Apenas um minuto. Mas diante das circunstâncias e pelo currículo de turbulências que havia em sua história, um segundo talvez fosse o máximo que conseguiria. Fazia uma hora que estava sentada no sofá, com as mãos entre as pernas, olhando para um ponto fixo na pequena mesa de vidro que havia na sala. Ao seu redor, muitas pessoas falavam, levantavam hipóteses, averiguavam cada canto do local procurando vestígios de invasão ou escutas bem escondidas. Pelo que percebeu, o apartamento estava limpo. Nenhum espião. Era para estar aliviada, não era? Mas sabia que o medo seria o seu companheiro por muitos dias naquela jornada.
Alex estava no corredor, as mãos enfiadas no bolso de sua calça social e a cabeça baixa, apenas tentando controlar a grande vontade que teve de socar sua testa na parede por ter dado esse vacilo. Não deveria ter escutado Jane. Não deveria estar naquela merda de caso. O que tinha descoberto até o momento? Nada. O que aquilo tinha acrescentado em sua vida? Muitos problemas. Talvez devesse mesmo abandonar aquela carreira, talvez fosse o destino mostrando que nada do que fizesse faria conseguir o verdadeiro reconhecimento na área. Estava cansado demais de suas tentativas frustradas.
— Agente Keller — ouviu a voz grossa lhe tomando a atenção e ergueu o rosto, encarando um não muito amigável diretor George.
— Como vai, chefe? — questionou, utilizando a pouca ironia que lhe era concedida.
— Como acha que estou? — foi rude, controlando o tom de voz — Acho que é capaz de deduzir, não? Quando quase perdemos a nossa melhor testemunha.
— Eu não tive culpa — retrucou, sentindo a respiração falhar — Não sou capaz de prever sequestros, se é o que pensa...
— Ela deveria ter ficado no apartamento — o homem robusto arqueou as sobrancelhas, constatando o óbvio — Qual a necessidade de leva-la ao banco? Um local movimentado, propicio para o que aconteceu... Sei que é inteligente Keller e curioso, mas há coisas que você não tem que se meter.
— Claro, porque minha função se resume a tomar conta de uma mulher que sabe tudo sobre a porcaria desse assassinato e não quer nos contar — deu de ombros, completamente alterado.
— Exatamente — George afirmou e depois de um longo minuto em silêncio, pôs a mão no ombro do agente — Melhor ficar afastado uns dias do departamento, o trabalho sujo já tem quem faça. Você só precisa mantê-la em segurança.
— Como é que é?! — a incredulidade explicita na pergunta.
— Faça o que estou mandando e não terá problemas piores.
Depois de se encararem por poucos segundos, o diretor George se afastou, sendo abordado logo em seguida por algum policial querendo checar informações. Alex manteve-se parado no local, absorvendo com dificuldade as palavras que haviam sido dirigidas a ele; se antes tinha dúvidas, agora tinha plena certeza de que não era bem-vindo no departamento e nem em qualquer lugar envolvendo pessoas com grandes cargos. Estava fadado ao fracasso e a situação apenas agravou ainda mais o sentimento de raiva que crescia em seu peito. Queria poder pegar o carro e ir para bem longe de tudo aquilo, manter-se no anonimato, quem sabe seguir a carreira de futebol que tanto seu pai quis quando adolescente. Inspirou algumas vezes, antes de alcançar o banheiro do quarto e jogar muita água fria em sua face; queria poder arrancar a sensação de inutilidade que lhe cercava, mas sabia que aquilo seria pertinente enquanto aquela operação durasse. Não aguentaria por muito tempo.
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AGENTE 030 (hiatus)
Romance[book two] Alexander Keller, ou agente Keller - como é conhecido no Departamento 8, se tornou o trigésimo agente nomeado ao cargo entre todos que estavam na disputa. Seguindo a linha da tradicional família de agentes da qual veio, precisa provar a t...