Acordei com muito calor. O sol estava invadindo a janela sem dó e a cortina não se movia um centímetro. Eu e Jake ainda estávamos na mesma posição e ele ainda estava dormindo. Consegui me desvencilhar de seus braços sem acordá-lo. Os outros passageiros do ônibus estavam animados com conversas aleatórias enquanto eu só conseguia pensar em como eu odeio sentir calor. Guardei a manta na mochila novamente junto com o casaco que estava usando, ficando apenas com uma regata preta muito apertada pro meu gosto.
Pegando o celular, eu vi que já eram dez horas da manhã. Eu e Jake já havíamos comido quase tudo que eu comprei em Pitsburgo, só restava um pacote de biscoito e algumas balas. Estava com muita fome, então peguei o pacote de biscoito e abri sentindo um cheiro maravilhoso de cereja. Coloquei um na boca e gemi baixinho em satisfação. Quando virei o rosto, Jake estava me encarando com a cara amassada e as bochechas rosadas. Seu cabelo estava bagunçado e ele sorriu preguiçosamente fechando os olhos.
- Bom dia, Kate!- Ele disse com a voz ainda rouca.
Deus me ajude!
- Bom dia!- Eu disse e ofereci o pacote de biscoitos pra ele- Café da manhã?
Ele assentiu pegando alguns biscoitos. Jake estava com uma camiseta azul marinho justa e uma calça jeans escura. Quando terminamos de comer, ele limpou as mãos e colocou seus óculos escuros no rosto. Chegamos à Pohatcong quinze minutos depois. Peguei a minha mochila e levantei logo depois de Jake.
- A minha bunda já estava ficando quadrada!- Jake disse quando saímos do ônibus.
Dando uma conferida básica, eu cheguei a conclusão de que ele estava errado. Muito errado. Caminhei até a lixeira mais próxima e joguei lá as duas sacolas plásticas que eu juntei com os nossos lixos. Acompanhei Jake até o balcão onde os horários dos ônibus brilhavam em um tom de verde escuro.
- Olha, tem um ônibus direto pra Coney Island. - Jake disse surpreso.
- Mas só saí às quatro horas da tarde!- Eu disse resmungando- O que vamos fazer enquanto isso?
- Conhecer a cidade!- Ele disse animado e eu logo fiz careta- Anime-se, Kate!
Depois de comprarmos os bilhetes, comemos uma pizza maravilhosa de bacalhau e eu comi dois pontinhos de sorvete de maracujá. Depois de deixar a minha mochila abastecida de balas e garrafas de água, eu comecei com a tortura de caminhar no sol.
- Acho que a gente devia esperar na rodoviária!- Eu disse pela milésima vez e Jake me olhou com cara feia- E se a gente acaba se perdendo?
- A gente não vai se perder, Kate! Não vamos muito longe, e caso a gente esqueça o caminho de volta, pedimos informação para alguém!- Ele disse enquanto passava o braço pelos meus ombros- E além do mais, eu vou saber o caminho de volta sem problema algum, nunca me esqueço de um caminho.
- Tá bom, Sr.GPS!- Disse empurrando ele pra longe.
Prendi meu cabelo em um coque e apoiei uma das garrafas na bochecha tentando amenizar o calor. Quando chegamos a um parque, onde algumas crianças brincavam, uma fonte com água jorrando pra todo lado me chamou a atenção. Eu queria muito me atirar nela. Jake sentou em baixo de uma árvore e eu larguei a minha mochila ao seu lado. Aproximei-me da fonte, dez vezes maior do que eu, e senti os respingos da água refrescar o meu rosto.
Sentei perto dela me sentido muito melhor e olhei para o Jake que estava com o seu caderno de desenho no colo. Ele substitui seus óculos escuros para os de grau e começou a desenhar. Fiquei pensando em como seria se ele não estivesse indo para Coney Island também. Nós teríamos nos separado em Pitsburgo? Acho que sim. Na verdade acho que o fato de conhecer Nathan, nos aproximou mais. Como quando ele se ofereceu para dividir o quarto comigo por causa daqueles homens, talvez ele só tenha feito isso porque sabia que o irmão ficaria bravo com ele caso acontecesse algo comigo. Mesmo assim, o fato de que ainda vou vê-lo depois que esta viagem acabar me deixou animada. Quando conheço alguém, eu sempre costumo demorar muito para confiar e considerar um amigo. Mas com Jake foi diferente, desde o início foi fácil e agradável manter uma conversa com ele. E o fato de ele ser muito bonito, só contribuiu.
Senti minha pele arder por causa do sol e decidi que já era hora de ir para a sombra. Quando sentei ao lado de Jake, peguei a minha câmera e tirei algumas fotos de onde estava mesmo. Fotografei uma senhora dando migalhas para alguns pássaros, as crianças correndo com seus brinquedos e outras com as suas bicicletas, alguns casais caminhando de mãos dadas, a fonte e Jake desenhando como sempre. Quando guardei a câmera, ouvi o barulho de uma câmera e vi Jake com o celular nas mãos. O bastardo mostrou uma foto minha e riu quando eu fiz careta.
- Vamos tirar uma foto juntos, Kate!- Ele disse e antes que eu pudesse negar colocou a mão sobre a minha boca- Sem protestos, Katherine.
- Eu não ia protestar!- Menti.
Soltando o meu cabelo, eu me aproximei assim como ele. Jake encostou o rosto no meu e eu sorri. Depois que ele me obrigou a tirar cinco fotos, consegui fazer com que ele guardasse o maldito celular. Gosto de fotografar e não de ser fotografada. Jake voltou a desenhar e eu me deitei na grama. Eu estava com muita saudade da minha cama.
- Kate? Vou comprar lápis e borracha no outro lado da rua e já volto!- Jake disse e eu abri os olhos para encará-lo.
- Tudo bem.
Fechei os olhos novamente e fiquei concentrada no som dos pássaros e nos gritos das crianças. Eu sempre quis ter um irmão mais novo. Sentei na grama e peguei minha mochila. Vi que Jake já estava se aproximando então me levantei. Decidimos que era melhor voltarmos já que o ônibus sairia daqui à uns quarenta e cinco minutos. Fomos conversando o caminho inteiro. E Jake se gabou o tempo todo por saber como voltar enquanto eu não fazia ideia de onde estava. Quando chegamos à rodoviária, eu corri para o banheiro e tomei um banho gelado. Substitui meu short por uma calça jeans e minha regata por uma camiseta da Islaney que o Nathan me deu no natal. Enquanto penteava meu cabelo, me senti triste, pois esse seria o último ônibus. Quando saí do banheiro, Jake estava encostado na parede ao lado dos telefones públicos. Seu cabelo estava molhado e ele estava vestido com uma calça jeans e uma blusa preta lisa. Parei na sua frente segurando as alças da minha mochila e ele sorriu.
- Então era pra você essa maldita camiseta?- Ele perguntou e eu ergui as sobrancelhas.
- Foi você que fez?- Eu perguntei e ele assentiu- Vou fazer uma lista das camisetas que você tem que fazer pra mim!
- Tudo bem!- Ele riu e começou a procurar algo na mochila.
- Quer ajuda?- Eu perguntei quando ele começou a xingar baixinho.
- Já achei!- Ele disse me entregando um saquinho de veludo roxo e eu o olhei confusa- Abra Kate, é um presente.
Dentro do saquinho tinha uma corrente prateada com um pingente simplesmente muito fofo. Era uma xícara de café e o vapor tinha o formato de um coração.
- Deus!- Eu disse balançando a corrente- Isso é muito fofo, Jake!
- Vi isso quando estávamos indo até o parque e eu lembrei que nos conhecemos por causa de uma xícara de café- Ele disse colocando a corrente no meu pescoço- Pensei que seria um presente legal!
Essa é definitivamente a coisa mais legal que eu já ganhei. Sorri pulando no seu pescoço e ele me abraçou de volta apoiando o queixo no meu ombro.
- Tem mais uma coisa, mas essa não é tão legal assim!- Ele disse e me entregou um papel dobrado no meio- Mas quero receber outro abraço do mesmo jeito!
Abri o papel e involuntariamente um sorriso. Era o desenho de uma garota com uma jaqueta de couro escorada num balcão e uma senhora sorridente do outro lado dele. Reconheci de cara o desenho, éramos eu e Gia na sua lanchonete.
- Meu Deus, Jake!- Quis chorar com tanta delicadeza, mas apenas me contentei em abraçá-lo novamente- Obrigada!
O ônibus chegou assim que nos separamos. Guardei meus presentes na mochila e entrei no ônibus com Jake logo atrás de mim.
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Highway || Gregg Sulkin
Teen FictionKatherine Baker Adams Herdeira de uma família rica, aparentemente ela sempre teve tudo que quis. Só aparentemente mesmo. Talvez por muitas vezes se sentir sozinha, Katherine sempre gostou de conhecer pessoas novas e se tornou uma boa ouvinte. Histó...