capitulo 20: despedida

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Pegamos nossos materiais e fomos até a plantação novamente.
Estudamos o que tinhamos que estudar, e começamos a ajudar o professor.
Tinhamos que arar a terra, colocar as mudas de ervilha e feijão e regar.
Aquilo me lembrou a Collin, minha vizinha de 13 anos que vivia cuidando das suas flores, era tão cuidadosa com cada passo que eu adorava observa-la.
Fiquei a cargo de apertar a terra ao redor das mudas.
Depois de um tempo terminamos tudo.

Minhas mãos estavam completamente sujas, e fui até Roy que estava regando as plantas.

- molha a minha mão, por favor.

Ele me observou por um momento, e eu estendi minhas mãos, então ele derramou a água para que eu pudesse lavar.

- obrigada- falei sacudindo as mãos para secar.

O observei por um momento sem saber o que falar.
Depois de um tempo ele manipulou a água para o alto, a água ficou fina como um véu, e em contato com o sol fazia as cores do arco-íris dançarem nas gotículas.

Ele soltou uma gargalhada.

- olha isso!!- ele parecia uma criança diante de uma roda gigante, feliz.

Eu sorri.

- você nunca fez isso?

- você já?- ele perguntou surpreso

Era eu quem ficou surpresa agora.

- toda criança fez isso- ele juntou as sombrancelhas- bom, pelo visto nem toda...

- eu nunca brinquei com uma mangueira ou água, não via algo de divertido nisso, ou pelo menos eu não imaginava que podia ser divertido...

- eu por outro lado fiz de uma mangueira meu parque de diversões, mas nada teria graça sem meus amigos!

-bom, então nem se eu soubesse disso poderia ter total diversão, eu não tinha ninguém!

- você era tão solitário assim? Nenhum primo?

- minha mãe é filha única.

-primos de parentes?

-moram em outros países.

-vizinhos?

-sempre morei em condominios com pouca gente, a maioria era adulto, solteiro ou com filhos adolescentes.

- amigos de escola?

- nunca gostei de crianças..

- mas você era uma criança!

- vai entender!- ele falou intrigado com um sorriso.

Roy era um garoto difícil de encontrar.
Alguém que viveu sua vida negando a socialização, sem a devida atenção da mãe, criado por cartões de crédito e diferentes babás.
Sem ter tido um amigo verdadeiro sequer na vida, e que mostrava dois lados de sua personalidade para quem o conhecesse bem.
E pelo visto ninguém o conhecia direito.
Exceto eu.

Senti que Roy precisava saber o que era diversão, sentir o que sentimos quando eramos crianças e brincavamos como se não houvesse um um mundo ao redor, só aquela brincadeira.

Me afastei dele e fui até meu colega que também regava as plantas.

- Liam, me empresta a mangueira por um instante?

- pra que?

- você já vai ver, só espero que não tenha problema em se molhar- falei piscando e ele me entregou a mangueira sorrindo.
Tinha entendido o recado.

Ele foi avisar George, que tinha outra mangueira, e ele nem esperou e já estava molhando as garotas ali perto.
As garotas gritaram, e alguns já cairam na gargalhada.

Garoto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora