Capítulo Nove - O improvável acontece (parte 1)

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Feliz ou infelizmente a realidade assentou-me o consciente.

Seu peito enchia e retornava a sua estabilidade enquanto minha mão pousava sobre ele. E por vezes sentia-lhe o indicador tomar algumas mechas de cabelo em torno de si. Até que um dado momento encheu o peito novamente, dessa vez com a maior quantidade de ar possível angariar da atmosfera.

- Não posso explicar agora porque tenho uma identidade falsa, mas garanto que são por razões justas. - falou calmamente.

Subi o olhar para ele encontrando uma aura de sinceridade, suspirando por fim libertando todo carbono produzido para feitos de sua tomada de coragem.

- É de se referir que não me transmite confiança, detective. - retruqui com voz abafada.

A pigmentação dos berlindes esverdeados dissiparam-se, aglomerando-se na cabeça, escapando alguns rubores em suas faces, porém mantendo a calma. Remexeu-se algum bocado, desinstalando minha posição. Despreocupadamente elevou o polegar e tomou-me o queixo.

- Confiando ou não, não há que meter o dedo naquilo que envolve minha pessoa.

No entanto, apoderou-se aí o sarcasmo misturado à uma agravada seriedade em suas feições, de tal modo que frisou a frase em duplos sentidos, interpretados, mentalmente, por mim.

- Sabe que não lhe vou deixar a sombra descansada, Granter. - apoiei a cabeça inclinada para o lado sobre a mão.

- Se estiver disposta a arcar com suas consequências...

Fora suficiente para dar-me por ameaçada pelo homem, que num pulo saiu entre as cobertas e pôs-se a vestir suas calças, com tal eficiência meio que desajeitada.

Contorci os cantos dos lábios, e voltei a içar uma ironia.

- Creio que esteja a fazer uso da verdade límpida e crua para prestar indícios de algum futuro pouco próspero.

Contornou o perímetro da cama, dispondo-se ante mim, obrigando um erguer de minha cabeça, tomando novamente, meu queixo, pelo eufemismo da nossa pouca intimidade.

- O fogo queima. - e pousou um selo de seus lábios no canto superior de minha cabeça.

Antes que o seguisse por trás, já na fresta da porta, espreitou poisando um balbucio.

- Eu sigo sozinho, obrigado. Tenha uma boa noite, porque a minha não podia ter sido melhor.

Pós o abandono de sua pessoa, a chuva, finalmente, pareceu dar alguma pausa, e como guarda, um céu de madrugada acinzentado. Alguns filetes da iluminação nocturna, passara-se apenas meia hora que penetravam o quarto, acompanhado de tragos que dava depois da hospedagem de Granter, ou, até ouvir o telefone que dispunha-se na sala de estar. Com os desejos mundanos satisfeitos, nem privei-me de sorrir histericamente por lembrar da última vez que sorrira de tal modo.

Desenguanchei-o lerdamente e grudei-o a orelha, emitindo alguns soluços interrmpidos por fungos do outro lado da linha.

- Alô!

Uma outra vez ouviu-se a mesma sequência despertando suspeitas de alguma tragédia.

- Julie?

- "Oh meu Deus!" - exclamou pouco convicta.

- O que aconteceu?

- "Eu... Oh céus. Perodai-me por favor." - suas palavras estremeceram - "John!"

- O que tem John, Julie? - acentou-se a gravidade de minha voz tornando os olhos esbugalhados consequente de uma dedução rápida. - Onde estás?

- "Eu envenenei-o..." - a onda do pranto e dos soluços da mulher desesperada, afundou sua fala.

- Onde estás Julie? - tornei a insistir.

- "Ah nesta porcaria de hospital."

Porcaria de hospital e único em toda a reduzida superfície tasmeniana, quase que no fim da cidade.

Gritos Aos Ventos De Tasménia (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora