Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)

25...

Acordei com um calor ao redor do meu corpo.
Procurei o que era e fiquei aliviada ao ver Henrique e confirmar que aquilo era mesmo real.
Me afastei devagar do corpo enorme dele e fui ao banheiro para fazer minha limpeza matinal. Ao sair de lá, automaticamente fui para o quarto da minha mãe para lhe desejar um bom dia. Ver a cama vazia me deu um aperto no coração e um choque de realidade. Saber que ela nunca mais estaria lá me deixou extremamente triste.
Me sentei em sua cama fria e abracei seu travesseiro. Seu perfume ainda estava impregnado. Lágrimas começaram a escorrer e se uniram aos soluços. Fiquei um tempo deitada e chorando, quando escutei a voz de Henrique.
– Amora?
Olhei para a porta e meu coração se derreteu. Henrique estava com cara de sono, com sua roupa amassada, descabelado e, mesmo assim, era o homem mais lindo que eu já vi.
Sequei as lágrimas e me levantei. Ao me aproximar de Henrique, ele me envolveu em seus braços para me acalmar. Aquele gesto mexeu demais comigo. Eu estava frágil, magoada, carente e essa atitude de Henrique só piorava as coisas, então me afastei dele, que me olhou preocupado.
– Eu agradeço o carinho e preocupação, Henrique, mas já passou da hora de você voltar para a sua casa e para a sua namorada. Tenho certeza que ela não gostaria de saber que você passou a noite comigo e me recuso a ser esse tipo de pessoa na relação de alguém. Não tenho vocação para ser a outra.
– Você acha mesmo que eu seria capaz de fazer algo do tipo?
– Não sei mais nada sobre você, Henrique. Você se diz fiel, mas passou a noite com outra mulher.
– Você sabe que eu nunca considerei você como a outra mulher. E não passamos a noite juntos. Somente dormimos.
– Que seja... nada muda a realidade.
Ele me olhou com súplica no olhar, mas me mantive forte. Eu não poderia ceder e me tornar uma mulher detestável destruidora de relacionamentos. Sempre abominei esse tipo de pessoa e jamais me tornaria uma delas.
Henrique suspirou e começou a falar.
– Conheci Monique em uma das clínicas em que eu trabalhei.
– Eu não quero saber das suas histórias de amor, Henrique.
Tentei passar por ele, que me impediu segurando meus braços.
– Eu quero que você entenda minha relação com ela.
– E se eu não quiser entender nada? E se eu quiser que você suma da minha frente agora?
– Amora, só peço que me escute. Por favor.
Fiquei em silêncio para que ele falasse logo o que tinha a dizer. – Como eu ia dizendo, eu a conheci em uma das clínicas em que trabalhei. Ela começou a trabalhar no mesmo setor que o meu no dia seguinte em que te vi com seu namorado. Eu fiquei devastado. Monique se tornou uma grande amiga e me ajudou a superar a sua perda. Um dia ela me chamou para sair e eu aceitei. Achei que eu também tinha direito de conhecer alguém para me fazer feliz, assim como você estava com o seu namorado. Por isso sou extremamente grato a ela.
– E o que eu tenho a ver com isso?
– Eu quero que saiba que só me envolvi com ela por saber que você estava bem e feliz.
– Certo! Até porque você ainda lê pensamentos e leu a minha mente dizendo que eu era a mulher mais feliz desse mundo todo.
– Amora...
– Você pode me dar todas as explicações existentes, mas nenhuma vai tirar a dor e a decepção que tive. Nenhuma vai fazer com que o passado seja esquecido. E nenhuma delas vai te trazer de volta pra mim.
Henrique me olhou cansado e, quando fui passar por ele, voltou a me segurar.
– Você também namorou, Amora!
– Eu sei, Henrique! Eu não o culpo por ter seguido em frente e por ter encontrado alguém para cuidar de você. Mas isso não quer dizer que é certo você estar aqui.
– Eu não queria que as coisas tivessem acontecido dessa maneira.
– Nem eu! Mas é isso, Henrique – balancei os braços ao redor – você é um homem comprometido e não quero me magoar ainda mais. Então preciso que você vá embora, antes que meu coração crie falsas esperanças mais uma vez.
– Você tem certeza disso? – Ele perguntou aflito.
– Não tenho. Mas sei que, se você ficar, nós três iremos nos magoar e não quero mais esse fardo pra carregar.
Henrique suspirou e concordou com a cabeça, mas era possível ver em seu rosto como aquilo era difícil para ele também.
Ele me abraçou como nunca havia feito antes. Aquele era um abraço de amor, de compreensão, de decepção e, por mais que me doesse, de despedida.
Henrique me afastou e olhou em meus olhos. Eu sabia que aquela era a coisa certa a se fazer. Eu sabia que ele deveria continuar a ser feliz com sua namorada. Ela esteve com ele por dois anos, enquanto eu fiquei com ele por semanas. Henrique se magoou tanto quanto eu nessa história toda. Nossos desencontros acabaram com o que nós dois poderíamos construir juntos.
Henrique encostou seus lábios nos meus com carinho. Coloquei as mãos em seu rosto e apertei seus lábios nos meus. Não foi apenas um beijo. Foi o contato de duas bocas que se procuraram por anos e que finalmente se encontraram, mas que não podem ficar juntas. Era a despedida definitiva de duas pessoas que não ficariam juntas por causa do tempo que passou. Era a pior forma de quebrar ainda mais nossos corações.
Segurei sua cabeça por um tempo, para que nossos lábios não se desgrudassem, mas eles tinham que se separar. Empurrei meus sentimentos para dentro do meu coração mais uma vez e me afastei de Henrique, que suspirou.
Passei por ele sem olhar para trás. Saber que ele estava partindo mais uma vez me quebrou por completo, mesmo sabendo que era a coisa certa a ser feita. Henrique seria sempre o grande amor da minha vida, mesmo que não ficássemos mais juntos.
Fui para o meu quarto tentando segurar o choro, mas em vão. Eu estava em luto por diversas coisas e a única que me restou a fazer foi chorar e implorar para que aquela dor destruidora me deixasse em paz.