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Permaneci em meu quarto até que não houvesse mais nenhum barulho na casa.
Não queria correr o risco de encontrar Henrique, então desci as escadas na ponta dos pés até a cozinha e quase caí para trás ao ver Henrique somente de bermuda, com a cabeça enfiada dentro da geladeira.
Dei meia volta e acabei tropeçando nas cadeiras, fazendo com que Henrique visse que eu estava lá.
– Fugindo de mim de novo? – Ele falou rindo, enquanto fechava a geladeira.
– Oi... – dei um sorriso forçado e caminhei para a escada, quando a voz de Henrique me parou.
– Para de fugir, Amora. Eu não mordo.
– Não estou fugindo, eu só esqueci o que vim fazer aqui.
– Você é sonâmbula?
– Não. Mas tenho uma péssima memória!
– Certo. Quer que eu prepare um lanche? Você mal tocou na comida na hora do jantar.
Pensei por um tempo e o sorriso lindo de Henrique me fez aceitar.
– Claro. Por que não?
Voltei para a cozinha e me sentei na cadeira, completamente envergonhada.
– Como está no trabalho?
– Bem.
Ele sorriu e fez o lanche em silêncio.
Henrique e seu corpo espetacularmente grande ocupavam quase a cozinha toda. Sua bermuda de moletom deixava seu traseiro mais aparente, me causando diversas lembranças. Quando ele virou de frente para mim, quis chorar, de tão bonito que ele era. Ele tinha mais quadradinhos em seu abdômen do que uma rua com paralelepípedo.
Forcei minha mente a mudar o foco de pensamento, quando Henrique me entregou um prato com o lanche. Ele se sentou de frente para mim com um lanche também e sorriu lindamente, como sempre fazia.
Dei uma mordida no lanche e senti seu olhar em mim.
– Por que você foi embora, Amora? – Ele perguntou, por fim.
– Deixei um bilhete – engoli em seco.
– Um bilhete de merda. Eu fiz alguma coisa errada?
– Não! De forma alguma! É que eu estava atrasada e não quis te acordar. Preferi evitar o constrangimento de ser expulsa e essas coisas.
– Expulsa?
– Sim! Noites de sexo casual acabam dessa forma, certo? Só quis poupar seu trabalho e o meu constrangimento.
– Você acha mesmo que eu iria te expulsar de casa, Amora?
– Eu não tinha certeza...
– Caramba!
Henrique se encostou na cadeira e empurrou o prato para a frente. Ele me olhava, chocado com o que eu havia dito.
– Desculpa, mas não quis me sentir constrangida. Achei que você faria a mesma coisa, só isso. Eu disse que poderia me ligar no bilhete. E eu não poderia ter agido diferente.
– Claro! Disse, sim, mas não deixou o número!
– Sim. Mas isso foi um pequeno erro de cálculo, por causa da pressa. Eu juro.
Henrique me olhava sério e eu não gostava dele assim. Preferia o Henrique risonho que conheci.
– Você me deixa louco.
– Olha, estamos conversando numa boa. Não inventa coisa, não! – Respondi na defensiva.
Henrique sorriu e passou as mãos em seu rosto.
– Amora, você tem todo o direito de dizer que não gostou, que não queria me ver mais ou o que quer que seja.
– Mas não é nada disso. Gostei muito da nossa noite. Você me tratou tão bem naquele dia, que eu me senti bem por dias, até descobrir que você é uma espécie de tio pra mim.
– Eu não sou seu tio, Amora!
– Na prática, não. Mas na teoria, sim!
– Eu acho que você complica demais.
– Sim. Eu complico, mas veja bem...
– Não venha dizer que tem uma explicação! – Henrique começou a rir sem parar.
Cruzei os braços e fiquei esperando ele terminar.
– Amora, nunca levei mulher nenhuma pra minha casa. Eu nunca me preocupei tanto com alguém, então nem passou pela minha cabeça te expulsar de lá. Preciso que acredite nisso.
– Tá bom. Eu acredito em você! Mas veja bem... olhe pra você e olhe pra mim! Você ter ficado comigo já era algo surreal. Não queria estragar aquele momento.
Mordi mais um pedaço do lanche, com Henrique acompanhando meus movimentos, até que ele finalmente falou alguma coisa.
– Você não sai da minha cabeça.
Parei de mastigar e olhei para ele, perplexa.
– O quê? É proibido? – Ele perguntou na defensiva.
– Não. É que... um homem como você estar sóbrio e ainda estar interessado em mim é uma vitória que vai para o meu caderninho.
– Caderninho?
– Sim. Tenho um caderninho onde anoto as vitórias da minha vida, pra eu não me sentir uma zé ninguém quando estiver em depressão.
– Você acha isso mesmo?
– O quê?
– Que você é tão pouco assim?
– Eu sou realista, Henrique. Não tenho nada de mais.
– Amora... cada vez que você abre a boca, mais vontade eu tenho de te pegar.
– Você sabe que isso não pode acontecer.
Engoli em seco com sua revelação. Sorri em resposta e levantei depressa, antes que eu pegasse ele ali mesmo.
Ao colocar meu prato na pia, Henrique grudou seu corpo no meu, para que eu sentisse a henriconda.
Santa das mulheres excitadas que querem repetir a dose, me auxilia nesse momento. Amém!
Henrique me virou de frente para ele.
Quando aproximou seus lábios dos meus, a luz da escada acendeu, fazendo Henrique se afastar de mim.
Elik entrou na cozinha e nos olhou desconfiado.
– Atrapalhei o casal?
– Para de bobeira, Elik! Suas brincadeiras de mau gosto podem prejudicar alguém – Henrique falou sério.
Elik revirou os olhos e abriu a geladeira.
Ele estava desconfiando de alguma coisa e isso não era bom.
– Vou subir. Obrigada pelo lanche, Henrique.
Ele assentiu em silêncio.
Corri para o banheiro, para tomar um banho quase gelado!

Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora