Capítulo Oito - A carne é fraca (parte 3)

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Deparava-me já com a fachada frontal, complementada pelo capim que estava acima da média, e um auxiliar para a pouca beleza desta, a aprência de renitência que se estipularia em pouco tempo depois de uns bons anos. Nunca dei-me tempo para cuidar da aparência de minha própria casa, se nem da minha aparência cuidava.

Bati com a porta do sedã, certificando-me da segurança. Logo após seguindo para casa cantarolando aos assobios, devido a companhia do desfecho da noite carregado debaixo do braço.

Um mero suspirar que não fosse meu era mais que suficiente para cessar os assobios e pôr-me de olhos atentos ao redor, porém torcendo para que a suspeita relutante correspondesse somente ao fruto de minha imaginação ou então os efeitos da nicotina desfrutando-se de meu cérebro.

Tornei a seguir com a minha trajectória. Por eufemismo pus a mão em cima do coldre. Novamente, infelizmente, vultos sondavam-me pelas costas, e dessa vez acredito ter visto alguns diante de minha visão, que talvez já não estava exercendo impecavelmente suas funções. Sentia os nervos a penetrarem-se pelas entranhas e subindo-me a cabeça jogando minha sanidade à beira da loucura, concretamente, ao abismo.

Mal conseguia contrair a bexiga e recompor a postura, pois formara-se uma considerável quantidade de urina, que se mais algum medo – ligeiro – se apoderasse de mim, sem dúvidas algumas mijaria nas calças.

E o grande factor de meu medo, remexeu-se entre o arbusto do outro lado da rua, revelando-se inofensivo – totalmente – com o mesmo olhar assustado que eu tinha. Mas de imediato o felino, pôs-se a andar para concluir com seus feitos, somente possíveis com o cair da noite. Até sorri de canto, com tanto esforço, envergonhada, por criar aquele misto de suspense, para triunfar a fuga de um gato vadio.

Com o medo distante da posse de meu consciente, tornei a seguir despreocupada, sacando o molho de chaves. Cheiro inconfundível, unificou-se e uniformizou-se em meu olfacto, originando um espanto meu e o derrame da aguardente que pura e simplesmente deslizou-me por debaixo do braço.

- PORRA! - gritei bradifasiamente.

Granter, tinha o mesmo sarcasmo expresso naquele misterioso e mafioso sorriso. Seus tragos lentos e prolongados implementavam algum esfinge, fazendo mesuras desnecessárias, sendo lisonjeado por um magnífico relâmpago.

O medo, tornou a laçar meu consciente, porém uma desconhecida sensação de adrenalina, pela segunda vez naquele dia, fez-se o centro dos meus sentimentos.

- Que merda, pensas estar tu a fazer aqui? - ao notar os ampliados cacos do vidro que desfazia-se da bebida, posicionei-me a recolhê-los, apressadamente.

- Eu não me atreveria a falar assim, logo agora!

Imensas vezes questionara-me donde extraía ele tanto sarcasmo para lhe fazer de uma marca pessoal? O ultimato dos céus, deixou cair suas águas, em abundância.

Recolhidos os cacos possíveis a apanhar-se, encontrei o homem estático sem mexer um músculo se quer, e imediatamente já me perguntava à que se devia sua presença, ali e porque.

- Quem pensas que és, afinal? - o rosto desdenhoso.

Abriu-me um sorriso mais sincero, encarando de perto minhas feições ruborizarem por conta das correntes frias e as descargas eléctricas que trepavam-me pelas costas.

- Não há muito para se dizer agora. - sem hesitar afagou meu rosto.

Intervi com uma punhalada de cacos em cheio contra seu rosto, que consequentemente abriu um riolito próximo a sua têmpora máscula. Murmurou um grito transparecendo sua dor.

Confirmou, olhando sua palma banhada, o ferimento, franzindo o sobrolho e desarmando o punho envidrado, porém deixando lá também alguma racha que suscitou algum derrame do líquido avermelhado e viscoso, gotejando no soalho, frente à porta.

- Porra! - olhava para a mão ferida.

Sua mão ensaguentada, impediu que continuasse, selando minha boca, bruscamente. E nossos corpos ganharam maior gravidade, e senti sua respiração atravessar a pele de meu pescoço. E antes que o pudesse golpear pelas costas, pousou a outra mão sobre o coldre, ameaçando as consequências de meu intuito. Percorreu, o comprimento do pescoço fazendo uma pausa no lóbulo de minha orelha.

- A porta...

Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora