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Henrique ficou deitado, enquanto eu levantei para ir ao banheiro.
Assim que dei descarga, a campainha tocou. Coloquei a primeira roupa que vi na frente e fui atender a porta.
Os três rostos que me foram familiares um dia me olhavam com pena e compaixão. Simone me abraçou e me entregou um vaso de flores, dizendo que sentia muito pela morte da minha mãe. Fauzer me abraçou, me dando seus pêsames. Mas a maior surpresa foi Elik me dar um abraço, dizendo que sentia muito pela minha perda.
Dei espaço para que eles entrassem e fechei a porta atrás de mim. Eu estava tão surpresa com aquela visita, que eu não conseguia dizer uma única palavra.
– Eu só soube agora sobre a sua perda, Amora! Sinto muito mesmo! – Simone falou mais uma vez.
– Obrigada! As flores são lindas!
Levantei o vaso de flores e o coloquei na mesa de centro da sala. Minha sala estava sem vida e sem cores, mas suas flores amarelas alegraram o ambiente.
– Podem ficar à vontade. Não liguem para a bagunça.
Os três se sentaram em um sofá e eu sentei no outro.
Antes de ficarmos em um silêncio constrangedor, Henrique apareceu, me deixando completamente envergonhada.
– Cadê a minha gostosa? – Henrique apareceu só de cueca na sala e todas as visitas ficaram olhando para ele, que sorriu.
Simone balançou a cabeça, enquanto Elik e Fauzer riam sem parar.
– Pelo visto vocês se acertaram, não é? – Simone perguntou animada.
– Um pouco! – Respondi envergonhada.
– Parabéns, cara! Eu sei o quanto você esperou por esse dia – Fauzer falou, indo na direção de Henrique e o abraçou.
– Eu até te dou um abraço, mano, mas só depois que você se vestir – Elik falou rindo.
– É pra já!
Henrique voltou para o quarto, deixando os três olhando para mim com um sorrisinho no rosto. Elik levantou e sentou ao meu lado.
– Eu quero me desculpar por tudo o que eu fiz. Sei que te trouxe grandes problemas e até mesmo fui causador da separação de vocês, por isso estou me desculpando. Eu sei que nada que eu disser vai mudar o que fiz, mas eu era um moleque na minha época rebelde e não sabia aceitar a felicidade dos outros. Por isso me desculpe. E eu sinto muito pela sua mãe.
– Obrigada. Fico muito feliz por você ter crescido, Elik. Você seria muito infeliz se tivesse permanecido daquele jeito!
– Eu sei.
Dei um abraço nele e fiquei aliviada por saber que finalmente ele havia tomado jeito. Se ele tivesse optado por ser, ainda, aquela pessoa egoísta e arrogante que sempre foi, ele iria sofrer muito na vida e não seria feliz nunca.
E mesmo depois de tudo o que ele me fez, eu o desculpei. Eu não queria ficar presa a mais nada do passado.
– Então? O que me contam? – Perguntei, tentando puxar assunto.
– Elik está namorando! – Fauzer falou, rindo dele.
– Ah é? E qual o nome dela?
– Você vai adorar o nome, Amora! – Fauzer gargalhou.
– Não é um nome comum – Elik falou, por fim.
– Igual ao de vocês? – Perguntei curiosa.
– Pior – Fauzer falou.
– Qual é? Conta logo!
– Sulamita.
Fiquei olhando Elik, esperando que ele não dissesse um palavrão e me contasse o nome da garota, mas ele sorriu e concordou com a cabeça.
– É isso mesmo!
– Ela se chama Sulamita? – Perguntei de olhos arregalados.
– Isso! Mas eu a chamo de Sula. Fica menos pior – Elik falou rindo.
Comecei a rir sem parar. Todos começaram a rir junto.
– Acho que você e Henrique se safaram dessa fase de nomes estranhos, hein? – Falei para Simone.
– Não exatamente – ela respondeu.
– Você tem nome estranho?
– Sim! Eu e Henrique.
– Não!!
– Henrique Fedir Michelin.
– O quê? – Minha barriga doía de tanto rir.
– Sim! – Os três riam.
– Fedir? Jura?
– Sim! Ele mudou o nome no cartório quando completou dezoito anos.
– Ai, meu Deus!
– Henrique se achava por ter um nome normal, mas ele é estranho igual a todos nós! – Fauzer falou rindo.
– E o seu, Simone?
– Simone Mijardina da Luz.
– Não é possível! – Comecei a gargalhar mais uma vez.
– Pois acredite! Esse pessoal de antigamente só gostava de nomes estranhos.
– Não só de antigamente, né? – Fauzer apontou para ele mesmo e para Elik.
– O nome de vocês é lindo!
– Fauzer é bonito, mãe? Fala sério! – Fauzer perguntou indignado.
– Pra mim é, sim! E vocês deveriam me agradecer por terem um nome único!
– Obrigado, mãe! – Fauzer e Elik disseram em uníssono.
– Eu gosto. – Simone disse por fim.
– Minha mãe adorava Amora! Ela disse que era um nome doce, como eu deveria ter sido.
– Eu acho lindo seu nome! – Simone falou para me animar.
– Eu também! – A voz de Henrique fez todos olharam para ele.
Ele sorriu e veio até mim, me dando um beijo na cabeça.
– É mesmo, Fedir? – Eu não aguentei e tive que falar.
Comecei a gargalhar e Henrique fez uma cara estranha.
– Quem foi que contou? – Henrique olhava um por um.
– Eu não! – Elik negou.
– Muito menos eu! – Fauzer afirmou.
– Imagina! Você acha que eu faria isso? – Simone falou por fim.
Henrique estreitou os olhos e olhou para mim, tentando descobrir quem havia me contado.
– Eu sou jornalista! Eu tenho minhas fontes! – Falei forçando um sorriso.
– Mentirosa!
Revirei os olhos e Henrique me abraçou. De repente eu dei um pulo, ao perceber que não ofereci nada para eles.
– Vocês querem alguma coisa? Água? Ou água? – Sorri sem graça – Minha mãe é que sempre recebia as visitas...
– Eu faço um café – Henrique falou e foi para a cozinha.
– Um café seria ótimo! – Simone sorriu.
Elik e Fauzer foram atrás de Henrique, deixando eu e Simone sozinhas. Ela suspirou e eu percebi que ela não estava tão feliz assim.
– Vocês conversaram? – Perguntei e Simone já sabia do que se tratava.
– Sim. Mas seu pai é cabeça dura.
– Ele sente muito a sua falta!
– Eu sinto falta dele também!
– Eu sei que ele é uma pessoa detestável, mas não o tempo todo. Ele parece ter mudado depois da separação de vocês.
Simone ficou em silêncio e percebi o quanto aquele assunto a chateava.
– Eu sei que não é da minha conta, mas vocês deveriam tentar mais uma vez. Os dois estão arrasados um sem o outro.
– Eu sei... mas é complicado.
– É, sim. Mas pelo menos vocês estão perto um do outro, e não como aconteceu comigo e com Henrique.
– Eu tentei impedir seu pai de te expulsar de casa. Mas ele ficou cego.
– Eu sei. Ele é muito difícil.
– É, sim!
– Mas ele parece ter mudado.
– Eu sinto muito por tudo o que aconteceu!
– Eu também, Simone! Mas agora faz parte do passado e deve ser esquecido.
Simone sorriu e me abraçou. Ela me surpreendeu muito com sua atitude. Eu sempre esperei o pior dela, mas pude ver o quanto eu estava errada.
Henrique nos chamou para ir tomar café e ficamos todos reunidos na cozinha, jogando conversa fora e rindo mais uma vez de nossos nomes ridículos.

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora