Capítulo 1: Um Novo Amigo

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Não acreditei ainda quando os olhos do androide se acenderam e seus cabos de energia saltarem pela cor prata brilhante, iluminando o segundo andar. Foi apenas indicando que ele acordou, logo depois, o brilho se amenizou podendo meus olhos relaxarem e se acostumarem com a nova luz e, talvez, um novo amigo.

- Boa noite, Criadora... - Disse e eu dei a metade de um sorriso, sua voz ainda estava um tanto robótica, outra hora devo suavizar até ter o mesmo tom que o meu, um tom humano.

Ele ainda estava preso aos cabos de energia. Porém, já tinha o carregado para durar por 100 horas (bateria que dura por 4 dias e 4 horas). Pensando bem agora, não entendo como a Life Shine consegue fabricar coisas incríveis assim, não acredito nem que eu montei esse ser.

- Boa noite... - parei pra ver que ele não tinha um nome ainda, ao invés de dar um nome para ele, pude dá-lo um presente que espero que nunca se esqueça quem deu: A inteligência artificial. E, agora pode ser até parecido comigo, ele já era, graças ao lembrar de como era meu irmão e ter posto os dados dele na cabeça desse androide que... Só está o metal, ainda não pus pele, mas a cor dos olhos é verde assim como os do meu irmão.

 Ok, eu fiz um amigo androide capaz de me suportar e, também quis testar minhas habilidades, sem falar que queria voltar a ver um rosto familiar. De repente me sinto tão egoísta...

Sorri ao encará-lo:

- Como você quer que eu te chame?

- A senhorita não tem um nome para me dar?

- Tenho, mas quero saber a sua opinião... - Respondi inclinando minha mão pra ele. 

Sua expressão pareceu ser de espanto, então, ele estendeu sua mão e apertou gentilmente a minha, o toque mostrou que ele se interessou ao sentir pela primeira vez a sensação de frieza, porque minhas mãos estão bem frias nesse momento - também, sem aquecedor elas congelam quase que imediatamente, perdi até a sensibilidade na ponta dos dedos da mão e do pé. Admirou ao ver que minhas mãos era maiores que a dele, claro que seriam, ele tem o tamanho do meu irmão naquela época, fiz um Nicola de 12 anos para o resto da vida! 

Cara, por quê sou assim?

- Sou Zyder... - Falou ele finalmente. Incrível como pôde se dar um nome tão criativo, nem eu teria pensado num melhor.

- Prazer, sou Elisa. - Me apresentei, mesmo que ele já saiba. Sorriu de bom grado ao dizer meu nome me fazendo ficar um pouco feliz em tudo estar dando certo!

Fui até atrás dele e retirei o cabo ligado em sua nuca e panturrilhas, ele ainda me observava e exalei o ar que estava preso em pensar que todo o trabalho duro, naquele instante, era recompensador.

Eu parei um pouco longe dele e fiz pra que viesse até mim, Zyder parecia inseguro, mas assim que deu o primeiro passo, viu que podia andar mesmo. Foi fascinante ver o sorriso dele se abrir e ver seus dentes que consegui montar com tanta perfeição, tenho um pouco de perfeccionismo. Assim que ele chegou até mim, abri um largo sorriso e dei tapinhas no seu ombro de titânio. Seus olhos tinham um brilho ao redor do que seria a pupila, uma cor prata, que era a mesma que de seus cabos de energia á mostra.

- Você tem o mesmo olhar de Nicola. - Comentei. 

- Quem? - Perguntou e vi a curiosidade, engraçado ver como faz parecer mesmo suas expressões tão humanas.

- Uma pessoa que conheci... - Respondi sorrindo, era a verdade, mas não estava completa, Zyder não precisava saber.

Só que, por dentro, só eu sei o que estava sentido, uma profunda solidão. Isto, sei bem que nunca entenderia. Não sofro depressão por causa disso, pelo contrário, fico feliz de minha família estar em outro lugar, vivendo assim só traria mais problemas pra eles. 

Olhando agora pra ele, percebo o quão ruim isso significaria sair com ele para fora ao amanhecer ou á tarde. O certo é levá-lo de noite para colher os recicláveis para que mais coisas e objetos sejam montados, é um dos meus hobbies fazer coisas. Zyder foi um espetáculo, não dá pra ser comparado com as pequenas coisas que faço.

Sobre a parte dele sair de dia, a cidade não está acostumada em ver um androide descoberto assim, julgariam como mal-feito e com certeza reclamariam com a Residência, onde vive o prefeito da New Philadelphia. Os civis podem fazer isso se vêem um problema, e ele pode ser considerado como um, sem falar que a raça humana não presta e pode fazer várias comentários sujos sobre o Zyder, principalmente a parte dele ter o rosto de uma criança e age como uma.

- Elisa? Nós vamos colher hoje? - Perguntou e eu encarei aquela pergunta com um aperto, isso não é viver, disso tenho certeza.

- Sim, nós vamos... - Falei e dei á ele minha bolsa extra que eu guardei comigo. Dei um conjunto de roupas e o ajudei á vestir. Um moletom, uma calça simples e um par de tênis pretos para que não vissem seus ligamentos. E pra cobrir a careca, amarrei um lenço. 

- Eu pareço um humano agora, Elisa? - O encarei de cima á baixo e fiz um sinal positivo. 

Porém coloquei a mão no queixo e ri um pouco ao ver a calça quase caindo, ele precisava uma de moletom. Assim que ele tirou e pôs a de moletom vi que estava bem melhor.

- Em questão da pele e outros detalhes como o cabelo, perto do amanhecer vou te apresentar á um conhecido meu, ok? - Perguntei e ele fez que sim com a cabeça.

 O peguei pelo ombro e gentil o virei pra descer as escadas comigo, era bom ter alguém pra conversar e ao mesmo tempo praticar minhas novas habilidades, ele tossiu um pouco e me perguntei porque ele fez isso.

- Nossa, quanta poeira aqui... - disse abanando a mão na frente do rosto.

 Eu levemente estreitei meus olhos mirando-os no chão, relembrando que Nicola tinha problemas respiratórios, então era comum ele tossir em locais assim. Caramba, ele tem as mesmas peculiaridades que meu irmão. 

- Sim, cuidado para não inalar, está bem?

- Minha Criadora diz como se eu tivesse pulmões... - Indagou com um sorriso, terminou chutando uma placa de metal que seu pé havia prendido. - Que ironia, não?

sobre o que disse, ele estava certo. Eu sabia disso sim, mas não imaginei que responderia dessa forma, além do mais, por quê ficou com esse tom irônico?

- Sim, eu sei. - Respondi baixo.

Ficamos lado-a-lado andando e o vi vasculhar com seus olhos o local, o bom dele é que instalei várias coisas, como, por exemplo: lanterna, GPS de ponta, um inventário em seu corpo pra que ele pegue as coisas que desejar - não é muito espaçoso por isso dei uma bolsa pra caso precise. Dei á ele visão noturna e de calor, sem falar num sistema hacker que posso acessar e invadir as câmeras de segurança, não tenho um dispositivo de chamadas, mas tenho um androide que faz isso pra mim. Também não tenho contatos descentes assim... 

- Zyder, ligue a lanterna, sim? - pedi.

- Ok. 

- Está vendo algo interessante? - perguntei pra ele, ouvi um "click" e ele tinha mudado pra visão noturna e depois outro, seu círculo prata muda seu tipo assim que altera o modo.

- Sim, parece que há um humano por aqui... - comentou me encarando. 

Revirei meus olhos pensando que sou eu, mas tudo muda quando ele diz: - Ele está no chão nesse momento, há 10 metros de nós, seu corpo está mostrando sinais de vida, ainda.

Imediatamente entrei em choque, sentindo mau-pressentimento sobre aquilo.

Natureza Sombria: HansenOnde histórias criam vida. Descubra agora