Na manhã seguinte, minha mãe foi para a rodoviária.
Ela pediu que eu não fosse junto, senão ela mudaria de ideia. Então, me despedi dela na porta de casa e ela entrou no táxi sem olhar para trás.
Meu coração estava apertado e eu sabia que seria uma tortura morar com meu pai, mas pelo menos eu sabia que minha mãe ficaria bem para recomeçarmos.
Meu pai me ligou durante a tarde e disse que eu poderia me mudar se quisesse.
Ele era o único que tinha um nome normal. Se chamava James.
Ok, não é o nome mais normal do mundo, mas já me deixa feliz.
Eu ainda tinha alguns dias para ficar em casa, mas não havia motivos para ficar, então decidi resolver a burocracia com a imobiliária e no dia seguinte partiria para minha nova temporária casa, rumo ao desconhecido.
• • •
Ao chegar na casa de meu pai, fui recebida pela minha madrasta.
Simone me recebeu bem, mas ficou olhando atrás de mim procurando pela minha mãe.
– Ela não veio.
– Quem? – Simone respondeu, sem graça.
– Obrigada por me receber.
– Imagina! Entra, querida.
Simone me ajudou a carregar as malas para a sala e, nessa hora, resolveu chamar seu amado filho.
– ELIK, QUERIDO! SUA IRMÃZINHA CHEGOU!
Permanecemos em silêncio por tempo demais esperando Elik, que não apareceu.
– Vem, querida, vou te mostrar seu quarto.
Simone subiu as escadas e me levou até a última porta do corredor.
Ao entrar no quarto, fiquei surpresa com o tamanho.
– Uau! É lindo, Simone!
– Eu que decorei!
– Ficou lindo!
O quarto tinha as paredes brancas, com algumas flores pintadas na parede da cama. Os móveis eram brancos iguais ao de um quarto de princesa. A janela era enorme, coberta por uma cortina também branca.
– Aos poucos você vai arrumando do seu jeito.
– Obrigada! Ele está perfeito assim.
– Eu vou trabalhar. Até mais tarde. Se precisar de alguma coisa, é só pedir a Elik.
Simone sorriu e saiu do quarto, me deixando sozinha.
Voltei para a sala e comecei a puxar duas malas de uma só vez pelas escadas. Eu estava praticamente engatinhando e, quando cheguei ao topo, dei de cara com duas pernas paradas na minha frente.
Tomei um susto tão grande que fui para trás com tudo e as malas saíram rolando escada abaixo.
Olhei para frente e vi Elik de braços cruzados. Ele era espetacular. Seus cabelos eram grandes na parte de cima e em um tom de castanho escuro.
Eu sabia que ele era mais novo que eu, mas pela sua falta de educação ele aparentava ter sessenta e nove anos.
– Oi! – Falei sorrindo.
– E aí?!
Elik ficou me medindo. Fiquei um pouco constrangida pelo moletom velho que eu vestia.
Ficamos em silêncio por um tempo, até que decidi buscar minhas malas caídas no fim da escada.
Segurei no puxador da mala maior e, quando puxei com força para cima, ele quebrou, fazendo com que eu caísse para trás.
Permaneci deitada no chão, quando vi Elik descendo as escadas dando risada.
Por um momento, pensei que ele me ajudaria, mas a única coisa que ele fez foi passar por cima de mim e rir ainda mais.
– Vai ser legal ter você aqui! – Ele falou e saiu de casa sem olhar para trás.
Levantei furiosa e depois de muito esforço, todas as minhas malas já estavam em meu quarto.
Optei por não pensar nele e, enquanto eu arrumava as coisas em meu guarda-roupas, meu pai abriu a porta do quarto.
– Minha menina!
– Oi, pai! – Fui até ele e o abracei.
Fazia meses que eu não o via.
– Está tudo bem?
– Sim! Obrigada.
– Simone está fazendo o jantar. Espero que goste de arroz estranho.
– Claro... – franzi a sobrancelha.
Meu pai deu risada e saiu do quarto.
Terminei de arrumar minhas coisas e desci para ajudar Simone. Ela estava fazendo arroz com legumes e bife.
Eu até que estava gostado de Simone. Ela não parecia ser tão arrogante como imaginei.
Arrumamos a mesa do jantar e Simone perguntou por Elik.
– Ele saiu.
– Foi para onde?!
– Não sei.
Simone ficou em silêncio e serviu o jantar.
Conversamos sobre diversas coisas. Parecíamos uma família de verdade.
Depois do jantar, lavei a louça enquanto meu pai e Simone foram dormir.
Estava secando os talheres, quando Elik entrou com tudo em casa e ficou me olhando com cara de poucos amigos.
– Tem comida na geladeira – avisei.
– Não perguntei.
Continuei a fazer o que estava fazendo, quando Elik segurou minha mão.
– Quando você vai embora?
– Espero que o mais rápido possível!
– Ótimo!
Revirei os olhos quando Elik se afastou.
Terminei de fazer o que estava fazendo e fui para o quarto dormir. Estava exausta.
• • •
Coloquei o despertador para tocar bem cedo.
Eu iria atrás de um emprego para conseguir sobreviver nesse lugar.
Não queria ser dependente do meu pai e de Simone. Isso não seria justo, eu não queria que isso acontecesse.
Depois de pronta, me despedi de meu pai, que tomava café da manhã, e fui à procura de uma papelaria para imprimir meu currículo.
Com várias cópias em mãos, saí distribuindo nas lojas, até que vi uma loja de piercing e tatuagem.
Sempre tive vontade de fazer uma tatuagem, mas me faltava coragem. Pensei nos sermões que minha mãe me dava e ri sozinha com a lembrança.
Tentei não pensar muito nela, mas era difícil. Ela deve estar passando por maus momentos na clínica, e eu estava torcendo para que tudo acabasse logo.
Continuei andando, perdida em pensamentos, quando esbarrei em alguém.
Era uma mulher vestida de roupa social, extremamente linda.
Ela me olhou brava, mas depois que me desculpei, sua feição mudou.
– Me desculpe. Eu estava distraída. Estava pensando na minha mãe e... você não tem nada a ver com isso... me desculpe... quando fico nervosa começo a falar sem parar e... me desculpe mesmo.
Continuei repetindo aquilo sem parar, e sem conseguir parar de repetir.
A mulher abaixou para pegar meus papéis que caíram no chão.
Assim que ela me entregou, ela disse:
– Me desculpe, mas acabei lendo um trechinho do seu papel. Você está procurando emprego?
– Sim! Eu sou nova na cidade e estou precisando muito!
A mulher tirou um cartão da bolsa e me entregou.
– Estamos precisando de uma recepcionista. Não é um super emprego, mas ajuda. Me liga depois do almoço e marco uma entrevista pra você!
– Não! Sim! Claro! Com certeza! Obrigada! Nem sei o que dizer! Obrigada!
– Imagina!
Ela saiu andando e rebolando naquele conjunto social lápis perfeito para seu corpo escultural.
Olhei o cartão em minha mão e li o que estava escrito.
Sarah Michelin
Corretora de imóveis
Nele também estava escrito seu e-mail e dois números de telefone.
Guardei o cartão dentro da bolsa e voltei para casa sentindo que pelo menos uma missão estava cumprida.
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Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)
RomanceDepois que sua mãe é internada em uma clínica de reabilitação, o único lugar que resta para Amora morar é com seu pai, sua madrasta e seu filho arrogante. Em uma saída para conhecer a cidade, Amora conhece um intrigante e sedutor rapaz que a faz te...