No dia seguinte, consegui fugir de Henrique na parte da manhã. Acordei mais cedo e tomei café da manhã em uma padaria perto do trabalho. Eu tinha que me manter longe dele.
Cheguei mais tarde do trabalho, porque fui jantar com Lucila. Ao abrir a porta de casa, dei de cara com Henrique deitado no sofá, só de bermuda.
– Você não tem roupas? – Perguntei.
Henrique riu e se sentou no sofá.
– Boa noite, Amora.
– Boa noite... – respondi resmungando e fui para o meu quarto.
Meu pai e Simone já estavam deitados, porque dormiam bem cedo. Elik, eu não quis nem saber.
Ao me sentar na cama, Henrique bateu na porta aberta e apoiou no batente, cruzando os braços.
– Você está bem? Parece cansada.
– Estou bem, obrigada.
Tirei meu sapato de salto e massageei meu pé.
Henrique se aproximou e se ajoelhou de frente para mim. Tirou minha mão e colocou a dele no lugar, massageando onde eu estava antes.
– Você tem problema, Henrique?
– Por quê?
Levantei a sobrancelha e ele sorriu.
– Já falei que você não sai da minha cabeça.
– Sim, e isso não faz o menor sentido.
– Porque você é normal – ele concluiu.
– Sim.
Henrique soltou meu pé direito e pegou o esquerdo, massageando também.
Deitei na cama para aproveitar aquele momento de relaxamento.
– Se um dia você perder o emprego, pode trabalhar de massagista – falei baixo.
– Bom saber!
Dei risada e ele também.
Henrique subiu a massagem para a minha panturrilha e aquele toque estava bom demais para eu interromper.
– Qual é a sua história com Simone? Eu nem sabia da sua existência...
– É complicado.
– Eu preciso saber.
– Eu sei. É uma longa história, mas Simone nunca aceitou o fato de ter um irmão mais novo. Nosso pai tinha duas famílias ao mesmo tempo. E como eu vim depois, ela ficou com raiva. Não sei explicar. Ela tem vergonha de ter o dobro da minha idade.
– Isso é uma besteira!
– Eu também acho. Mas nos damos muito bem. Então, quando alguém pergunta, dizemos que sou um primo distante. Assim fica melhor para todos.
– Entendi. Mas por que você fica aqui, se tem uma casa daquelas?
– Nós combinamos que, sempre que eu tiver um tempo, fico um pouco aqui. Para não nos distanciarmos mais ainda.
– Isso é muito lindo, Henrique.
– Nós demoramos anos pra nos entender. Então, essa foi a solução que encontramos para ficarmos um pouco unidos.
– Melhor solução!
– Acho que é bem bacana! Vale a pena. E a minha casa é muito vazia e sem graça.
– Você deveria ter quatro gatos.
– Quatro?
– Sim! Porque, assim, eles sempre terão companhia.
– Irei pensar na ideia – ele falou rindo.
– Você vai amar ter um bichinho.
– Você tinha um com a sua mãe?
– Só quando era bem pequena. Minha gata morreu de velhice e minha mãe não quis pegar mais nenhum. Ela disse que sofreu demais. Mas quando eu tiver minha casa, terei vários, com certeza!
– Você tem irmãos?
– Não. Era só eu e minha mãe.
– Teve alguma notícia dela?
– Não... eles só permitem uma ligação a cada quinze dias. Estou ansiosa para que chegue esse dia logo.
– Vocês eram próximas?
– Não muito, mas depois que ela decidiu se tratar, ficamos mais unidas.
– Isso é bom.
– É, sim. Sinto muita falta dela.
– Eu imagino...
– Você é a única pessoa que sabe sobre a minha mãe. Para o meu pai e pra Simone, ela foi transferida do trabalho.
– Melhor ninguém saber, mesmo. Fico feliz em ser o único.
– Eu também... – me sentei na cama e Henrique sorriu para mim.
Aquele sorriso fazia minha mente pensar em todas as coisas pervertidas que existiam.
– Você jantou?
– Sim. Fui com a outra secretária jantar.
– E deu tudo certo?
Eu ficava cada vez mais surpresa com o interesse e preocupação que Henrique tinha comigo. Ele se mostrava interessado mesmo em participar de qualquer coisa que fosse sobre a minha vida.
– Mais ou menos. Na hora de ir ao banheiro, tropecei e me segurei nos cabelos de uma mulher para não cair. Foi horrível! Minhas orelhas ainda estão quentes de tanta coisa que ouvi da boca dela.
Henrique gargalhava e segurava a barriga de tanto rir.
Sua risada era contagiante e acabei rindo também.
– Sinto muito, Amora.
– Eu não. Já me acostumei a passar vergonha.
Henrique riu mais.
– Eu nunca passei vergonha assim.
– Então continue assim! Não é nada legal!
Henrique sorriu e segurou minha mão.
– Sou muito grato por ter te conhecido, Amora.
– Adoro o jeito como você fala meu nome.
– Adoro dizer seu nome.
Engoli em seco e sorri.
Henrique sorria fraco e me olhava intensamente.
Ele lambeu os lábios e se levantou.
– Vai tomar um banho e depois faço um chocolate quente especial, que só eu sei fazer.
– O que tem nele de tão especial? Cuspe dentro?
– Cuspe e alguns pentelhos – Ele respondeu rindo.
Comecei a gargalhar e me lembrei que Henrique não tinha pentelhos. Ele era todo lisinho.
Antes que eu pudesse me controlar, minha boca falou o que não devia.
– Mentira! Você não tem pentelhos!
Me arrependi assim que as palavras saíram da minha boca. Henrique me olhou surpreso e tapei minha boca com a mão.
– Amora, Amora... não mexe com quem está quieto!
– Desculpa! Minha boca tem vontade própria!
– Eu gosto disso.
Henrique me fitava e percebi que aquela era a hora de correr para o banho.
Peguei minha toalha que estava pendurada e corri para o banheiro, ouvindo as risadas de Henrique no quarto.
• • •
Depois do banho, desci as escadas e encontrei Henrique deitado no sofá, com a televisão ligada.
Me aproximei e vi que ele dormia profundamente.
Abaixei o volume da televisão, fui até meu quarto e peguei um cobertor. Antes de cobri-lo, fiquei admirando aquele homem adormecido.
Henrique era tão seguro, lindo, bem-sucedido, delicioso, simpático e gostoso que nos contagiava. Ele não ficava de mau humor para quase nada, sorria o tempo todo. Seu sorriso era o mais lindo que já vi.
Meu cérebro avisou que eu estava parecendo uma psicopata olhando Henrique dormir, então coloquei o cobertor em cima dele, dei um beijo em sua testa e voltei para o meu quarto.
Fiquei um bom tempo virando de um lado para o outro, sem que Henrique saísse da minha cabeça.
Então, decidi que eu precisava me afastar dele.
Sua gentileza e carinho estavam me afetando de uma forma que não deveria acontecer, e que nos traria problemas, então o ideal era cortar o mal pela raiz.
Depois de brigar comigo mesma por ter que tomar essa decisão, dormi de exaustão.
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Delicioso (Des)Conhecido (DEGUSTAÇÃO)
RomanceDepois que sua mãe é internada em uma clínica de reabilitação, o único lugar que resta para Amora morar é com seu pai, sua madrasta e seu filho arrogante. Em uma saída para conhecer a cidade, Amora conhece um intrigante e sedutor rapaz que a faz te...