-3-

832 75 19
                                    

Finalmente vamos parar. Jake me acordou à uns cinco minutos dizendo que havíamos chegado em Pitsburgo. Tentei ignorar a proximidade dos nossos rostos quando isso aconteceu e agradeci aos céus por estar com um chiclete de menta no canto da boca. Eu me esqueci de jogá-lo fora antes de dormir. Guardei a manta e os casacos na minha mochila e prendi meu cabelo em um coque antes de colocar a mochila no colo esperando o ônibus parar. Quando isso aconteceu eu e Jake nos levantamos e ele me deixou ir primeiro antes que todo mundo passasse na nossa frente. Eu estava um pouco surpresa por ele não sair do meu lado, Jake agia como se fôssemos amigos há muito tempo. Se fosse outra pessoa eu com certeza já teria tentando me livrar.

- Até onde você acha que os ônibus daqui vão?- Jake perguntou quando começamos a caminhar pela rodoviária praticamente fazia.

- Não sei, mas acho que nenhum vai direto a Nova Jersey.

Ele concordou com a cabeça e indicou a placa dos horários. Nenhum ônibus pra fora da Pensilvânia.

- Acho que Hershey é o mais longe- Eu disse e ele concordou- Vamos ter que comprar os bilhetes amanhã de manhã.

- Vamos procurar um lugar aqui perto pra dormir.

Começamos a andar até a saída da rodoviária e então começamos a conversar.

- Sua família é toda de Coney Island?

- Não! Tanto a minha família materna quanto a paterna são de Ottawa.

- Então é só você e os seus pais?- Ele perguntou e eu concordei- Você faz o que pra se distrair?

- Saio com a Louise e os garotos ou fotógrafo alguns lugares- Eu disse e ele sorriu- Eu sou a fotógrafa oficial do seu irmão.

- E eu era o cara que cedia o quarto para os ensaios da banda antiga dele- Ele revirou os olhos rindo- Eles eram péssimos! Por isso o Nathan caiu fora e criou a Islaney assim que se mudou.

- Bom, considerando que a Islaney é contratada pra tudo em Coney Island, ele fez uma ótima escolha!

Eu ri e ele fez o mesmo concordando.

Logo chegamos a um lugar que parecia ser o mais perto. Era uma casa de dois pisos laranja com as janelas verdes e a palavra Blints brilhava em cima do prédio com letras prateadas. Apesar de ter cores horríveis o lugar parecia ser bem cuidado. Jake entrou logo depois de mim checando cada canto do lugar. Perto do balcão uma mesa de bilhar parecia reunir uma cambada de bêbados preguiçosos. Eu estava torcendo para que o meu short passasse despercebido, mas quando eu e Jake nos aproximamos do balcão onde uma mulher mascava um chiclete desesperadamente, os homens começaram a assobiar e dizer coisas como: "Que gracinha"," Gostosa" e "Eu passo no seu quarto mais tarde". Ao ouvir aquilo, meu estômago se revirou e eu senti o desespero tomar conta de mim.

- Calem essas bocas imundas, seus idiotas!- Jake revirou os olhos com os punhos fechados e me encarou- Katherine, eu sei que você não me conhece, mas se quiser nós podemos dividir um quarto. Se não houver duas camas eu durmo no chão sem problema algum!

Engolindo em seco, eu fiz uma lista com as minhas opções e cheguei à conclusão de que não tinha muitas.

- Tudo bem.

Foi tudo que consegui dizer e ele assentiu me puxando até o balcão. Ele começou a falar com a mulher, mas eu não ouvia nada. Fiquei apenas encarando os meus coturnos sentindo minhas bochechas queimarem. Será que eu não tinha o direito de usar a roupa que eu quiser sem ter que sentir medo? E eu podia confiar em Jake? Afinal eu o conhecia à apenas algumas horas. Mas seria mais fácil fugir dele do que daqueles seis homens.

- Vamos?- Jake perguntou balançando as chaves na minha frente e eu concordei.

Subimos a escada e chegamos a um corredor cheio de portas. Jake foi na frente e abriu a porta 12. Ele esperou que eu entrasse e logo fechou a porta. O quarto era da mesma cor do resto do lugar, tinha um banheiro e uma janela que ficava entre duas camas de solteiro. Finalmente voltei a respirar normalmente. Eu não queria que Jake dormisse no chão, mas também não queria dividir a cama.

- Eu tenho problemas sérios com a decoração desse lugar.

Jake disse cutucando o armário amarelo florescente e eu ri concordando. Tudo aqui era muito colorido e espalhafatoso, muita informação. Caminhei até uma das camas e deixei a mochila no bidê acoplado nela. O quarto cheirava a lavanda e se não fosse pela decoração e aqueles homens horríveis, esse lugar seria aconchegante.

- Vou sair pra comprar alguma coisa pra gente comer- Jake disse vestindo um casaco- Tranque a porta!

Concordei com a cabeça e dei três voltas com a chave na fechadura assim que ele saiu. Peguei uma muda de roupa e corri até o banheiro. Trancando a porta, por precaução, eu tentei relaxar durante o banho. Depois de vestir a calça de moletom cinza e o blusão azul, soltei meu cabelo novamente o penteando em seguida. Estava guardando minhas roupas sujas em uma sacola quando ouvi Jake me chamar do outro lado da porta.

- Eu só consegui cachorro quente- Ele disse balançando uma sacola plástica depois de chavear a porta novamente- Eu já comi o meu no caminho, vou tomar um banho.

Eu concordei com a cabeça e continuei guardando as minhas coisas na mochila. Escutando o barulho do chuveiro eu devorei o cachorro quente em segundos. Coloquei tudo no lixo e deixei meu celular carregando em cima da mochila depois de ter arrumado a cama. Estava olhando a rua, pouco movimentada, pela janela quando Jake saiu do banheiro vestido com uma calça de moletom preta e uma camiseta turquesa enquanto secava o seu cabelo castanho com uma toalha. Ele sorriu passando por mim indo até a porta que tinha alguns ganchos onde ele estendeu a toalha, assim como eu fiz antes.

Fechei a porta do banheiro respirando fundo. Escovando os dentes, eu pensei em como fui idiota em não ter enfrentado aqueles homens. Eu sempre tenho uma resposta na ponta da língua, mas quando ouvi todas aquelas coisas ridículas simplesmente fiquei congelada. Quando voltei pro quarto Jake estava sentado na sua cama com seus óculos e um caderno de desenho, caminhei até a minha e deitei.

- Você lembra qual era o horário do ônibus?

Ele perguntou depois de colocar o caderno e os óculos em cima do bidê e deitar.

- Às dez e meia.

- É melhor a gente dormir então!- Ele disse e eu concordei me cobrindo com os cobertores vermelhos do Blints.

Pensei em como Louise estaria agora. Ela iria passar o verão todo no Texas com os tios e provavelmente estava ficando louca. Seus tios moram em um sítio no interior do estado sem o Nathan, sem internet ou sinal no celular mas muitos, muitos, muitos porcos. Quando voltar, ela com certeza vai me fazer prometer que a levarei junto nas próximas viagens. Senti uma coceira no nariz e logo o som de um espirro invadiu o quarto silencioso. Gemi baixinho sentindo o cheiro muito forte de lavanda invadir minhas narinas.

- Você está bem?- Jake perguntou com a voz rouca e eu o olhei concordando.

Ele estava deitado de bruços coberto até a cintura. Sua bochecha esquerda estava esmagada pelo travesseiro formando um biquinho nos seus lábios rosados.

- Estou bem!- Eu disse desviando os olhos para o teto- Boa noite, Jake.

Eu disse me virando pro outro lado e fiquei encarando a porta do banheiro esperando o sono chegar.

- Boa noite, Kate.

Highway || Gregg SulkinOnde histórias criam vida. Descubra agora