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Quando o ônibus parou para abastecer, eu avisei Jake que iria até o banheiro e desci junto com algumas pessoas. O banheiro não era nada atraente, mas pelo menos tinha papel higiênico, o que eu considerei um milagre. Passei pela loja de conveniências e comprei duas garrafas de água. Quando saí da loja, Jake estava parado do outro lado do posto conversando com uma garota ruiva com o uniforme do local. A garota estava digitando algo no celular quando Jake me encarou e moveu os lábios em um "me ajuda" silencioso. Eu ri e me aproximei pensando no que fazer.

- Você pode me emprestar o seu celular?- A garota disse jogando o seu cabelo para o lado- Eu posso adicionar o meu número.

- Ah! Infelizmente ele não pode te emprestar o celular- Eu disse abraçando Jake pelo pescoço- Nós quebramos ele ontem à noite. Não é amor?

Ele assentiu e eu sorri sugestivamente pra ela. Quando o bastardo do Jake colocou as mãos na minha cintura a garota ficou tão branca que eu cheguei a pensar que iria desmaiar. Ela abriu a boca várias vezes tentando falar alguma coisa, mas nada saía.

- É melhor a gente voltar para ônibus, amor.

Ele disse e eu olhei mais uma vez para a garota. Aparentemente sua cor estava voltando ao normal, ela respirou fundo e começou a lavar o vidro de uma das janelas como se nada tivesse acontecido. Jake pegou a minha mão me guiando de volta ao ônibus. Vi que não tinha mais necessidade de ficarmos fingindo e então tentei soltar a minha mão lentamente, mas ele não a soltou. Tentei puxar delicadamente mais uma vez, com um pouco mais de força encarando o seu rosto, mas ele apenas apertou mais a minha mão. Me olhando pela visão periférica, ele deu uma risadinha sacana.

Chega de sutileza!

Juntando forças, eu rolei os olhos puxando a minha mão bruscamente. Ele riu e entrou no ônibus arrumando os seus malditos óculos escuros no rosto. Voltei para a minha poltrona assim como ele, peguei uma das garrafas de água e joguei outra no colo do bastardo que abriu um sorriso largo.

- Quanta gentileza, amor!- Ele disse e eu mostrei o dedo do meio- Tão meiga, você é uma fofa!

Fiz careta pra ele e bebi um pouco de água. O sol estava torrando os meus neurônios através da janela.

- Obrigado por ter me salvado, Kate. Aquela garota já estava me dando medo.

- Por que você saiu do ônibus?

- Você estava demorando, achei melhor checar- Ele disse e eu ergui uma das sobrancelhas- Se você estava comendo algo e não queria dividir.

O ônibus começou a balançar novamente e eu achei melhor ignorar esse comentário ofensivo e guardar a garrafa antes que acabasse me molhando.

{...}

Hershey era uma cidade simples e aconchegante. E o melhor dela é que tinha vários horários de ônibus. Quarenta e cinco minutos depois de chegar à cidade, de tomar banho e nos alimentar eu e Jake já estávamos em um ônibus para Pohatcong, Nova Jersey. Jake me mostrou o nome de Nathan brilhando na tela do seu celular e logo aceitou a ligação. Eles conversaram por um tempo até que Jake disse que alguém queria falar com ele e me passou o celular.

- Oi Nathanael!

- Kate?- Ele disse surpreso e eu ri.

- Eu mesma!- Eu disse e ouvi ele soltar um "o"- Pesquisando sobre a sua família Sr.Davis, eu descobri onde estava o seu irmão. Naturalmente fui até ele e me dei conta de que roubar o celular dele não era o suficiente. Então resolvi que um sequestro seria o único jeito de conseguir uma ligação, visto que não recebi nenhuma o verão inteiro.

- Desculpe Kate! A Islaney está com a agenda cheia e sem a minha morena aqui, você sabe que eu fico perdido- Ele riu- Mas você sabe que eu te amo!

- Você ama mesmo é as fotos que eu tiro de graça!- Eu disse dramatizando- Cansei de falar com você Nathanael, vou devolver o celular pro Jake.

- Tchau, drama Queen!- Ele riu novamente- E eu te amo de verdade Katherine Adams, quando voltar vou comprar um bolo inteirinho só pra você!

- Tá bom!

Rolando os olhos, eu devolvi o celular. Jake explicou como nos conhecemos e continuou conversando com o irmão. Depois que desligou, ele me mostrou algumas fotos de seus avós e eu fiquei encantada. May e Luís eram dois velhinhos adoráveis. Quando começou a escurecer, eu peguei a minha manta e nos cobri. O ônibus tinha uma pequena televisão e estava passando o filme Sem saída. Já assisti um milhão de vezes. O ônibus estava todo em silencio e acho que a maioria já estava dormindo.

- Kate?- Jake sussurrou e eu o encarei- Você sabe por que os pais da Louise não gostam da minha família?

- Eles queriam que ela se casasse com alguém de uma família tão rica quanto à deles, e não aprovam o Nathan por achar que a banda não lhe dará futuro.

- Então eles só ficam juntos na escola?

- Sim!- Eu continuei sussurrando assim como ele- Na verdade, na escola, ou na casa dos seus pais ou na minha.

- Mas os seus pais são tão ricos quanto eles, não é?- Ele perguntou e eu concordei comendo uma de minhas barrinhas- E eles não implicam?

- Nenhum um pouco, eles nunca estão em casa mesmo e acham essa atitude dos amigos completamente desnecessária.

- Então seus pais são bem legais!- Ele sussurrou alegre e eu ri.

- Na verdade, eles só não dão a mínima pra nada além do trabalho.

Ele mordeu o lábio inferior sem saber o que falar e eu sorri para tranquilizá-lo.

- Você fotografou muitas coisas nessa viagem?- Ele disse mudando de assunto e automaticamente fiquei animada.

- Muitas! Quer ver?

Ele assentiu e eu sorri. Tirei a câmera da mochila e entreguei pra ele. Jake observava cada detalhe das fotos enquanto eu o observava. Seu queixo levemente empinado, assim como o nariz, com linhas retas fazia uma combinação perfeita com o corte despreocupado do seu cabelo. Seus dentes brancos e alinhados com os seus lábios rosados e carnudos, faziam sua boca ser muito mais convidativa do que deveria.

- Não tem nenhuma foto sua?- Ele perguntou me devolvendo a câmera e eu neguei- É uma pena, você seria uma ótima modelo.

Sorri e guardei a câmera. Olhei para a televisão novamente e o filme já tinha mudado. E esse eu não fazia ideia do nome e muito menos sobre o que era. Meu palpite era que se tratava de um filme de drama mexicano, já que as pessoas eram bronzeadas e choravam o tempo todo. Lembrei da mexicana peituda que roubou a namorada do Jake.

- Odeio o México!- Ele murmurou como se lesse os meus pensamentos.

Eu apenas ri baixinho e ele sorriu fazendo uma careta engraçada. Dois filmes depois, eu já estava sentindo meus olhos pesarem. Nunca consegui fazer uma maratona de filmes ou séries, era como se eu tomasse um sonífero. Estava quase dormindo escorada na janela quando senti Jake me puxar pra perto. Ele apoiou a minha cabeça em seu peito e abraçou minha cintura. Seu cheiro de chocolate invadiu as minhas narinas instantaneamente. Abraçando o seu tronco, eu o senti deixar um beijo no meu cabelo e apoiar o queixo na minha cabeça. Torci para que o cheiro de morango do meu condicionador ainda estivesse fazendo efeito. O áudio do filme parecia cada vez mais distante, tentei me concentrar, mas o som das batidas do coração de Jake pareciam cada vez mais altas e com esse som eu apaguei.

Highway || Gregg SulkinOnde histórias criam vida. Descubra agora