Capítulo Um - Tequila

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Capítulo Um – Tequila

O fim de mais uma tarde deu sintacticamente a circunstância, lugar aos dias que pareciam-se eternamente estagnados em meados de Maio pela época infernal do vigorado inverno, que através das lentes – em formato meia lua – escuras de meus óculos revelaram-me raios de sol enfraquecidos de Tasménia. Infelizmente, para vários outros habitantes da maldita cidade, essa mera parte do dia, portava como significado o terror vivido desde muito, causado pelo os fora da lei. Como os odeio!, sempre os praguejava maldições infintas.

As noites frias influenciavam as ruas permanecerem desertas, como as ávidas areias das volumosas dunas de Sahaara. Os grilhões ríspida e amargamente soavam, ao acorrentarem os portões de residências, trancando-os como se fossem celas que por detrás delas só haviam reclusos inocentes, o silêncio absoluto era um reflexo do temor daquele pobre povoado. Não os julgava pela sua falta de coragem, pois as leis de Tasménia não favoreciam o bom trabalho efectivo da polícia, para dos males protegerem a sua ainda pertencida, cidade. O som de fundo proveniente dos bares que não dispensavam suspeitas policiais – talvez por instinto de um bom agente – ambientavam as mórbitas e estreitas ruas. Nem mais os pontos e esquinas de prostituição eram nessa hora frequentados, antes de tudo, as personalidades envolvidas nesse meio, também eram humanas, e temiam as crueldades que as ruas estreitas e sombrias eram submetidas pelo crime. E os relinchos dos pneus da máfia soberana conhecida já por todos, inclusive pelo MIIT – Ministério do Interior de Tasménia, eram os únicos sons que violavam o código de estrada e disso mesmo assim, saíam sempre impunes.

Fora do meu expediente em nada podia intervir. As leis absurdas eram as únicas que impediam qualquer outro agente policial, que com afinco e convicção, realizava as suas juras, promessas de formatura. No entanto, as garrafas de tequila eram sempre o meu consumo habitual, nos bares da praça, como refúgio e consolo as minhas frustrações de mais um acumulado maldito dia do trabalho, que mais ficava enfadonho sem nenhum caso novo por resolver, pois já foram-se muitos arquivados. Os criminosos ganhavam sempre e isso aborrecia-me à mim e ainda mais o John!

Só assim, podia encarar os criminosos que o mesmo ar que respiravam comigo, sem mostrar o meu distintivo policial, que em ouro puro cravado estava o símbolo da já desrespeitada Nação Tasmeniana, e ordenar suas mãos ao alto e com todo orgulho disfarçado na minha voz rude, acompanhá-los até àquilo que chamamos cela. As leis sempre foram bem rígidas – de forma bastante superficial, para quem não as conhecia em concreto – e ainda assim, os crimes lhes foram implacavelmente proporcionais.

Mas não é por aí que as minhas lamúrias param acerca desta perdida cidade. O facto de portar uma Taurus, com os cartuchos preenchidos, e um distintivo policial grudado em qualquer parte da roupa, não era suficiente para os vagabundos respeitarem os agentes, ainda mais uma mulher, que nela viam apenas olhos castanhos claros, pontas de cabelos tingidos por um falso loiro, de silhueta que assemelhava-se à um cipestre, de faces empalidecidas quase sempre e as rugas que sobressaíam-se debaixo dos olhos que pediam por oito horas muito bem dormidas, como eu. Porém quando tal acto costumeiro, por eles posto em prática, minha audácia e coragem correspondia-os a altura – ou mais que isso – , graças ao recrutamento para o pessoal militar que consistiu em treinamento estupidamente árduo. Os fracos, nunca tinham lá espaço, ou então à porta da academia deixavam fluir ao chão firme, tal epígrafe.

Disso sempre esperei, quando ainda uma miúda, ouvia os relatos de passados episódios da – amaldiçoada pelo perfeito crime – cidade, vividos de própria experiência do antigo xerife George Salazar, meu velho. Que para ele, essa amarga realidade era demais para a sua pequena Hinata, que aos seus olhos, lhe eram o mais precioso tesouro em toda sua longa vida. Eduarda tamanha razão, ao resmungar com alvura de sua voz, tinha que da hereditariedade, a relutância paternal, em minhas veias corria.

Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora