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Lea ainda ficou uns cinco minutos com a gente e ela realmente parecia uma pessoa legal. Ela nunca parava de sorrir, até quando Louise disse "Kate é para os amigos, o nome dela é Katherine!" seu sorriso não diminuiu. Jake estava sentado ao meu lado com a cabeça baixa desde que Lea se despediu, Louise, Nathan, Ryan e Cris estavam no Karaokê do restaurante e Tyler e Clar estavam se agarrando do outro lado da mesa.

- Então?- Sorri virando de frente para o Jake, que apenas levantou a cabeça e forçou um sorriso- Como foi?

Ele suspirou e puxou um envelope dourado de dentro da mochila, que estava no chão. Jake me encarou novamente e balançou o papel delicado rapidamente.

- Sabe o que é isso, Kate?- Ele perguntou e eu neguei com a cabeça rapidamente- Um convite de casamento!

- Quem vai casar?

Nathan perguntou sentando ao lado do irmão e percebi que todos haviam voltado para a mesa. Apoiei meu braço no encosto da cadeira e fiquei em silêncio quando Nathan e Louise começaram a dizer para Jake que Lea não era boa o suficiente pra ele e que ela e a mexicana deveriam ficar longe dele. Observei Jake por alguns instantes e cheguei a conclusão de que ele não demonstrava nenhuma emoção no rosto. Estava triste? Desiludido? Convencido? Perdido? Conformado? Eu não fazia ideia. Na verdade, eu também não sabia se ele ainda gostava dela ou coisa parecida. Ele estava ansioso para o encontro mas, por outro lado, não havia dito nada esclarecedor quando me contou sobre suas ex namoradas. Eu estava confusa e nem sabia o porquê disso. Mas, o que mais me assustava era ter sentindo uma onda de alívio invadir cada célula do meu corpo quando encarei aquele convite. Algo muito sério estava acontecendo comigo.

- Aqui estão os pedidos!- O garçom simpático disse largando nossos pratos na mesa, juntamente com os copos cheios até as bordas- Qualquer coisa é só chamar!

Agradecemos e ele sorriu se afastando da mesa com os pratos que Jake e Lea haviam usado. Puxei meu prato que estava na frente do Ryan e encarei a mistura de saladas, frutas e frutos do mar. Eu sempre pedia isso. Levei um pedaço de morango à boca e fechei os olhos sentindo o gosto ácido entrar em contato com a minha língua. O almoço foi feito com piadas e implicâncias o tempo todo, o que é esperado quando oito adolescentes se juntam. Eu estava terminando de beber o meu segundo copo de uva quando Jake me perguntou se eu queria tomar um sorvete. Eu disse que sim e joguei minha mochila nas costas enquanto levantava. O resto do pessoal também se levantaram mas, Jake disse que apenas eu estava convidada, fazendo eles murcharem os sorrisos. Deixei o valor do meu pedido com Louise e saí do Vloy's com Jake logo atrás de mim. Ajustei as alças da minha mochila e comecei a caminhar em passos lentos ao lado do rapaz que tinha as mãos nos bolsos da calça jeans e os olhos cravados no asfalto. Comprimi meus lábios um no outro e levantei o queixo sentindo o sol aquecer minhas bochechas.

- Jake? Eu não tô afim de torrar no sol em silêncio, então se você não conversar comigo eu vou começar a cantar. E acredite, você não quer isso!

Ele soltou um riso baixo balançando a cabeça negativamente e ergueu o rosto para me encarar. Como se fosse possível, ele ficava ainda mais bonito iluminado pelos raios do sol. O jeito com que os seus cílios quase se tocavam quando ele estreitava os olhos com dificuldade pra enxergar e as pequenas rugas que se formavam no canto dos seus olhos, a covinha que enfeitava o sua bochecha quando ele ria ou sorria mais abertamente e a mania que ele tinha de transformar seus lábios em um bico quando estava entediado eram coisas que eu aprendi a gostar de observar.

- Posso te fazer uma pergunta?- Perguntei e ele passou um de seus braços pelos meus ombros balançando a cabeça positivamente- Você ainda gosta da Lea?

- Não, eu não gosto!- Ele disse depois de alguns segundos e eu o encarei- Hoje quando acordei, eu estava ansioso pra saber o que eu iria sentir quando a visse...

Ele parou de falar quando chegamos na pequena sorveteria do parque que estávamos. Pedi um sorvete de creme com calda de frutas vermelhas e Jake pediu um de chocolate. Quando o atendente entregou os nossos sorvetes, Jake pagou e voltamos a caminhar.

- E então?- O incentivei a continuar falando enquanto colocava uma colherada de sorvete na boca.

- Eu não senti nada, nem felicidade e nem mágoa. Foi como reencontrar um ex colega de classe insignificante que eu até simpatizava mas não considerava um amigo- Ele deu de ombros sentando em um dos bancos perto dos balanços e eu sentei ao seu lado- Ela disse que Roberta, a sua noiva, queria ter vindo também mas, tinha que pegar uns papéis antes de irem para o orfanato.

- Orfanato?- Franzi minhas sobrancelhas encarando meu pote vazio e levantei para colocá-lo no lixo.

- Elas querem adotar uma criança e o orfanato da cidade tem mais oportunidades.

Ele disse me encarando enquanto eu caminhava de volta para o banco, me sentei de lado dessa vez me apoiando no "braço" do banco e coloquei minhas pernas sobre as coxas do Jake.

- Eu também quero adotar uma criança.- Eu disse enquanto assistíamos algumas crianças apostando corrida com as suas bicicletas- Futuramente, é claro!

- Não quer ter filhos biológicos?- Ele perguntou virando a cabeça pra me encarar- Daria tudo pra ver uma pequena Katherine gordinha reclamando por estar no sol!

Fiz careta e cruzei meus braços enquanto ouvia Jake rir.

- Eu sempre admirei muito os pais adotivos que eu conheço e além do mais, por que colocar mais uma criança indefesa nesse mundo cruel se já existi várias aqui precisando de você?- Eu disse dando de ombros e ele balançou a cabeça positivamente sorrindo- Se eu ficar grávida é óbvio que eu vou adorar e me dedicar cem por cento ao bebê, mas ainda sim vou insistir na adoção!

Desviei meus olhos novamente para as crianças e sorri debilmente vendo que elas estavam deitadas na grama verdinha do parque. Pela visão periférica, eu percebi que Jake ainda sorria me olhando, mas preferi ignorar seu olhar e continuar observando as crianças. A verdade é que eu sempre gostei de observar as pessoas e depois correr para o meu diário e anotar tudo nele. Com o tempo, eu decidi que esse negócio de passar tudo pro papel não era a minha praia e passei então a fotografar qualquer coisa. Carros, lágrimas, sorrisos, casas, prédios históricos, andarilhos, noivas, tempestades, comida, festas e qualquer coisa que eu achasse minimamente interessante.

Eu não sei quanto tempo exatamente fiquei perdida nos meus pensamentos mas, quando olhei para Jake ele ainda me encarava e sorria. Ele não parecia estar me analisando ou coisa parecida, estava mais para um daqueles momentos que você fica olhando para um ponto fixo com os pensamentos a mil. Por fim, ele desviou os olhos para um homem que passava correndo por alguns segundos, respirou fundo ajeitando os óculos no rosto e voltou a me encarar com um pequeno sorriso.

- O que foi?- Eu perguntei não conseguindo controlar a minha curiosidade em saber o porquê de tantos sorrisos.

- Você é uma garota incrível, Katherine!- Ele deu de ombros despreocupadamente e tomou uma de minhas mãos nas suas- E cada vez mais eu tomo consciência de que sou muito sortudo em ter entrado naquela lanchonete.

Highway || Gregg SulkinOnde histórias criam vida. Descubra agora